Dólar

Sidnei Nehme: Cena externa é secundária. Nosso problema é o tripé econômico-político-jurídico!

20 ago 2018, 11:32 - atualizado em 20 ago 2018, 11:32

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Houve até então, um esforço do mercado e de grande parte dos especialistas ligados ao mercado financeiro, incluindo-se neste contexto a mídia especializada, uma postura de evitar sancionar com maior rigor e acuidade os problemas intrínsecos do Brasil e potencializá-los nas perspectivas para este ano de 2018.

Já ao início do ano, antes mesmo da prisão do ex-Presidente Lula e depois, acentuamos sempre que o ambiente político prospectivo sinalizava forte acirramento em torno da sucessão presidencial, e que isto teria impactos no comportamento do mercado financeiro e na atitude do setor produtivo quanto a retardar decisões de investimentos, aumento de produtividade, incremento de renda que poderia acentuar a demanda, na qual se fundamentava todas as análises como fator determinante para o crescimento do PIB.

Desde aquele tempo, fatos novos só fizeram agravar os cenários e pouco foi sensibilizado pelas projeções dos órgãos especializados.

Tudo parecia inerte, intencional, por conveniência ou falta de percepção mais aguda.

A situação da economia acentuou de maneira relevante as projeções gerais negativas em seu entorno e os reflexos em torno do PIB, que ainda teve a forte contribuição negativa da greve dos caminhoneiros, a qual se debita quase tudo de ruim que ocorre, mas todos sabem que o que já vinha ruim acentuou-se e a greve não é a causa total do passivo.

A crise fiscal com a economia deteriorada ficou ainda mais drástica e coloca o risco de que a perspectiva para recuperação deste quadro caótico só venha a ter alguma recuperação após 2020, ou mais, havendo o risco presente do próprio governo não ter recursos para arcar com os seus compromissos diretos.

O real não foi desvalorizado 16% por causa da Turquia ou de outras razões externas, o foi porque a taxa de R$ 3,00 a R$ 3,30 era absolutamente incompatível com o “status quo” da economia brasileira e a expressividade da dívida fiscal do país, fato que foi pontuado pelas agências de rating que rebaixaram a nota do Brasil, e só não o fizeram novamente por terem optado por esperar a sucessão presidencial.

A greve dos caminhoneiros provocou um choque de realidade no país que assim teve que expor todas as suas fragilidades próprias, como atividade econômica em forte retração, ausência de recursos do governo para lidar com situações de emergência dada a expressividade da dívida fiscal, inflação em processo de aquecimento, desemprego crescente, queda de renda, queda de consumo, etc… O fato adicionou mais carga aos problemas mas não foi a causa de todos os males como, oportunisticamente, se tentou atribuir.

Naturalmente ficaram evidentes todas as fragilidades internas do país não precificadas no preço do dólar e então houve uma corrida por proteção cambial, que impactou na taxa futura do dólar e arrastou a do mercado a vista, colocando-as no ponto de equilíbrio fundamentado, e isto só foi possível pela ação do BC fornecendo, até de forma excessiva e intempestiva, expressivo volume de proteção cambial, através a oferta de “swaps cambiais”, estancando assim a propensão que seria natural de saída de recursos imediata do país, e sem ter ainda que ofertar linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra para que os bancos viessem a suportar a demanda no mercado à vista.

O fluxo cambial evidencia este fato com clareza. O Brasil não tem risco de crise cambial e tem mecanismos para atender demandas seja por proteção ou por demanda efetiva de moeda. Este é um contraditório na atualidade, pois o país vai mal a quase tudo, mas tem uma posição de conforto na área cambial.

Oscilações no preço da moeda americana no nosso mercado, a qual sempre se atribuem a razões externa, decorrem do estresse efetivamente interno consequente das próprias causas da situação do país.

A insegurança jurídica ganhou gradativa expressão e hoje revela imbróglios relevantes que afetam a economia e, principalmente, o quadro político sucessório.

A política que ao início preponderava o fisiologismo que impôs ao governo uma série de benesses para obter algum sucesso e causas das mais diversas, revelando que o governo estava refém do Congresso, ao adentrar o ambiente sucessório revelou todo acirramento, acentuou a insegurança jurídica que cria um ambiente mais tenso do que o esperado.

Além disto, ocorre a construção de questionamentos e colocações de ponto de vista ancoradas em grande parte em movimentos protelatórios em torno da candidatura do ex-Presidente Lula, notoriamente improvável, mas que vem se ancorando em descomunal volume de recursos tolerados pela justiça e uma ampla distorção sobre fatos. Alegações como “é um preso político” é um sofisma, pois na realidade é um “político preso por razões reconhecidas pela lei”, ou mais recentemente “determinação da ONU” quando na realidade foi tão somente um “request da ONU”, e por ai vai de forma perturbadora que enseja manchetes e convenientes interpretações.

É imperativo que o mercado não assimile as “fakes News” e nem as interpretações de conveniência.

O Boletim FOCUS com este quadro torna-se um informativo de relativa utilidade para este ano, com ressalvas, e absolutamente inócuo para os demais visto que o grau de incerteza e dúvidas em perspectiva não permite a ousadia de estimativas críveis.

Continuamos entendendo que o preço de equilíbrio da moeda americana esteja em R$ 3,80, sendo conduzida até um limite que não proporcione que ultrapasse R$ 4,00, salvo se de alguma forma o ex-Presidente Lula viabilizar sua candidatura.

Leia mais sobre:
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.