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‘Será que vivemos em uma cultura espelho, em que contratamos pessoas iguais a nós?’, diz gerente do Google

09 mar 2022, 17:24 - atualizado em 09 mar 2022, 17:24
Lisiane Lemos
Líder em transformação digital, com passagem pela Microsoft e, atualmente, é gerente do Google, Lisiane Lemos conta suas perspectivas sobre carreira (Imagem: Divulgação/Paulo Barros)

O mercado de trabalho tem suas características arraigadas e certos vícios e, por isso, algumas áreas ainda são menos acessíveis às mulheres. Uma área que entra bastante neste contexto é a de tecnologia.

Mesmo em crescimento acelerado, o setor ainda tem desafios para superar, principalmente no que diz respeito à participação feminina.

O segmento, mesmo sendo ligado à inovação e desenvolvimento, tem dificuldade em inserir as mulheres, principalmente em cargos de liderança.

Segundo uma pesquisa da Catho, somente 19% da área de tecnologia é composta por mulheres e elas ganham, em média, 11% menos que os homens.

O levantamento também revela que em alguns cargos, como engenheiros de sistemas operacionais em computação e gerente de desenvolvimento de sistemas, a disparidade é ainda maior, e as mulheres chegam a ganhar, respectivamente, 33% e 18% menos que os homens.

Os dados da pesquisa também mostram quais são os 10 cargos com a maior discrepância de valores de salários, o que joga luz à desigualdade de gênero dentro da área de tecnologia.

Tabela Catho
Para ilustrar a desigualdade de gênero na área de tecnologia a pesquisa da Catho separou os 10 cargos com a maior diferença de valores de salários (Imagem: Reprodução/Catho)

Saiba como consultar a diferença salarial entre homens e mulheres nas empresas

Contrariando o status quo, Lisiane Lemos, especialista em transformação digital, conta como é ser uma liderança no segmento.

Lisiane é gerente de Programas de Recrutamento de DE&I LATAM, no Google (GOOG; GOOGL) e advogada. É, também, líder em transformação digital e tem passagem pela Microsoft. É hoje gerente de Programas de Recrutamento de Diversidade, Equidade e Inclusão LATAM, no Google.

Ela está à frente dos projetos Rede de Profissionais Negros, Conselheira 101 e Comitê de Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil.

Sucesso, propósito e liderança feminina

Para a gerente do Google, sucesso é saber o que te faz feliz no campo profissional, trabalhar com isso e equilibrar com a vida pessoal.

Ela entende a importância de ser mulher em um cargo de liderança e entende isso como um compromisso e desafio. “Sei que tenho um papel de representar e inspirar outras pessoas. Pessoalmente, estou sempre buscando superar a mim mesma”, afirma Lisiane.

O Dia Internacional da Mulher celebrado na última terça-feira (8) também é uma data importante, que ajuda a alimentar as discussões sobre mulheres e mercado de trabalho.

Se for um dia que fomenta a reflexão e alavanca dos planos de carreira das mulheres, pode gerar impactos reais dentro das empresas.

“Temos que acelerar exponencialmente a jornada para atingir igualdade de forma equitativa, então elas são necessárias”, diz.

Para reverter o atual cenário pouco inclusivo, a especialista aconselha a encarar a realidade de frente. “A discussão não é recente e precisamos avançar muito”, diz.

Para ela, algumas ações podem ser tomadas neste sentido:

1. Mapear quantas mulheres temos em todas as camadas da organização. “Precisamos construir um pipeline de sucessão crescente e garantir condições para que essas mulheres permaneçam”, avalia.

2. Entender a mentalidade das pessoas que estão na liderança, independente do gênero. “Temos várias gerações vivendo ao mesmo tempo no ambiente corporativo, com mentalidades desenvolvidas de uma forma diversa. Ainda que eu considere um fator maravilhoso, a diversidade de pessoas e o que trazem, pode ser uma armadilha se o pensamento não evoluiu junto com a sociedade. Será que vivemos em uma cultura espelho, que contratamos pessoas iguais a nós?”.

3. Preparar as mulheres. “Não fomos preparadas para sentar nessa cadeira. Precisamos dar as ferramentas, mensurar, acompanhar e acolher essas pessoas. E o futuro? Eu gostaria de prever, mas eu escolhi construir o futuro. Eu compreendo que temos um papel de liderança, seja por influência, seja pelo caminho desenvolvido com aliados, e, por isso, estamos mudando”.

Mulheres
A gerente do Google foi reconhecida como uma das jovens mais influentes pela Forbes Under 30 e atribuí a conquista, entre outras coisas, ao trabalho coletivo (Imagem: Womanizer Toys/Unsplash)

Mulher referência no que faz e sua receita para o sucesso

Em 2017, Lisiane foi reconhecida como uma das jovens mais influentes do país abaixo dos 30 anos pela Forbes Under 30 que destaca anualmente, desde 2014, alguns dos mais brilhantes empreendedores, criadores e game-changers de até 30 anos que revolucionam os negócios e, de alguma forma, transformam o mundo.

Para ela, esse reconhecimento é fruto de um processo coletivo: “O reconhecimento é individual, mas o trabalho é sempre coletivo, envolvendo os muitos aliados que encontrei ao longo da jornada. No meu caso, entendo que ter feito as ações focando nos beneficiados e não na premiação”.

“A premiação é sempre uma consequência e um endosso de que estamos indo no caminho certo, mas ela não pode ser a finalidade”, afirma Lisiane.

Sua receita para o sucesso é certeira: ela acredita que para alcançar os objetivos traçados é importante ter clareza do que se faz bem e do que deve ser desenvolvido. Além disso, respeitar a companhia, seus valores e ser sempre ética.

Outro tópico importante que a especialista destaca é um conselho que lhe foi dado por seu gestor, o de guardar sempre 20% do salário.

Dicas profissionais são como conselhos de mãe

Quando se trata de carreira, dicas são sempre válidas. E quando se trata de conselho de mãe, é bom ouvir com atenção.

Para Lisiane, as premissas se encontram. E especialista aconselha: “siga o que sua mãe disse: não seja todo mundo. Aprenda coisas diferentes que aumentem seu repertório”.

A gerente do Google cita como exemplo sua última inquietação profissional: “minha última ‘invenção’ foi uma certificação em gestão da mudança para que eu possa aplicar em diversidade e inclusão. Conheci esse assunto no mundo da tecnologia, onde comecei minha carreira”, afirma a gerente.

Ela não para por aí. Sua busca é constante: “também vou em dois festivais de inovação e cultura, procurando palestras que não tenham nada a ver com o meu trabalho”, diz.

Estagiária
Formada em Gestão de Negócios e Inovação pela Fatec Sebrae e, atualmente, estudante de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. Tem como propósito atuar visando os princípios éticos do jornalismo com comprometimento com a informação de qualidade e o combate à desinformação.
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