Dólar

Sidnei Nehme: Mercado global se reanima, mas há dúvidas no farol e Brasil precisa olhar para si

15 fev 2018, 13:02 - atualizado em 15 fev 2018, 13:03

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

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Os mercados da cena global voltaram a se reanimar retomando o otimismo, mas inegavelmente os números da economia americana criaram um cenário contraditório que precisa ser analisado com maior acuidade.

A alta da inflação americana pode determinar que o FED americano eleve as taxas de juros em ritmo mais acelerado do que as expectativas prevalecentes. A inflação dos preços ao consumidor subiu 0,5% em janeiro superando o esperado, e em relação a 2017, os preços ao consumidor subiram 2,1% ante projeção de 1,9%.

Os juros para os rendimentos do T-Bond com vencimento 10 anos, que é referência, atingiu a máxima de 2,928%. Analistas especializados entendem que se atingir 3,0% poderia ocorrer intensificação da volatilidade.

Aliás, a volatilidade intensificada neste momento de grandes dúvidas sobre os próximos passos e diretrizes dos dirigentes do FED é a perspectiva mais consistente, por isso, embora se reanimando o mercado global não deve perder o foco nos riscos em torno dos impactos com decisões ou sinalizações da autoridade monetária americana.

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Uma sinalização mais intensa no sentido de estancar a forte liquidez do mercado internacional será o suficiente para estancar a euforia e reverter o clima de otimismo retomado. E esta pode ser uma diretriz do FED para conter as pressões inflacionárias. Contudo, há dados como as vendas do varejo americano que tiveram queda de 0,3% em janeiro, que poderia representar dificuldades para o FED elevar as taxas de juros de forma rápida para neutralizar pressões inflacionárias.

Ainda há muitas incertezas e preocupações em torno da relação causa efeito do expressivo corte de impostos promovido pelo governo combinado o aumento dos seus gastos que poderá levar a economia americana a um excessivo aquecimento.

Enfim, muitas dúvidas e incertezas que poderão conduzir a decisões efetivamente impactantes nos mercados globais, e, sem dúvida, nos mercados emergentes.

Alta de juro americano, alta de remuneração do T-Bonds, redução da liquidez internacional, etc… podem mudar cenários de forma abrupta e intempestiva.

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E quando notamos que o Brasil continua pegando carona nas ondas do mercado internacional, sem atentar de forma mais detida aos seus próprios e relevantes problemas, sentimos que mais uma vez devemos ressaltar que, embora existam até canais comunicantes, a Bovespa é no Brasil e não em Wall Street, e o nosso país que tem ainda modestos sinais de recuperação, habilmente manipulados para se tornarem superlativos, tem em sí próprio elevados riscos bastantes para promoverem reversão de expectativas à margem do que ocorra no mercado internacional, mas merecendo destaque que grande parte da euforia que vive é turbinada por capitais especulativos estrangeiros forjados por operações de “carry trade” altamente sensíveis às mudanças de taxas de juros no mercado internacional e nas perspectivas.

Portanto, a retomada do alinhamento da Bovespa com a valorização recente e discretamente afetada e a nova rodada de depreciação da taxa cambial do dólar estão, mais do que no mercado internacional, sujeitos a volatilidade e reversão de expectativas.

Não podemos ignorar a gravidade da crise fiscal que o país atravessa e para a qual não há solução de curtíssimo prazo, nem mesmo com a, até agora improvável, aprovação da reforma da Previdência, e, um ambiente político amplamente nebuloso e incerto em termos de candidatos efetivos e viáveis à Presidência.

Desta forma, não há nem perspectivas consistentes para o ano de 2019 de vez que não se tem ideia de quem será o gestor, e o quadro atual no contexto político econômico não é tranquilizador.

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É extremamente importante que, neste momento, não se relegue a consideração do risco Brasil para si mesmo como algo menor, envolvidos pelo ambiente externo, ainda otimista, mas com acentuado clima confuso e contraditório.

A nossa economia ainda precisa de dados mais consistentes e com melhores fundamentos para que passe a percepção de sustentabilidade, e isto é bastante improvável neste ano de 2018, e parece arriscado imaginar-se inflação real e efetiva muito abaixo da meta e dólar com preço apreciado e até haver pressão para mais corte na SELIC num ambiente externo de elevação de juro.

Temos ressaltado que gradualmente com a queda da liquidez internacional a “farra” dos mercados tende a diminuir e a promover realizações, e que, o Brasil poderá ter um realinhamento até independente e com maior intensidade do comportamento dos mercados desenvolvidos.

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sidnei.nehme@moneytimes.com.br