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Sidnei Nehme: Agosto poderá iniciar trimestre de redução de ritmo do mercado. Postura defensiva!

31 jul 2018, 11:22 - atualizado em 31 jul 2018, 11:22

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

O mês de agosto poderá ser um marco divisório na dinâmica dos principais segmentos do mercado financeiro brasileiro.

O trimestre próximo – agosto a outubro – sugere não um desalento, mas cautelarmente postura defensiva evidenciando sensatez ao longo de um período de extrema relevância para o país.

Perduram muitas dúvidas e incertezas no entorno do evento importantíssimo que é a sucessão presidencial e renovação do Congresso nacional, tendo em vista que o país atravessa ainda grave crise econômica, com ênfase a crise fiscal, registrando expressivo desemprego, dificuldade consequente de recuperação de renda e poder de consumo, e que urge por ter novas diretrizes que possam proporcionar expectativas críveis de reversão e recuperação do “status quo”, que por enquanto não são perceptíveis nas plataformas dos candidatos.

O mês começa com eventos relevantes no cenário nacional e mundial.

Por aqui, o COPOM define amanhã a taxa SELIC e não se esperam novidades, sendo praticamente consensual que a taxa será mantida em 6,50% aa, com o BC mantendo a sua diretriz na política monetária, mas não assumindo e nem insinuando o passo seguinte, que estará sempre, como deve ser, condicionado aos fatos futuros.

Amanhã também haverá a decisão do FED sobre a taxa de juro básica americana que deve ser mantida entre 1,75% a 2,0% aa, mantendo a perspectiva de mais duas alterações, contudo os fatos novos decorrentes das decisões americanas no comércio internacional, que podem impactar onerando produtos americanos e podem suscitar questionamentos sobre os efeitos recessivos consequentes. Relevante observar que o desempenho do agronegócio americano foi o carro chefe do crescimento de 4,1% do PIB, mas que pode ser fortemente atingido pelas intempestivas atitudes do Presidente Trump. Deve merecer atenção também o crescimento ocorrido na taxa de desemprego que evoluiu de 3,8% para 4,0%, quando a expectativa era de queda. Enfim, há fatos novos que podem determinar mudanças.

Hoje o Banco Central do Japão toma decisão sobre juros e na quinta feira será a vez do Banco Central da Inglaterra (BOE). Restarão expectativas em torno do Banco Central Europeu e que tem peso no mercado internacional, visto que pode afetar a liquidez.

Quanto aos encontros e desencontros dos conflitos comerciais a partir das atitudes americanas ordenadas por seu Presidente, a relação causa e efeito deverá demandar tempo para que sejam avaliadas as consequências e suas repercussões efetivas sobre as economias emergentes, que tendem a ser no confronto do mais e menos negativas. O Brasil começa com vantagem no comércio da soja, mas há muito que poderá impactar negativamente e os efeitos deste novo cenário conflituoso mundial ainda demorarão para serem precificados.

Então, acreditamos que neste período o setor produtivo no Brasil estagnará seus investimentos como contração natural em tempos de dúvidas e incertezas, e isto em cadeia atinge a geração de empregos, aumento de renda e consumo, e, certamente terá repercussões na arrecadação de tributos por parte do governo, que mantém a incessante propensão a gastar mais do que arrecada, como se viu pelo número mais recente, que não incluía as despesas com juros.

As tendências como consequência ficam comprometidas pela incerteza quanto ao momento futuro, isto numa visão rigorosa, já que anseios e ilações sempre haverá e fomentarão as projeções, que devemos considerar bastante inseguras.

Então, se a SELIC vai ser mantida no ano é neste momento um anseio, mas não uma convicção. Da mesma forma, o comportamento da inflação que teve a alta recente dada como pontual devido a greve dos caminhoneiros, mas e se não foi só isto mas a liberação de algo que estava represada só saberemos na sequência.

A Bovespa deverá passar por acomodação ou até retração com uma perda de atratividade por parte dos investidores estrangeiros, mesmo os especuladores, até que se tenha uma visão clara sobre as efetivas perspectivas para o Brasil do novo governo.

Os economistas dos banqueiros ousaram em projetar que o Brasil retome o grau de investimentos em 3 anos, mas esta hipótese tem probabilidade quase nula, pois o país está 3 graus abaixo do de investimentos e tem um quadro que sugere este prazo para se “colocar de pé” no mínimo para depois “começar a andar e lentamente”.

O dólar que tem no seu entorno um acentuado volume de posições focando sua depreciação ou apreciação demonstra neste momento volatilidade. Vendidos e comprados em dólar futuro, cupom cambial e swaps cambiais se defrontam buscando colocar a moeda no preço que atenda melhor suas conveniências, mas isto não constitui e nem constrói tendências.

A moeda americana, no nosso ponto de vista, parece ter o ponto de equilíbrio no entorno de R$ 3,80, com eventuais picos até R$ 3,95 agora bastante improváveis afora acontecimentos imponderáveis graves, e a sua queda abaixo de R$ 3,70 foi atípica e forçada pela tentativa de reversão de posição dos comprados e estimulada pelos vendidos.

Mas como temos salientado entendemos que o preço de R$ 3,80 é fundamentado em todas as precificações necessárias e presentes, por isso sustentável e que deve ser recuperado nos próximos dias.

Mudança para mais ou para menos deslocando este eixo somente após as eleições.

Esta visão consensual desautorizou apostas otimistas que vislumbraram o retorno do dólar aos R$ 3,30 anterior e a ida a R$ 4,50 ou até exageradamente como previsto por um número mínimo de consultorias até R$ 5,50.

A realidade é que o Brasil, a despeito de sua situação crítica na economia e política fiscal, com intranquilidade política e insegurança jurídica, tem nesta oportunidade um quadro que lhe assegura não ter risco de crise cambial e a correção havida ao longo do ano foi pontual para adequar o preço a sua nova realidade o que é imponderável e não sensível a intervenções do BC, que a rigor está apto a promover liquidez caso haja demanda por proteção, o que já fez até em excesso, ou demanda no mercado a vista, que está por vir.

O grau de incertezas na economia brasileira permanece elevado desde final de fevereiro. O IIE-BR da FGV (índice de incerteza da economia) recuou 8,3 pontos entre junho e julho, ficando em 116,8 pontos, mas o indicador permanece no âmbito da incerteza elevada (acima de 110 pontos). Acreditamos que este contexto predominará ao longo do próximo trimestre (ago-out) e alterações só ocorrerão com novas perspectivas pós eleições, para pior ou para melhor.

Enfim, o que esperamos é um hiato, um interregno, de 3 meses em que deverá predominar muita observação e pouca ação, e isto se refletirá no volume de negócios e posicionamentos.

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