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Sidnei Nehme: intervenção do neutra BC é ineficaz, deve vender somente dólares à vista

29 nov 2019, 7:11 - atualizado em 29 nov 2019, 7:14
Dólar Moedas
Os ruídos normais pela venda das reservas mitigaram  e ao final mantinha a neutralidade em relação à formação do preço do dólar (Imagem: Unsplash)

Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

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O Banco Central criou a figura da “Posição Cambial Líquida” como demonstrativo novo, e nesta mescla de posições envolve efetivamente dólares efetivos e derivativos que não comprometem dólares efetivos, visto serem liquidáveis não com moeda estrangeira, mas sim “por diferença” em reais.

Com esta amplitude “fazendo parecer” (é a percepção que prevalece) que tudo envolvia dólares efetivos implementou a estratégia de intervenções no mercado de câmbio, conjugando oferta casada efetiva de dólares à vista, reduzindo as reservas cambiais, com swaps cambiais reversos.

Os ruídos normais pela venda das reservas mitigaram  e ao final mantinha a neutralidade em relação à formação do preço do dólar, visto que havia um efeito no mercado à vista com a oferta e um contra efeito pela demanda de swaps cambiais reversos no mercado futuro que repercute como “efeito compra (demanda)”.

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O país vive um momento único com juro baixo e inflação baixa e isto afastou os investidores estrangeiros detentores de recursos especulativos (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)

Ocorre que o mercado de câmbio brasileiro está com problemas no fluxo cambial que persiste negativo, US$ 22,6 bilhões até 22/11 e US$ 37,278 bilhões de diferença no confronto 2019/2018 mesmo período.

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O BC vendeu das reservas até 22/11 o montante de US$ 25,8 bilhões , o que supera os US$ 22,6 bilhões  de fluxo negativo, o que, em tese, neutralizaria o efeito oferta/procura, mas como grande parte foi conjugada preservou a taxa cambial mal formada e, portanto, distorcida com suas intervenções neutras.

Os bancos continuam mantendo posições vendidas desde dezembro/2018 da ordem de US$ 24,0 bilhões e só dispõe de linhas de financiamentos concedidas pelo BC de US$ 8,2 bilhões, o que os leva a demandar linhas de banqueiros estrangeiros para lastro do posicionamento vendido.

O país vive um momento único com juro baixo e inflação baixa e isto afastou os investidores estrangeiros detentores de recursos especulativos, que, em grande parte, deixaram o nosso mercado financeiro e com isto provocaram o déficit liquido negativo do fluxo cambial.

Não houve a transição imediata com a chegada de recursos não especulativos atraídos pela melhora das perspectivas econômicas do Brasil e por seus programas de privatização, que foram retardados pela demora na Reforma da Previdência e nos programas de privatizações.

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Demora na Reforma da Previdência e nos programas de privatizações(Imagem: Roque de Sá/Agência Senado)

Mas não só isto, as exportações brasileiras caíram significativamente algo como menos US$ 24,0 bilhões em relação a 2018 e as importações se mantiveram estáveis, além do desapontamento do fluxo com o leilão do pré-sal.

Enfim, há necessidade do BC atuar objetivamente fornecendo liquidez e não administrando a formação da taxa cambial, mas a conduzindo a eliminar a disfuncionalidade (especulação mesmo) que a conduziu a preço incompatível com o “status quo” do país no segmento cambial que é de absoluta tranquilidade, sem nenhum risco por menor que seja de crise cambial.

Banco Central do Brasil
Há necessidade do BC atuar objetivamente fornecendo liquidez e não administrando a formação da taxa cambial (Imagem: Facebook do Banco Central do Brasil )

E isto, como há uma notória distorção na formação do preço, não é possível continuar a ser corrigida com intervenção com estratégia de sustentar a neutralidade, mas tem que atingir o cerne do problema com oferta de dólares à vista e/ou incrementando o montante de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra.

Esta é a sinalização clara presente, havendo em contrapartida um desinteresse crescente por ofertas conjugadas.

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Ação direta, objetiva, pontual para reconduzir o curso do mercado à normalidade e compatibilidade com o momento do Brasil que é sobejamente melhor do que meses atrás e tem perspectivas seguras de retomada da atividade econômica.

Leilões à vista de forma contundente nada mais será do que ação profilática temporária, até que o fluxo cambial seja retomado positivo e que se prestará também para afastar os “ruídos que ensejam a enganosa percepção de que o país esteja com uma crise cambial”.

A ideia posta pelo Ministro Guedes de que o dólar ganhou um novo patamar é muito teórica, pois novo patamar não pode ser compreendido como exacerbado, visto que será inevitável o impacto inflacionário nos preços relativos da economia e os efeitos em cadeia conspirando contra os avanços alcançados até o momento.

Hoje é dia da Ptax de final do mês e por isso movimentos voláteis poderão ocorrer, mas não cabe intervenção do BC.

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