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Sidnei Nehme: dólar e Bolsa em alta, mas até quando?

18 jun 2020, 14:13 - atualizado em 18 jun 2020, 14:13
Dólar
O fluxo de capitais para os mercados emergentes em consequência dos receios em torno da pandemia poderá se revelar efêmero (Imagem: Reuters)

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

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O dólar tende a consolidar-se num patamar mais elevado, provavelmente de forma gradual no em torno de R$ 5,40 ou até pouco mais, mas a B3 (B3SA3) parece ter os dias contados de sua recuperação recente, pois o ambiente externo sugere retomada do represamento da liquidez internacional e crescimento acentuado da aversão ao risco, pois os receios com a volta do segundo ciclo da pandemia do coronavírus estão presentes e em se materializando acabará por superar os efeitos benignos dos sinais de retomada da atividade econômica de algumas economias importantes, mas pontualmente da americana.

O Ministro Guedes buscou dar ânimo ao mercado insinuando perspectiva para retomada das reformas em 60 a 90 dias, mas não acreditamos que neste prazo haja ambiente para a retomada das discussões, pois a crise ainda deverá estar muito presente, e, se voltar a ser abordado, este é assunto somente para 2021. O mercado pela conveniência de estimular preservar o otimismo, evitando uma visão mais cética a respeito do momento, “procurou comprar a ideia”, mas a sensatez indica que não é viável no tempo posto.

O fluxo de capitais para os mercados emergentes em consequência dos receios em torno da pandemia poderá se revelar efêmero e o dólar, mais uma vez, se tornará o “porto seguro”, mesmo com os juros americanos nos limites extremamente baixos.

E a segurança sabidamente se sobrepõe ao risco.

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Para o Brasil, que já não despertava atratividade pela renda fixa e que a havia restabelecido via renda variável interesse pelas ações, em especial as cíclicas, com os preços depreciados cotados em reais e mais acentuadamente em dólares, portanto “baratas”, o ressurgimento dos temores em torno da pandemia do coronavírus pode tirar e interromper o foco nas oportunidades e acentuar a aversão ao risco dada a opção pela segurança em detrimento da rentabilidade, tornando efêmero o retorno dos investidores estrangeiros ao mercado brasileiro.

A tendência em perspectiva então é desestimulante à presença dos investidores estrangeiros nos mercados emergentes e assim deverão optar pela segurança e retornar às suas origens.

Ademais, com taxa de dólar elevada e juro baixo os prêmios de risco se acentuam e poderão inibir definitivamente as compras de ações por investidores estrangeiros.

O otimismo precipitado em torno do comportamento dos papéis da B3 com a chegada dos investidores estrangeiros foi extremamente motivador à presença de investidores nacionais pessoas físicas “órfãos” do mercado de renda fixa que oferta rentabilidade próxima ao negativo.

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Eventual ajuste, por insegurança, podem levar induzir os investidores pessoas físicas a bater em retirada do mercado de renda variável acentuando a indução à desvalorização.

E economia brasileira convive com indicadores preocupantes como a da queda das vendas no varejo, nos serviços, desemprego e queda acentuada da renda, etc…., sendo muito difícil haver sustentabilidade nas projeções para estímulo dos investidores ancoradas em perspectivas de curto/médio prazos, até porque não se tem, ainda, visão de quando haverá condições de retomada da atividade econômica e em que “status quo”, pois o desemprego e a renda tem, atualmente, perspectivas bem piores do que ao início da crise.

Eventual ajuste na B3 poderá trazer insegurança aos investidores pessoas física, e a resiliência destes investidores normalmente é baixa e podem decidir pela retirada, sendo que o único fator que pode determinar eventual persistência é o fato de não ter onde aplicar recursos com garantia de retorno positivo.

Eventual ajuste na B3 poderá trazer insegurança aos investidores pessoas física (Imagem: Pixabay/Audy0073)

O investidor brasileiro pessoa física, cada vez mais, está sendo conduzido para um “corner”, o que se acentua agora com a redução, mais uma vez, da taxa de juro SELIC pelo BC, agora em 2,25%.

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E a taxa de juro SELIC menor e os empenhos do governo para que flua o crédito à pessoa física e principalmente às pequenas e médias empresas acaba não acontecendo, pois o passar do tempo torna o “risco” mais acentuado o que determina o represamento do crédito e, além disto, o encarecimento.

O fluxo cambial este mês até o dia 12 revela-se negativo em US$ 561,0 Mi, sendo negativos US$ 463,0 Mi no financeiro e negativos US$ 98,0 Mi no comercial. O fluxo financeiro registrou ingressos de US$ 21,860 Bi e saídas de US$ 22,323 Bi no período.

Os bancos estão até 12 com posições vendidas de US$ 26,066 Bi e o país detém reservas cambiais de US$ 348,323 Bi. As intervenções do BC têm sido pouco incisivas em volumes tanto no mercado à vista, quanto na oferta de linhas e swaps, predominando mais a ação meramente profilática.

Acreditamos que em perspectiva o recomendável ainda seja venda de B3 e compra de dólar.

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sidnei.nehme@moneytimes.com.br