Coluna
Opinião

Sidnei Nehme: Complexidade e desinformação viabilizam ocorrência da especulação

24 set 2018, 7:29 - atualizado em 24 set 2018, 7:29

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Há inúmeros vetores de influência na formação do preço da moeda americana no mundo, e no Brasil que é um país emergente sujeito às intempéries das mais diversas origens, alguns a mais devido a fragilidades pontuais.

O câmbio habitualmente é o sensor mais rápido quando há sinais de que as coisas no país não vão bem e repercutem de imediato a sua fragilidade e vulnerabilidade perante o mundo, até porque os países emergentes, quase sempre, detém contas externas insuficientes face aos seus compromissos externos, o que os torna muito dependentes.

O Brasil em 2002 tinha uma situação de contas externas muito fragilizadas, pois até então nunca fora um país com substantivas reservas cambiais, o que o levou nas últimas décadas a ter enormes e difíceis negociações com os órgãos internacionais para financiar e refinanciar seus passivos até impagáveis em certas ocasiões.

Contudo, por mudança de estratégia o país através o aumento significativo da dívida pública, e não com superávits fiscais como seria natural, aproveitando um período muito favorável para as commodities que fomentaram grande fluxo de dólares para o país, afora o fluxo de investidores estrangeiros, entesourou um grande volume de recursos em dólares construindo soberbo volume de reservas cambiais.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Esta mudança altamente relevante, embora a custo alto pelo carregamento do passivo criado com aumento da dívida pública, promoveu um fortalecimento sem precedente na questão cambial, deixando o país numa situação de absoluto conforto e solidez, imune a ocorrência de crise cambial.

Os números deste potencial construído pelo país são disponibilizados pelo Banco Central do Brasil com extrema clareza no seu site na internet, de acesso público.

A expressividade das reservas cambiais, algo que não existia em 2002, mas que é a realidade do país em 2018, permite que o país esteja absolutamente imune a qualquer risco de crise cambial.

Valendo-se do seu lastro de reservas o BC tem operacionalizado a venda de contratos de swaps cambiais destinados a prover de proteção cambial os detentores no país de passivos em moeda estrangeira, e mais, dar liquidez ao mercado de câmbio à vista nos momentos de aumento da demanda por intensificação do volume de saídas de recursos do país.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O Brasil tem atualmente US$ 380,0 Bi de reservas cambiais, volume muito superior ao passivo do país, e tem mecanismos estratégicos operacionais para atuar no mercado de câmbio com absoluta credibilidade, sem mesmo reduzi-las em termos de liquidez internacional.

Por isso, embora o ambiente em alguns emergentes esteja confuso e preocupante na questão cambial, reservas e liquidez, o Brasil está extremamente à margem das consequências mais imediatas.

O Brasil é um emergente diferente neste quesito.

É uma situação extremamente contraditória, pois estando o país numa situação econômica bastante degradada, com reflexos diretos e negativos na questão fiscal, trabalho, renda e consumo, tem em contrapartida uma sólida posição nas suas contas externas, com déficit em transações correntes de tão somente 0,7% do PIB.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Não há quaisquer riscos de podermos ser confundidos com Argentina e Turquia e nem admitir qualquer sinergia do quadro atual com o prevalecente em 2002.

Mas a despeito da disponibilidade e acesso aos dados tabulados pelo Banco Central do Brasil, com total transparência e riqueza de detalhes, do volume de reservas cambiais que o país dispõe e a viabilidade de operações bem estruturadas para prover o mercado de câmbio, sem tensões, em todas as suas demandas, a realidade é que a grande maioria da população brasileira se nutre dos “achismos” em torno do assunto e não conhece a efetiva realidade e seus mecanismos, amplamente disponibilizados pelo BC.

Assim, acreditam em lendas e não se apercebem da realidade.

Este grau de desinformação sobre as minudências no entorno do câmbio no Brasil torna fácil a propagação de temores e situações absolutamente improcedentes, chegando ao cúmulo de requentar a visão do ocorrido em 2002 e identificar sinergia com 2018, ou correlacionar a situação da Argentina e Turquia com o Brasil, e catalisar supostos efeitos da guerra comercial entre Estados Unidos e China como promovedores de impactos imediatos no país.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Enfim, é uma gama de achismos e ilações infundadas que alimentam um ambiente predominantemente leigo quanto aos fundamentos do mercado de câmbio, que desta forma acreditam no que ouvem e desta forma, permite que aqueles que conhecem a fundo o assunto desenvolvam movimentos especulativos e crenças falsas de vulnerabilidades do país.

Então temores e tensões são fortalecidos e se cria o ambiente propício para dinamizar a especulação. E a partir o efeito “bola de neve” promove a propulsão da especulação aviltando o preço do dólar.

É neste momento que apontamos a omissão da comunicação do BC que, naturalmente, não deve intervir no mercado, pois acabaria validando um movimento sem fundamentos tornando-o crível, mas que deveria massificar suas manifestações visando esvaziar com argumentos e demonstrações de dados o movimento presente.

Então, quando os “motivos e razões” que alicerçaram os temores e tensões vão perdendo consistência e relevância como começa a ocorrer agora, o movimento especulativo tende a se deteriorar de forma gradual, ou quem sabe, podendo ser até abrupto.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Temos salientado exaustivamente que o quadro cambial do país está imune á crise cambial, já expusemos todos os números que fundamentam a afirmativa, e com base nas evidências concretas temos asseverado que seja quem for eleito Presidente do Brasil a situação cambial do país continuará imune.

Dúvidas e incertezas podem estar no radar com foco sobre a atividade econômica, crise fiscal, emprego, renda, consumo, etc., mas, no câmbio, por mais contraditório que possa parecer, o Brasil está muito bem e defendido.

Na medida em que os forjados temores e tensões utilizados para transformar o preço do dólar em sensibilizador de algo inexistente vão sendo desfeitos e/ou desacreditados, surge a insustentabilidade do quadro e então o preço da moeda americana, ainda que gradual passa a recuar.

Consideramos que o BC trabalha também com esta visão, razão pela qual não alterou a SELIC, considerando que a ocorrência do movimento especulativo sobre o dólar foi um evento episódico e que também não impactará sobre a inflação tanto quanto se vem prognosticando.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

E, acreditamos, que veremos doravante o preço do dólar voltando ao entorno de R$ 3,80.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
sidnei.nehme@moneytimes.com.br
As melhores ideias de investimento

Receba gratuitamente as recomendações da equipe de análise do BTG Pactual – toda semana, com curadoria do Money Picks

OBS: Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar