Dólar

Sidnei Nehme: Embate entre opostos no mercado financeiro pode criar atipicidades e volatilidade!

30 jul 2018, 13:04 - atualizado em 30 jul 2018, 13:04

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

O final do mês deve ser caracterizado por embate entre comprados e vendidos, em especial no mercado de câmbio envolvendo dólar futuro, swaps e cupom cambial, e isto pode provocar movimentos atípicos envolvendo volatilidade, sem, contudo, permitir que se considerem as resultantes como novas tendências.

No contexto câmbio, incluindo seus segmentos, há um posicionamento dos institucionais nacionais fortemente vendidos e dos estrangeiros comprados, e a depreciação do preço da moeda americana nos últimos dias com discreta volatilidade é consequência natural deste cenário.

O preço da moeda americana hoje apresenta discreta recuperação no nosso mercado, alta de 0,14% preço R$ 3,7164 contrariando o comportamento do dólar no mercado internacional que tem o índice contra cesta de moedas caindo 0,43% no patamar de 94,06 pontos.

Aparentemente nos últimos dias os vendidos tem levado vantagem sobre os comprados, de vez que está em nível sustentável a perspectiva de que o preço do dólar não tende a ter as exacerbações de preços que foram preconizadas e sugeriram que pudesse atingir preços muito acima de R$ 4,00 indo até R$ 5,50.

É natural que os comprados busquem reverter suas posições com preços exacerbados, mas este movimento ganha impulso com os compradores (os vendidos) forçando a baixa e “sacrificando” os níveis de preço focando seus interesses.

Este deve ser o comportamento do preço ao final do mês, volátil e com alguns movimentos atípicos, e este fato pode até reduzir volumes de negócios.

Continuamos entendendo que face ao conjunto de vetores de influência precificados no preço do dólar, o ponto de equilíbrio permaneça em R$ 3,80 podendo ir até R$ 3,95 se as disputas jurídicas e políticas em torno da sucessão ganhar efervescência e acirramentos.

Entendemos também que este final de mês poderá ser uma linha de corte na dinâmica dos mercados. Acreditamos que no trimestre agosto a outubro haverá perda de volumes de negócios e postura bastante defensiva e conservadora com elevado foco nas definições partidárias sobre os candidatos à sucessão presidencial, e, principalmente, nas pesquisas eleitorais.

O preço da divisa americana parece sustentável em R$ 3,80, a despeito do recuo deste momento, parâmetro sustentável até a definição das eleições gerais mais principalmente presidencial.

O país como temos destacado não corre risco de crise cambial, tem um quadro confortável contrapondo-se ao sentimento predominante de forte desapontamento com a desenvoltura da atividade econômica e todas as suas consequências, crise substantiva fiscal, política e muita insegurança jurídica, mas, no nosso entender, o preço do dólar a R$ 3,80 já precifica este ambiente.

Consideramos com reservas as projeções atuais do mercado financeiro expressadas no Boletim FOCUS, entendemos que o país está sujeito a alguns riscos nos últimos 5 meses e que poderão impactar nos índices inflacionários, assim como na produção industrial, consumo e renda com agravamento do desemprego, e que poderão até impor elevação da taxa SELIC.

Os fatos externos em torno da guerra comercial, acreditamos, ainda demandarão certo tempo para que sejam maturadas e haja condições de se avaliar efetivos impactos.

Os Estados Unidos do Presidente Trump acaba de acolher um sucesso na dinâmica de sua economia com crescimento de 4,1%, mas no nosso ponto de vista o mérito maior ainda advém do governo Obama. Obama iniciou o governo com 10% de desemprego e o entregou com 4% e com a crise que estava instalada ao tempo de Bush equacionada e com o país reposto na linha de desenvolvimento.

Trump cortou tributos e com isto incentivou a atividade econômica e o refluxo de investimentos americanos que estavam no exterior, mas com as novas tributações sobre os produtos importados, que em sua grande maioria são bens intermediários utilizados pela indústria americana, acaba praticamente anulando o benefício concedido de forma indireta.

Há muita insegurança sobre a sustentabilidade da dinâmica de crescimento da economia americana devido às perturbações geradas por seu Presidente, pois pode alterar posturas do FED e até conduzir o país a uma recessão.

Há muitos fatos e fatores contraditórios nestes confrontos comerciais, e, é bem provável que seja confirmada a máxima de que nestes quadros “ninguém ganha”.

Para o Brasil há perspectiva de fatores positivos e negativos, parecendo que predominarão os negativos.

Enfim, este momento pode ser a linha de corte de atitudes com os empresários assumindo posturas defensivas, postergando investimentos, e isto poderá criar um comportamento de queda acentuada de volumes nos inúmeros segmentos do mercado financeiro, salvo o de saídas no mercado de câmbio.

A Bovespa, cremos, deverá ter movimento de realização e em consequência deverá se acentuar o volume de saídas de recursos estrangeiros tanto da Bovespa quanto do mercado de renda fixa, o que aumentará o volume de demanda no mercado a vista de dólares.

As pesquisas eleitorais deverão predominar sobre projeções sobre a economia, e poderão criar volatilidade, embora com volumes reduzidos.

Tempo de observar.

 

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