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Sidnei Nehme: Imperativo BC mudar estratégia e focar liquidez no mercado à vista com leilões

06 jun 2018, 8:35 - atualizado em 06 jun 2018, 8:35

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

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Embora disponha de instrumentos que lhe permitem ampla visão do comportamento do mercado, tudo sugere que a sua estratégia de intervenção no câmbio está relativamente desfocada, pois insiste em ofertar maciço volume de proteção com “swaps cambiais” e não está irrigando a liquidez do mercado à vista.

Ontem, adicionalmente ao que vem praticando cotidianamente nos dias mais recentes, ao ser surpreendido por abrupta alta no preço da moeda americana que atingiu R$ 3,80, entrou intempestivamente com oferta extraordinária de 30.000 contratos de “swaps cambiais” e causou volatilidade momentânea, mas não a reversão da tendência.

Importante observar que da oferta extraordinária do relevante montante de 30.000 contratos, colocou na primeira rodada algo em torno de 16.210 contratos e adicionalmente realizou nova oferta do saldo de 13.790 contratos e colocou tão somente 6.110 contratos, com sobra de 7.680 contratos, o que deixa o sinal de que a solução não está por este único caminho, já que o preço da moeda estrangeira voltou a subir para a proximidade de R$ 3,79.

Está mais do que evidente que a ação tem que focar fomentar a liquidez no mercado a vista, entrando, ainda que tardiamente, pois esperávamos esta ação já na semana passada, com a oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, que é o instrumento recomendado para o quadro. O BC pode até manter os leilões de swaps cambiais para ter a efetiva convicção já evidenciada de que a busca por proteção é cadente e mixar a estratégia com oferta mais incisiva de linhas de financiamento suprindo e ancorando a crescente demanda no mercado a vista pelos investidores estrangeiros que estão dando claros sinais de retirada de recursos do país.

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Maio teve um fluxo cambial financeiro negativo de US$ 5,0 Bi, até o dia 25, e hoje se saberá quando ocorrer a divulgação do fluxo até o final do mês pelo BC o número efetivo, mas já se sabe que pelo menos US$ 2,4 Bi foram saídas líquidas da Bovespa.

Acreditamos que grande parte dos investidores estrangeiros com recursos no país está “hedge” após terem sido surpreendidos ao início de abril e terem desencadeado forte demanda por proteção ocasionando grande impacto na taxa cambial futura e que contaminou a taxa de câmbio a vista elevando-a de R$ 3,3098 em 1º de abril até R$ 3,7364 em 31 de maio último.

Afora o volume “hedgiado” com swaps há um considerável volume protegido no mercado a termo, pelo fato de não exigir depósito de margem.

Este impulso inicial em busca de proteção teve como causa maior determinante os sinais da economia americana com a sua dinâmica forte, sugerindo pressão inflacionária, afora os conflitos comerciais e geopolíticos patrocinados pelo Presidente americana, provocando substantiva elevação da taxa de juro que atingiu 3% nos T-Bonds de 10 anos e a expectativa forte de que o FED deveria intensificar a elevação do juro americano.

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Por aqui já aflorava de forma evidente a perda de dinâmica da nossa atividade econômica e perspectivas nefastas decorrentes no emprego, renda, consumo e na severa crise fiscal que assola o país, além de naturalmente e relevante imbróglio nas projeções e especulações em torno da sucessão presidencial. Na arrancada do preço do dólar já havia um parcial e menor impacto deste cenário brasileiro, que acabou por provocar que o real se desvalorizasse mais do que a desvalorização média das moedas dos países emergentes.

A crise dos caminhoneiros foi consequente de 4 fatores: a política de preços da Petrobrás combinada com a elevação do preço do petróleo e do dólar e o nosso sistema tributário sobre os combustíveis ser arrecadatório e não regulatório.

E afora todos os impactos, não tanto como o governo procura propagar e até obtendo ressonância por parte de alguns setores, um extremamente relevante foi o de “trazer a valor presente” a “crise que estava por vir dando transparência a frágil situação do país” em momento mais próximo das eleições, que ainda não foi pontuado de forma consistente, mas está presente em seus efeitos e determina a antecipação de ações por parte dos investidores estrangeiros que já tendem a intensificar a saída de seus recursos do país e a atividade da nossa economia que acentua a sua retração que era gradual, sugerindo crescimento bem menor e um PIB até abaixo de 2%.

Este contexto que tornou presente a perspectiva que havia para médio prazo, certamente afeta e incrementa o retrocesso da economia, como já falamos, inibe investimentos visto que a capacidade ociosa instalada na indústria ainda é relevante e não tem expectativa de se exaurir no curto/médio prazo, inibe a queda do desemprego, o aumento da renda e do consumo e atinge de forma severa a já debilitada situação fiscal do país, trás a impertinente ideia de alta da inflação e necessidade de elevação da taxa SELIC e impacta na taxa de juro a longo prazo, mesmo com a intervenção do Tesouro.

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E as pesquisas eleitorais com suas projeções trazem grande desalento para o país que necessita amplas reformas para não naufragar mais ainda em 2019 e não sugere liderança de nenhum candidato reformista na corrida da sucessão presidencial.

A percepção de fragilidade do governo se acentuou muito pelos fatos recentes, e há quem acredite que o movimento dos caminhoneiros possa reacender-se se o governo não conseguir impor as decisões que adotou e determinou aos fornecedores dos combustíveis.

E neste quadro, o BC não pode perder mais tempo para iniciar a alteração de sua estratégia de intervenção no câmbio, precisando acentuar sua oferta de liquidez no mercado a vista de câmbio com leilões de linhas de financiamento com recompra, mesmo que a mixe com a oferta em menor dimensão de swaps cambiais, para que a taxa cambial não avance para patamares inimagináveis.

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sidnei.nehme@moneytimes.com.br
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