Dólar

Sidnei Nehme: Farol Brasil mantém incertezas, mas ocorre desmonte de posições compradas em dólar

26 jul 2018, 8:59 - atualizado em 26 jul 2018, 8:59

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

A despeito dos indicadores brasileiros revelarem dois pontos relevantes, quais sejam os impactos da greve dos caminhoneiros não teve a longevidade propagada e a economia sinaliza que retorna ao desempenho anterior ao evento ocorrido, o que resta no “farol futuro do Brasil” deixa evidente que o que já vinha claudicante continuará claudicante, com um viés bastante acentuado de perda evolutiva de dinamismo da atividade econômica.

A busca do nosso mercado financeiro em recompor um ambiente menos negativo se vale de “oxigênio alheio”, ou seja, especulações sobre os impactos da guerra comercial na economia americana que poderia retardar as elevações de juro pelo FED, reações imediatas da China protegendo a sua economia ante os destemperos determinados pelo Presidente americano, etc..

Mas os BC´s, com alguma incerteza em torno do BCE, tendem a reduzir os incentivos monetários promovidos e que impulsionaram a recuperação de suas economias, e este naturalmente não é algo que possa gerar otimismo para os emergentes, que estão repercutindo mais o eventual retardamento das elevações de juro pelo FED, o que neste momento é pura especulação.

Os mercados reagem com as expectativas e normalmente potencializa as favoráveis e mitiga os efeitos das menos favoráveis, e é isto que está acontecendo e acaba até contaminando economias emergentes.

No meio da disputa comercial vislumbram-se movimentos que podem sinalizar uma propensão a ocorrer guerra cambial, e isto estaria centrada no primeiro momento no embate yuan versus dólar, e a China demonstra estar atenta a este fato.

As conversas entre Trump e Juncker ontem teve um ambiente cordial, mas absolutamente inconclusivo, há interesses conflitantes de difícil superação de imediato entre USA e UE

Há para os produtores de “commodities” ganhos consequentes do bloqueio chinês às importações americanas seja diretamente ou por retaliação tributária, como é o caso da soja brasileira afora outros itens importantes.

O prenúncio de eventual retardamento nas medidas esperadas do FED americano altera o ânimo nos mercados emergentes, que podem preconizar permanência por mais um tempo dos recursos externos presentes nos seus mercados.

Ocorre então uma distensão nas tensões destes mercados e isto é decorrente do entendimento de que há queda na aversão a risco por parte dos investidores estrangeiros.

O Brasil está tendo esta percepção já que o fluxo de recursos para o país, até de forma surpreendente, tem se mantido e direcionado para a Bovespa, o que deixa algumas dúvidas sobre este movimento.

Mas o contexto Brasil, como temos dito repetidamente, com a economia com baixíssimo ritmo de atividade, ausência de propensão a investimentos, desemprego sem recuperação no curto prazo, inadimplência acentuada, queda de renda e consumo, queda na confiança do comércio, grave crise fiscal com viés de agravamento, PIB decrescente, excessivas dúvidas e incertezas políticas e jurídicas em torno da sucessão presidencial, é a realidade com a qual devemos conviver mais estreitamente.

Então, o “farol futuro” do Brasil não suscita otimismo e sim muita precaução, embora alguns pontos que foram exacerbados já estejam sendo corregidos.

É o caso do dólar e dos DI´s.

Houve muitos ruídos, face à crise do país e baixíssima probabilidade de recuperação da atividade econômica agora até 2020, o preço da moeda americana sofreu forte impacto de alta compatibilizando-a com o efetivo “status quo”, que agora sugere que tenha ultrapassado o razoável por excessos especulativos.

Como vimos sinalizando desde muito, nesta crise o país se defronta com inúmeros problemas internos, mas, diferentemente de outras crises, têm uma posição confortável no contexto cambial.

