Opinião

Sidnei Nehme: Julho deve acentuar otimismo, mas projeções/ações do governo criam contraditório!

01 jul 2019, 10:54 - atualizado em 01 jul 2019, 10:54
Colunista faz análise do ambiente macroeconômico e comenta as perspectivas do mercado de câmbio para o segundo semestre

Junho seguramente teria consolidado o marco divisório com o ressurgimento forte e sustentável do otimismo, com a Bovespa registrando índices evolutivos acima dos 100 mil pontos e o preço do dólar recuando a R$ 3,80, com viés positivo para o real na tendência, mas ruídos perturbadores político-jurídicos provocar um hiato que interrompeu a escalada e promoveu algum recuo momentâneo, relativamente superado ao final do mês.

Mas, agora em julho se espera a consolidação e retomada do ambiente otimista em relação à dinâmica da economia brasileira, até porque já ficou bem entendido que a Reforma da Previdência não é geradora de recursos para o governo, mas sim contingenciará gastos para os quais não havia como sustentar e com grande probabilidade de acentuar a crise fiscal a níveis altamente preocupantes, e, também por já considerar-se a aprovação da Reforma da Previdência, contextualmente dada, sendo tão somente uma questão de tempo maior ou menor.

Tirando o governo do “sufoco” incontrolável, será possível vislumbrar-se perspectiva mais otimista, embora consideremos que o Governo, seja pelo BC ou Ministério da Economia, tem proporcionado projeções e ações díspares e que além de contraditórias podem ter impacto negativo na tomada de decisões do investidor privado.

Evidente que a economia perdeu dinamismo e tem atividade bem aquém às prognosticadas, fato que vem sendo apontado pelos analistas e reproduzidas nas edições do Boletim FOCUS que apontam medianas, mas o governo não deveria ser mais rigoroso do que o “mercado”, até porque precisa acreditar na sua gestão e propagar sempre otimismo mitigando o negativismo como sinal de que acredita na sua gestão.

A manifestação do COPOM em sua Ata pós reunião de que antevê o 2º semestre com estagnação da atividade econômica, e posteriormente, o BC reduzir de forma severa a projeção para o PIB de 2,0% para 0,8%, além da percepção do mercado, corresponde a uma auto descrença nos esforços que vem exercendo para revitalizar o ânimo dos investidores privados a realizar investimentos ante a incapacidade de realizar investimentos por parte do governo.

Estas manifestações sugerem o não investimento visto que a perspectiva da atividade econômica é preocupante, mas então o Governo toma a decisão de reduzir os depósitos compulsórios dos bancos, naturalmente com o intuito de irrigar a liquidez e a capacidade de geração de recursos pelo sistema bancário às empresas com o intuito de dinamizar a economia.

Ora, primeiro sinaliza um cenário pouco otimista, neutralizando as perspectivas para a atividade econômica, para posteriormente sugerir investimentos do setor privado e liberar recursos para o setor bancário. Com as sinalizações pouco animadoras para a atividade econômica naturalmente cria um ambiente de “aversão ao risco” ao setor creditício e este tende a não repassar ao setor privado e sim represar os recursos adicionais disponibilizados e a reconduzi-los ao Tesouro Nacional como aplicação.

Erroneamente, no nosso ponto de vista, o COPOM deveria ter enfatizado a tendência a cortes na SELIC, detalhe relevante na indução ao investimento, para o qual se mostrou relevante enquanto o Boletim FOCUS que já havia reduzido a projeção de 6,5% para 5,75% agora a reduz para 5,50%.

Então, efeito zero.

Evidente que este contraditório não passa despercebido nem do investidor nacional e nem do investidor estrangeiro, e, assim pode retrair investimentos em conta capital e no mercado financeiro.

A Bovespa precifica expectativas e embora haja grande ansiedade sobre a sua valorização, quebra das projeções para o desempenho da nossa economia, com ênfase pelo governo, podem quebrar o ímpeto e provocar frustração.

No relativo ao comportamento do dólar temos um cenário mais favorável, visto que a aprovação da Reforma da Previdência “alivia” as pressões da crise fiscal, e pelo fato do país não ter problemas com a questão cambial, que é o único setor confortável e bem defendido, pode consolidar a apreciação do real frente ao dólar.

O preço de forma natural deve se ajustar, ainda que gradualmente, a R$ 3,80 com viés para R$ 3,75, sancionado pela excelência das contas externas.

Todavia, estando com o preço mais ajustado poderá evidenciar maior sinergia com o comportamento do preço do dólar com o mercado global.

Há fatores impactantes como os avanços do acordo China-USA, que, por exemplo, hoje provoca valorização do dólar no mercado global pelos sinais benignos após o encontro dos Presidentes de ambas potências, mas que está muito sensível como fator de depreciação se o FED sinalizar ou decidir reduzir o juro, etc…

À margem deste ambiente merece citação o Acordo Mercosul-União Europeia que se conclui após 20 anos de discussões e que traz para o Brasil perspectivas muito auspiciosas.

Enfim, há ainda todo um semestre e é possível, a despeito das projeções negativas do governo, que ainda haja condições de obter-se avanços e um melhor desempenho econômico até o final do ano.

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