Dólar

Sidnei Nehme: Estresse e ansiedade podem provocar reações do mercado alheias aos fundamentos

25 jul 2018, 7:24 - atualizado em 25 jul 2018, 7:24

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

E de repente o mercado acionário na Bovespa ganhou impulso de quase 1,5%, ao mesmo tempo em que o mercado de dólar impôs à moeda americana depreciação de quase igual porte.

Seria uma reação de “aprovação política” as alianças em torno da candidatura do ex-governador Alckmin com um conglomerado de partidos que formam o denominado “blocão”, e na margem buscando capturar o Vice desejado por muitos?

As informações mais recentes afirmam que o objetivado Vice não aceitará o convite, e, há muitas dúvidas se os novos companheiros do “blocão” agregarão efeitos positivos à campanha do ex-Governador de SP, que parece “pesada” demais para conseguir uma arrancada dos parâmetros desestimulantes constatados nas mais recentes pesquisas.

O mercado financeiro é um grande cabo eleitoral, mas a população parece distante de ter maior interesse no evento, tendo sido constatado pelo Ibope, na palavra do seu Presidente, que 70% da população não desejam votar em Presidente, o que, se verdadeiro, seria altamente preocupante e desastroso.

É importante que se aguarde as próximas pesquisas, até porque estão em andamento as definições de candidatos efetivos.

Nesta ciranda em torno das eleições presidenciais no país, em que parece mesmo que a população está alheia, até o “profeta” Roubini ressurge palpitando sobre o quadro político brasileiro e sua melhora com as últimas coligações.

De efetivo a considerar, há os sinais de recuperação das perdas da indústria após a greve dos caminhoneiros. Segundo a Sondagem Industrial divulgado pela CNI a utilização da capacidade instalada subiu 3 pontos em junho atingindo 66%, retomando o nível registrado em abril, antes do movimento. A produção industrial registrou 50,8 pontos em junho, discretamente acima da linha divisória dos 50 pontos que separa a queda do aumento de produção. O número de empregados ficou em 48,1 pontos, o que indica queda no emprego industrial. Outro dado relevante, que confirma nossas assertivas recentes, é o índice de intenção de investimentos na indústria que caiu para 49,4 pontos em julho, sendo a quinta queda consecutiva do indicador que está 4,2 pontos aquém do registrado em fevereiro. Segundo a CNI a baixa disposição para investimento reflete a “queda da confiança dos empresários no desempenho futuro da economia”.

Em junho a União arrecadou R$ 110,855 Bi, crescimento real de 2,01%, comparado com junho de 2017. No 1º semestre a arrecadação chegou a R$ 714,255 Bi, com expansão de 6,88% em relação a igual período de 2017. A receita apontou alguma influência da greve dos caminhoneiros face à queda de 6,67% na produção industrial, afetando o IPI.

Contudo, merece consideração o fato do crescimento do PIB estar sendo extremamente modesto, com a FGV apontando queda de 1% no trimestre maio-junho, e a arrecadação ter subido no período, sendo de se supor que a causa foi o aumento da arrecadação com programas de regularização tributária ou a inflação corrigindo os preços está maior do que a que vem sendo admitida pelo governo.

Outro contraditório é que num ambiente em que 13 milhões de brasileiros estão desempregados e 67 milhões estão inadimplentes, a FGV aponta que a confiança do consumidor avança 2,1 pontos de junho para julho.

O dólar como temos destacado nos parece bastante equilibrado entre R$ 3,80 a R$ 3,95, com o BC tendo os instrumentos operacionais apropriados para conter movimentos típicos do mercado, salvo se imponderáveis, ou seja, não sensíveis às suas intervenções.

A queda ocorrida foi atribuída à sinergia com movimentos em torno das moedas emergentes no exterior, contudo, o que nos parece mais próximo da realidade é ocorrência de eventual reversão de operações especulativas locais contra o real, aquele conjunto de “players” que acreditavam no preço do dólar muito acima de R$ 4,00 e até mesmo R$ 5,50, e que agora estão tomando consciência de que no âmbito cambial o país, desta vez, está muito bem defendido e que já precificou todos os impactos previsíveis no patamar entre R$ 3,80 a R$ 3,95.

Fatores externos?

Wall Street tem alta devido aos fortes resultados corporativos, então nada tem a influenciar o Brasil.

A recuperação do rating por parte da Vale é um ponto importante, impacta positivamente nos seus papéis.

Medidas do governo chinês sinalizando política fiscal mais vigorosa, reagindo às possíveis consequências da guerra comercial, é um fato positivo.

Por fim, no balanço dos prós e contras resta o que temos de realidade, ou seja, expressivo nível de desemprego, praticamente nula capacidade de recuperação neste ano, situação fiscal do país extremamente vulnerável e sem soluções discutidas ou delineadas, sinais de inflação que vem sendo mitigada, queda de renda e consumo, que justifica o dantesco número de inadimplentes.

Resta “especular” se os estrangeiros estariam preparando a Bovespa em alta e o dólar em baixa para otimizar a saída. Não se pode descartar nenhuma hipótese quando há atipicidades.

Este ambiente presente é efetivamente estressante e este fato pode determinar movimentos atípicos absolutamente pontuais, mas o tempo é mais de observar e assumir posturas defensivas.

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