O preço da moeda americana que estava em descompasso com a efetiva situação do país catalisou e precificou todos os fatores de impacto até então conhecidos. Desta forma mudou de patamar ficando entre R$ 3,80 a R$ 3,95, com o BC observando e não intervindo, sendo que eventuais novos fatores poderiam ser os imponderáveis, cujo alcance da intervenção do BC é ineficaz. E em alguns momentos mencionamos que poderiam acarretar elevações ou reduções não exacerbadas.

Mas é evidente que muitos “players” devem ter passado a entender que o preço da moeda americana, provavelmente com a memória ainda vinculada a crises anteriores, poderia atingir o preço da moeda americana entre R$ 4,50 e até R$ 5,50. Tudo sugere que este foi um erro.

A impressão que se tem no momento é que o preço da moeda americana esteja “derretendo” dada a intensidade da baixa, mas o mais provável é que os estrangeiros que em 22 último detinham posições compradas em dólar (dólar futuro, cupom cambial e swap) de pouco mais de 730 mil contratos, estejam iniciando o desmonte destas posições por ter concluído que não ocorrerá nenhuma explosão no preço além dos 15% ou 16% havido de ajuste no ano, e isto provoca este efeito ou mesmo que os investidores institucionais que detinham posições vendidas em 22 último em torno de 1 milhão de contratos estejam forçando a baixa com a propagação da ideia de que, a despeito da situação do país, não haverá a esperada explosão no preço do dólar.

O fato é que até o CDS brasileiro caiu para algo em torno de 221 pontos, após ter ido a 242 pontos, tendo iniciado o ano em 142 pontos.

O mercado de DI´s também reagiu passando a operar com taxas com viés de baixa.

A despeito da depreciação atual do preço do dólar, continuamos entendendo que o ponto de equilíbrio esteja em R$ 3,80, com possibilidade de pico até R$ 3,95, sendo o que ocorre no momento absolutamente pontual e não o deslocamento para um novo patamar.

Esta é, no nosso entender, a nova visão prospectiva sobre o preço do dólar no mercado, pelo menos até a definição do quadro sucessório presidencial.

Como o mercado financeiro brasileiro e sua sofisticação não é para principiantes, não temos desprezado a ilação de que os estrangeiros possam estar impulsionando a alta da BOVESPA e a queda da taxa cambial com foco em movimento de saída da Bolsa no mês de agosto com preços valorizados e com um preço de dólar deprimido que lhes proporcionaria maior volume de dólares no retorno.

O fluxo cambial divulgado ontem pelo BC revela saldo positivo no mês de julho de US$ 4,264 Bi até o dia 20, sendo negativo no comercial US$ 460,0 M e positivo no financeiro US$ 4,724 Bi. Na semana 16-20 o fluxo comercial foi negativo em US$ 497,0 M e no financeiro positivo US$ 937,0 M, líquido positivo US$ 440,0 M.

Ocorre a percepção de que recursos saídos da BOVESPA em momento antecedente sem ter saído do país e ter sido direcionado para renda fixa, até por estar com hedge, possam ter retornado à BOVESPA após a baixa expressiva ocorrida, e não tenha sido rigorosamente tudo fluxo cambial novo.

Há ainda um estoque de fluxo comercial a ser registrado no montante líquido de US$ 9,635 Bi, sendo operações que ocorreram fisicamente e ainda não tiveram o câmbio contratado (exportações US$ 16,6 Bi e importações US$ 6,9 Bi).

Os bancos tem posição comprada de US$ 2,896 Bi até dia 20 e mais US$ 2,925 Bi de linhas tomadas do BC com recompra.

Nossa percepção é de que poderemos ter um trimestre (ago-set-out) com redução nos volumes de negócios e decisões empresariais, como reflexo da absoluta imprevisibilidade no momento sobre as expectativas para a economia brasileira no curto/médio prazos e sucessão Presidencial.

O foco deverá ficar centrado na sucessão presidencial e a postura dos “players” tenderá a ser defensiva.

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