Dólar

Sidnei Nehme: Selic será mantida. BC deve diminuir oferta de swaps e entrar com linhas pós Copom

19 jun 2018, 11:32 - atualizado em 19 jun 2018, 11:32

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

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O mercado financeiro já não demanda swaps cambiais para proteção de passivos dolarizados, mas tão somente focando oportuna especulação com a perspectiva de polpudos lucros, ante a convicção de que o preço do dólar tem viés acentuado que o coloca, neste momento, acima de R$ 4,00.

Há acentuada convicção de que o preço do dólar, acima de R$ 4,00 é efetivo neste momento, fundamentado nos fatores internos amplamente negativos (atividade econômica extremamente fragilizada, alto nível de desemprego, crise fiscal preocupante, inexistência de possibilidade de reversão deste quadro caótico no curto/médio prazo e, a absoluta falta de visão otimista em torno do ambiente político sucessório), de vez que já precificou na sua quase totalidade os impactos dos fatores externos, restando tão somente acentuar o movimento de saída das divisas do país em direção, em especial, ao mercado americano.

Então, o que se tem visto é o BC ofertando bilhões de dólares através os swaps cambiais, totalmente absorvidos pelos agentes do mercado financeiro, que estão no comando da formação do preço e assim o deprimem para o entorno de R$ 3,70/3,75 para realizarem a transação em patamar de taxa que lhes proporcione a expectativa de polpudos ganhos no curto prazo, sem mais demandarem para proteção, mas simplesmente especulação.

O BC persiste no “faz de conta” que seja ele (BC) que contém o preço, quando na realidade é o tomador que deprime o preço com o intuito de moldá-lo de forma a viabilizar margem de ganho na liquidação das operações dos swaps cambiais.

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Fica então claro que o BC tem o propósito do enfrentamento da alta do preço do dólar, mas quem domina a retração é o tomador especulativamente, e isto causa certa volatilidade, que o BC assegura contrariamente à realidade que ocorre que atua visando contê-la.

Com isto, ainda que de forma indireta, mas a um custo extraordinário em perspectiva para o BC/TN, o BC vem conseguindo manter a taxa abaixo dos R$ 4,00 que seria seu preço na melhor das hipóteses de vez que tem potencial fundamentalista que o pode conduzir acima deste patamar.

Desta forma, ainda que artificializando o preço da divisa americana a uma cotação irreal para o momento, o BC constrói ambiente para evitar que tenha a repercussão absoluta e inevitável na inflação brasileira, podendo, pelo menos na reunião do COPOM, que será finalizada amanhã, manter a taxa SELIC, ganhando tempo para observar os acontecimentos nos próximos 45 dias, quando poderá aferir melhor os sinais inflacionários, o comportamento da economia e as perspectivas em torno das eleições presidenciais.

Enfim, ganha tempo.

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Os sinais inflacionários já estão presentes nos IGPs e em alguns IPCs, mas ainda estão sendo mitigados na assunção pelo IPCA, bastante díspar da realidade. Esta é uma percepção atual e real.

Acreditamos, contudo, que é absolutamente inviável que o BC persista na oferta sistêmica maiúscula de swaps cambiais e reconhecidamente ineficaz para conter a tendência consistente e fundamentada de alta do preço da moeda americana.

O que se presencia no momento é uma roda viva insustentável.

Face à isto entendemos que o BC pós reunião do COPOM, quando ainda terá argumentos para manter a taxa SELIC, deverá reduzir drasticamente a oferta de swaps cambiais e entrar com a oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, irrigando a liquidez do mercado a vista, que tudo leva a crer passará a ser demandado de forma mais incisiva com saída de recursos do país.

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Então será absolutamente necessário deixar o mercado financeiro sancionar a taxa efetiva para o dólar no momento, até por imponderável, e isto tende a ocorrer nas proximidades dos vencimentos de swaps que não estão lastreando proteção a passivos, mas que são simplesmente objeto de especulação e que forçarão a alta para conquistar o ganho.

Tudo leva a crer que se o BC não reduzir a oferta de swaps cambiais pode ocorrer a retração da demanda, e isto, por sí só, provocará a alta do preço da moeda.

Mas, será inevitável que oferte linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, o mercado demonstrará que o movimento de saída de recursos do país terá viés de aumento de intensidade.

Antevemos que na próxima reunião do COPOM, após esta atual, o BC terá necessidade de elevar a taxa SELIC, pois a colocação de que não existe relação mecânica entre juro e câmbio é um jogo de palavras, um sofisma, pois esta relação é fundamento do mercado internacional, e se não for ajustada a nossa realidade continuará sendo fator estimulante a presença de capitais especulativos no nosso mercado pelo desequilíbrio do custo do “hedge”.

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Não devem ser construídos dogmas em torno de comportamentos, pois se o contexto prospectivo tende a mudar, teremos que mudar também.

O Brasil não pode se atrapalhar nas suas estratégias em torno do dólar, para não criar uma imagem de que o país tem problemas de natureza cambial, visto que não tem o risco de crise cambial, mas tem um conjunto de fatores que repercutem negativamente na formação do preço da moeda nacional.

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