Dólar

Sidnei Nehme: Cenário BC/Câmbio não sugere intervenção, mas apreciação do real foi excessiva!

11 jul 2018, 13:53 - atualizado em 11 jul 2018, 13:53

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

O BC continua sem razões para intervir no mercado de câmbio brasileiro, limitando-se a ofertar 14.000 contratos de swaps cambiais para rolagem de posição vincenda.

Contudo, a apreciação do real na última sexta e terça feira nos parece que foi excessiva, distanciando-se dos fundamentos presentes.

Atribuirmos à cena externa parece uma justificativa inconsistente e nos leva a constatar que os dados oriundos do mercado americano que nos últimos 3 dias (sexta, segunda e terça) apresentaram movimentos muito favoráveis, conduziram o dólar a valorização frente a cesta de 6 moedas mais relevantes.

Contudo, Wall Street repercute dados da economia americana e do desempenho de empresas americanas, o que não sugere sinergia para a atividade da Bovespa brasileira, que ontem buscou compartilhar do otimismo, mas sem fundamentos concretos, cedeu e fechou no negativo.

O dólar tem um viés de alta frente a cesta de moedas em decorrência da atividade econômica americana se manter forte e com perspectivas favoráveis, e embora os dados de emprego se mantenham forte estão num ritmo que não sugere ainda pressões inflacionárias maiores, mantendo a perspectiva de mais duas correções no juro pelo FED.

O índice do dólar frente a cesta ponderada de seis divisas está hoje pela manhã em alta oscilando entre 94,04 a 94,14, e este comportamento é o normal e poderá até se intensificar dada a atratividade crescente do mercado americano aos investidores em outros mercados, em especial nos emergentes.

O fato concreto é que a apreciação do real frente ao dólar com a intensidade registrada causou estranheza, pois o Brasil nos parece que dentre os emergentes é o que tem no momento e em perspectiva o cenário mais conturbado e que tem baixa capacidade de atração aos investidores estrangeiros, que, a rigor, devem estar muito mais propensos a retirada dos seus capitais do que promoverem novos ingressos.

A economia com tendência de retração não sugere sustentabilidade de alta na Bovespa, muito pelo contrário, e o que se tem visto é a gradual, mas consistente saída dos estrangeiros do mercado acionário brasileiro, sem, contudo, ainda terem deixado o país.

O pressuposto é que os estrangeiros estejam rentabilizando seus recursos ainda no país no mercado de renda fixa, visto que grande parte ou até a totalidade está protegida com “hedge” contra eventual desvalorização cambial.

O fato incontestável é que o Brasil é neste momento um emergente diferente para pior em relação aos demais, e isto decorre do conjunto de economia fragilizada, governo fragilizado, cena política extremamente conturbada, cena jurídica com alto grau de insegurança, absoluta indefinição para o quadro sucessório presidencial, com substantivo distanciamento da população em relação ao fato.

O cenário prospectivo para o país é bastante desalentador e que suscitam dúvidas e incertezas relevantes.

Há uma acentuada tendência de queda brusca do PIB deste ano ante as projeções iniciais, considerando-se otimista algo como 1% quando ao início do ano era de 3%.

Economia em desalento não tem atratividade, não enseja melhora de perspectivas para recuperação do drástico quadro de desemprego, nem melhora de renda e consumo, e desta forma só acentua a crise fiscal tendo em vista a incapacidade do governo de conter seus gastos.

A inflação dá sinais por seus inúmeros indicadores que têm potencial para superar a meta, o que coloca em questionamento a efetiva necessidade de elevação da taxa de juro SELIC.

Indicador da FGV evidencia que a expectativa sobre emprego piora pelo quarto mês consecutivo, estando o ICD (Indicador Coincidente de Desemprego) em 97,1 pontos, em junho, contra 96,5 pontos em maio. E o Índice de Medo do Desemprego da CNI subiu para 67,9 pontos em junho, com alta de 4,2 pontos acima de março e está entre os maiores da série histórica iniciada em 1996.

Acreditamos que a partir deste mês, mais acentuadamente ao final do mês, terá início o deslocamento dos recursos de estrangeiros presentes no nosso mercado financeiro para o mercado americano, dando consistência ao “fly to Quality”.

Há um enorme esforço para dar sustentabilidade ao Ibovespa, mas a tendência é de que sofra desvalorização mais aguda.

O dólar naturalmente reverterá as inexplicáveis depreciações dos últimos dois dias úteis, visto que neste momento há todo um conjunto de fatores internos nefastos que o colocam num patamar entre R$ 3,85/3,95, e, há fatores externos que fortalecem o dólar no mercado internacional.

Além disto, se constitui ledo engano considerar que a guerra cambial entre China e USA tenha se acalmado, e hoje já temos mais evidências de que este é um embate que ainda vai longo e gerando repercussões generalizadas no mercado global. Os Estados Unidos decidiram tributar em 10% mais itens de importações da China que atingem US$ 200,0 milhões, e, naturalmente a China dará a recíproca.

O dólar recuperará preço frente ao real retomando o patamar entre R$ 3,85/3,95 e as causas são imponderáveis, razão pela qual o BC não deveria acionar qualquer intervenção por ser ineficaz, o que só deveria ocorrer caso haja movimento especulativo ou demanda por proteção, o que é improvável, ou demanda no mercado a vista, bastante provável, com sinalização de saída de recursos de investidores estrangeiros.

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