Opinião

Sidnei Nehme: Especulação se mantém, mas volatilidade do dólar dá sinais de falta de suporte

18 mar 2019, 11:23 - atualizado em 18 mar 2019, 11:23
“O que ocorre é impacto no fluxo cambial que não é exuberante em razão dos investidores estrangeiros estarem mantendo posição de retração” (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

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Temos enfatizado que o mercado de câmbio futuro está convivendo com movimento especulativo que busca impulsionar a taxa cambial para o dólar no Brasil, mas que a nossa percepção é de que este movimento é absolutamente carente de fundamentos sustentáveis.

Pouco tempo atrás, movimento idêntico foi “plantado” ainda contaminado pelas perspectivas em torno do novo governo e também, mal intencionalmente, confundidas a situação do Brasil com os cenários que eram convividos, em especial, por Argentina e Turquia, o que se constituía em crasso erro e por isso não se sustentou e o preço da moeda americana reverteu forte e retomou o intervalo que vimos considerando como ponto de equilíbrio, entre R$ 3,70 a R$ 3,75.

Este movimento foi retomado desde semanas atrás, fruto de uma mixagem oportunista entre embates ideológicos em especial nas redes sociais visando o desgaste do governo, e também e principalmente, por propagação de inviabilidades sobre o andamento da proposta de Reforma da Previdência.

Mas, como habitualmente ressaltamos, o Brasil tem uma condição de tranquilidade na questão cambial, com contas externas organizadas, soberbo montante de reservas cambiais, déficit em transações corrente equilibrado, e o Banco Central do Brasil dispondo de mecanismos operacionais para suprir liquidez, caso necessário, além do fato do país não ter nenhum movimento de saídas de capitais.

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O que ocorre é impacto no fluxo cambial que não é exuberante em razão dos investidores estrangeiros estarem mantendo posição de retração, postura que é entendida como de sensatez visto que aguardam melhor definição do andamento da Reforma da Previdência, passo inicial e fundamental para o país começar a resolver sua questão fiscal, e a partir daí promover ações efetivas para dinamizar a atividade econômica.

Na medida em que a separação do “joio do trigo” ocorre, o clima vai se descontaminando das perspectivas negativas e o ambiente voltam a retomar o otimismo outra vez consistente.

Contudo, há agora o entendimento de que a tramitação da matéria no Congresso Nacional e suas comissões demandará tempo superior às expectativas iniciais, e isto provoca reflexos na atividade econômica do país e retarda as perspectivas de retomada da dinâmica desenvolvimentista do país.

Janeiro, segundo do BC, apontou um IBC-Br retrocedente 0,41% ante dezembro quando houvera crescido 0,21%; na comparação jan19/jan/18 o crescimento foi de 0,79% e no ano 1%.

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Este fato impacta diretamente nas projeções do crescimento do PIB e, naturalmente, nas consequências esperadas de aumento dos investimentos, maior oferta de empregos com aumento de renda e consumo, e, enfim, melhora acentuada da arrecadação fiscal por parte do governo.

Embora o ambiente ainda persista binário, é inconteste que há convicção de que o Governo logrará sucesso ainda que não total, mas suficiente para amenizar a questão fiscal.

Há a clara percepção de que a tramitação da proposta da Reforma da Previdência ganha tração, e embora ocorram os costumeiros ruídos políticos em torno da matéria isto faz parte do jogo, mas o importante é a sinalização de que agora avançará e isto é importante.

O governo logrou sucesso com a sua ação de outorga de aeroportos, superando as expectativas, e isto é estimulante para o programa de privatizações que se propõe a executar.

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O Boletim FOCUS, divulgado hoje, repercute com precisão a percepção de que o PIB crescerá menos neste ano, reduzindo a projeção de 2,28% para 2,01% em linha com outras manifestações, inclusive da FGV. Evidencia que a inflação tem um viés de alta, mas não parece algo tanto seguro, da mesma forma que mantém a SELIC para este ano em 6,50% e que acreditamos que, em algum momento ainda deste ano, havendo evidência de que a atividade econômica esteja lenta poderá sofrer redução.

O mesmo Boletim projeta o preço do dólar para o final do ano em R$ 3,70, com a qual concordamos plenamente.

Esta semana haverá a reunião do COPOM e não se espera novidade, devendo a taxa SELIC ser mantida.

Continuamos com a convicção de que os fatores de formação do preço da moeda americana estejam absolutamente focados no cenário Brasil, com baixa ou nenhuma influência das discussões em torno da China-Estados Unidos, Brexit, U.E., etc… já que a retomada das atividades econômicas no país depende, antes e acima de tudo, que encontre soluções que viabilizem a retomada da programática focando o desenvolvimento.

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O comportamento da Bovespa, antecipando-se às nossas perspectivas, é um bom sinal de positivismo, ainda que a atividade econômica não esteja em níveis satisfatórios e nem o investidor estrangeiro tenha se direcionado ao Brasil.

No nosso entendimento persiste a falta absoluta de fundamentos que possam sustentar a apreciação do dólar frente ao real, continuando com a percepção de que o ponto correto da curva do câmbio esteja entre R$ 3,70 a R$ 3,75, permanecendo neste intervalo até maio próximo, quando se espera ter uma visão concreta do que será a resultante do texto da Reforma da Previdência.

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sidnei.nehme@moneytimes.com.br