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Sidnei Nehme: Otimismo ancorado na expansão global não está focando riscos relevantes internos

17 jan 2018, 10:58 - atualizado em 17 jan 2018, 11:00

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

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Em nosso post de ontem destacamos que o cenário binário prevalecente sugere que o otimismo presente não ignore os riscos de reversão de expectativas, e esta observação ganha consistência dia após dia.

A Bovespa mantém ritmo forte de altas, desconexa com a realidade da nossa economia que tem obstáculos consideráveis à frente, nada assegurando que as projeções prospectivas estimulantes no momento sejam sustentáveis, e deixando transparecer certo menosprezo pelos riscos latentes e que se tornam mais perceptíveis na medida em que se observa mais detidamente o contexto político-econômico-fiscal brasileiro.

A expansão global faz com que os estrangeiros comandem a euforia em torno do nosso mercado acionário, levando a BOVESPA a quebrar recordes e deixando uma falsa impressão que temos uma gama de empresas em grande desempenho de atividade e lucros, o que pode evidenciar que há neste movimento um tanto quanto de especulação.

Este movimento ancorado no cenário externo e movido a capitais estrangeiros especulativos pode ser desmoronado se os problemas intestinos do Brasil não forem superados, como mencionamos que o cenário é binário, as expectativas otimistas poderão ser rapidamente revertidas e este “castelo” se revelar de areia.

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É crescente a irritação e o desnorteio em torno do julgamento do ex-Presidente Lula, com notório destaque na mídia, algo que pode criar perturbações impactantes no ambiente interno, com reflexos no exterior quanto a incertezas e dúvidas.

Por outro lado, as últimas falas a respeito da reforma da Previdência não tem sido animadoras. Aparentemente, a despeito do esforço cotidiano do Presidente Temer, o número de congressistas apoiadores não evoluiu e ocorrem insinuações partidárias de que possa ser postergadas para o ano que vem já com novo governo, e o Presidente da Câmara, também candidato a candidato à Presidência, afirmou em New York que a aprovação não será fácil e que se não votada em 19 de fevereiro próximo ficará para ser votada somente o ano que vem.

Constata-se então, que o cenário interno do Brasil nada tem a ver com o contexto do mercado global que direciona recursos oportunistas para a nossa Bovespa com foco especulativo, não dando fundamentos críveis as projeções de BOVESPA a 100.000 pontos, etc…, que na realidade são inseguros prognósticos estimulados para quem está focando o lucro fácil no sentido de atrair incautos.

A questão fiscal é vital para o Brasil, a não aprovação das reformas pode provocar forte reversão nas expectativas em torno de 2018, acentuando o risco de o país ser rebaixado em sua nota de crédito tanto pela FITCH quanto pela Moody’s, e ter uma abrupta alteração da postura dos investidores estrangeiros afetando o “apetite e ímpeto” pelo Brasil.

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A questão em torno da eleição presidencial também deve agregar tensões, seja pela provocativa decisão do ex-Presidente Lula persistir no intuito de ser candidato mesmo que seja condenado, seja pela disputa entre membros do próprio governo, como o próprio presidente Temer que parece esperar que a economia demonstre vitalidade para se colocar como candidato ou o Ministro Meirelles que não demonstra ter ouvido a observação do presidente Temer de que o prefere até o final do governo no Ministério da Fazenda e anunciou que em abril decidirá a respeito ou o Presidente da Câmara Rodrigo Maia que parece ter percebido que existe espaço para postular a candidatura e vem atuando claramente com este propósito.

Esta “disputa” interna entre membros do governo não é positiva e pode afastar eventuais apoios de políticos, num momento em que o governo está absolutamente dependente de conquistá-los para levar à frente as reformas.

Por enquanto, o desempenho da economia não dá “cacife” ao governo e seus pretensos candidatos, mas da mesma forma não dá “munição” a oposição. Este é na atualidade um ponto de indefinição que o cenário binário fortalece até que se tenha efetiva tendência.

Também prospera a percepção de que a reforma previdenciária e as reformas adicionais já propostas e que não conseguiram avançar não serão suficientes, havendo absoluta necessidade de cortes de gastos mais drásticos, e isto provavelmente não será possível neste governo.

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Portanto, entendemos que é preciso acentuar-se o foco nas questões internas e relevantes em torno do Brasil, não se deixando levar pelo “entusiasmo” contagiante dos estrangeiros, algo que pode findar-se de forma rápida e fortemente reversiva.

É preciso estar atento, o julgamento do ex-Presidente Lula deve aumentar as tensões dada a intensidade reacionária de seus pares, mas se complementarmente houver crescente percepção de que a reforma previdenciária poderá não ser aprovada, é bem provável que todo este entusiasmo presente sofra um acentuado debacle.

Há muito para se observar e ser muito precavido e sensato.

Idealmente é absolutamente desejável que tudo dê certo e o país se mantenha na rota de recuperação, mas não se pode confundir entusiasmos ancorados em participantes estrangeiros com a realidade do país e seus relevantes e expressivos desafios a serem superados.

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O dólar, ainda que tenha o seu preço habilmente administrado pelo BC é o sensor principal de mudanças de humor, por isso projeções a respeito serão sempre frágeis neste momento, mas é improvável que se mantenha nos níveis atuais, devendo ocorrer depreciação do real.

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