Dólar

Sidnei Nehme: Bancos estão “square” em suas posições e mercado está sobreprotegido! E agora?

21 jun 2018, 7:20 - atualizado em 21 jun 2018, 7:20

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

O COPOM manteve a taxa SELIC, mas a rigor já há indícios claros de impactos inflacionários advindos do impacto do preço elevado do dólar na economia, evidenciados nos IGPs e IPCs, salvo IPCA, o que conspira para a convicção de que não haverá novo aumento da taxa SELIC na próxima reunião.

Há clara percepção de que os passivos em moeda estrangeira devem estar protegidos e que houve excesso de oferta de proteção que se prestou a instalar no mercado financeiro movimento especulativo a partir dos swaps cambiais.

A compressão da taxa do câmbio de um preço normal em torno de R$ 4,00 ou pouco mais para algo em torno de R$ 3,70/3,75 foi muito mais um movimento coordenado a partir dos demandantes do que do ofertante, no caso o BC, como emerge o primeiro juízo a respeito.

O mercado e seus agentes absorveram a expressiva oferta de contratos de swaps cambiais sem, contudo, haver alterado o viés de alta do preço da moeda americana.

Tudo leva a crer que passada esta reunião do COPOM e obtida a meta de não elevação da taxa SELIC, o BC tende a alterar a sua dinâmica de intervenção no mercado de câmbio, já que parece ineficaz ficar queimando ofertas de swaps cambiais num ambiente que está, a rigor, sobreprotegido e em que não há muito mais a ser feito do que conviver com o preço da moeda americana no patamar mais elevado e com absoluta sinergia com o “status quo” do cenário econômico com suas consideráveis fragilidades expostas e sem perspectiva de reversão no curto/médio prazos e, também, com um cenário não menos frágil e decepcionante em torno das eleições envolvendo a sucessão presidencial.

É o imponderável que imporá que a autoridade monetária conviva com um contexto com o preço da moeda americana mais elevada, absolutamente compatível com os fundamentos presentes que lhe dá sustentabilidade, atuando de forma pontual no suprimento da liquidez que tende a passar a ser exigida no mercado de câmbio a vista, onde os bancos evidenciam que estão com suas posições zeradas tanto em moeda quanto na obtenção de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra.

A inflação inevitavelmente se revelará como consequência do impacto do preço do dólar nos preços relativos da economia, sendo isto inevitável, e a perspectiva de necessidade de alta na SELIC decorrerá deste cenário, mas agora o BC/COPOM terá pelo menos 45 dias para avaliar adequadamente a realidade presente e a perspectiva.

O fluxo cambial ainda não evidencia pressão de saída de recursos estrangeiros do país, mas tudo leva a crer que os recursos que tem sido sinalizado se retirando da Bovespa certamente estão se alocando na renda fixa aproveitando a exuberância dos DIs. Mas isto, acreditamos, é transitório, o desmanche de posições dos investidores estrangeiros está no radar e tem muito provavelmente o início de julho como foco para ganhar volume.

Não nos parece razoável que o BC persista na sua inabalável oferta de swaps na crença que há demanda efetiva por proteção e com isto crie um ambiente especulativo tão intenso que o deixe refém sem alternativa do mercado e seus agentes.

A autoridade monetária precisa mesmo deixar evidente que o país, contrariamente ao que possam erraticamente pensar analistas externos, não tem risco de crise cambial, visto ter instrumentos aptos a atender demandas não especulativas como princípio e prover de liquidez o mercado de câmbio a vista para que atenda todos os investidores que queiram deixar o país.

Os riscos que temos são de natureza oriunda da fragilidade da atividade econômica sem perspectivas mínimas de reversão, crise fiscal acentuada e acentuando-se, desemprego, queda de renda e consumo, enfim um contexto muito perceptível, a ponto de o risco Brasil ser crescente e o CDS (risco de calote) flutuar atualmente no entorno de 270 pontos.

Agrega-se a este ambiente a ausência no momento de perspectiva de viabilidade na sucessão presidencial de um candidato reformista, que coloca em foco a difícil superação do quadro atual num novo governo.

Não há muito que o BC fazer a não ser assumir agora a postura que tem propagado, conviver com a tendência fundamentada sem contrapô-la, focando o suprimento de liquidez e evitando a especulação e volatilidade.

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