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Sidnei Nehme: Setor externo “pesado” confirma sua baixa relevância no dólar, o problema é nosso

09 maio 2019, 11:30 - atualizado em 09 maio 2019, 11:30

Sidnei Nehme é Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

Temos sido argutos e incisivos em sustentar que o Brasil é neste momento “quase uma ilha”, imune aos efeitos externos e sujeito a todos os desencontros internos, em especial na área política onde o governo se defronta com os opositores, os meio aliados e os aliados que vivem em contínuo conflito desestabilizador, que são absolutamente contraproducentes ao em nada contribuir para avanços, mas seguramente eficazes em retardar o que precisa de tratamento e trajetória urgente, ou seja, a Reforma da Previdência.

China e Estados Unidos indicam, depois de sinalizarem algum avanço nas tratativas das relações comerciais, tendência a impasses e desmontes do que houvera sido combinado. O embate sino-americano é acompanhado pelo mercado global dado a importância dos dois principais “players” da economia mundial, mas temos salientado que ambos são parceiros e concorrentes do Brasil, e que, “lactu sensu” os momentos de desencontros são mais benéficos para o Brasil do que o alinhamento que possa surgir entre ambos.

O fato em si passa ao largo no conceito de impacto no Brasil, neste momento fora do protagonismo global, muito centrado e restrito aos seus próprios desafios para sair da situação caótica em que se afundou sua atividade econômica.

As bolsas americanas “derretem” com este cenário confuso e com as preocupações em torno das decisões do FED que mantém firme propósito de manutenção da taxa de juro elevada num ambiente de forte atividade econômica e emprego.

No Brasil, sinais amenos de melhora na discussão na trajetória da propositura da Reforma da Previdência, peça fundamental inicial para que o país possa organizar, ainda que parcialmente, suas finanças e se torne apto a promover investimentos estruturais focando o desenvolvimento e soerguimento da atividade econômica, no momento combalido e com perspectivas em franca derrocada semana após semana.

Então, há o alívio e a BOVESPA, a despeito de suas limitações de tração face à inércia da atividade econômica brasileira e ausência do investidor estrangeiro, dá uma aliviada no seu desalento e recupera alguns pontos, contudo sem sugerir que vá disparar visto que há carência de fundamentos, mas recupera terreno para adequar-se a sua realidade no momento.

E o dólar, que só oscila em decorrência do movimento especulativo no mercado futuro que o pressiona quando oportuno, sabidamente tem em seu preço atual excessiva “gordura”, o que coloca o seu preço absolutamente “fora da curva”, fragiliza-se pela “queda da temperatura do debate interno” cujo aquecimento tem sido o “seu oxigênio” propulsor para especulação.

Desta forma, o real se aprecia frente ao dólar, absolutamente alheio ao ambiente externo.

É nestes momentos que se torna perceptível a quase absoluta influência de fatores internos e quase nenhuma dos fatores externos no nosso mercado financeiro.

O Brasil depende direta e fundamentalmente de solução para sua crise fiscal, e isto, somente o próprio país pode equacionar e a opção imediata é a Reforma da Previdência.

Sem isto e sem que o governo realize investimentos estruturais, o setor privado certamente permanecerá inerte na sua decisão de investir, pois as perspectivas até que se alinhe conduta mais focada na aprovação da Reforma são binárias, muito embora, neste momento, há, ainda que discreta, percepção de melhora no clima pró-aprovação.

Acreditamos que na medida em que o país persista dando sinais de que está se afundando na areia movediça em que se instalou, com queda contínua das projeções do PIB, desemprego se acentuando, desalento da população, e crise fiscal aumentando, ocorra a percepção de que se não houver união pró país, sobrará pouco para todos, então a trajetória da análise e aprovação da Reforma ganhará ímpeto.

Acreditamos que estamos neste ponto de inflexão, e na medida em que sinais positivos forem se propagando na linha de aprovação, os setores produtivos ganharão ímpeto para investimentos, será possível reverter o viés de baixa do PIB e haverá sinais discretos e concretos de melhora do emprego, renda e consumo, desarmando o desalento presente.

Com isto, é justo que se tenham expectativas de que o capital estrangeiro investidor seja direcionado para o país, para o seu setor produtivo e para o mercado financeiro, ainda que em volume abaixo ao prognosticado ao início do ano.

O possível novo cenário naturalmente será o antídoto eficaz à especulação que ocorre de forma destemperada e inconsequente no preço do dólar, uma “aventura” fadada ao insucesso visto que o câmbio é o único setor em que o país não tem nenhum risco de crise.

Está certo o Boletim FOCUS quando indica projeção do preço ao final do ano em R$ 3,75, da mesma forma que temos prognosticado desde o início do ano, com a convicção de que, embora com todos os tumultos e protelações, a Reforma deverá acontecer por inevitável.

O Banco Central do Brasil tem tido a correta percepção do movimento especulativo presente no dólar, por isso se mantém ausente de qualquer intervenção, cabendo-lhe se e quando necessário prover de liquidez o mercado à vista com linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, ação profilática normal, da mesma forma que promove as rolagens das posições vincendas de “swaps cambiais”, sem agregar novos lotes.

A postura predominante deverá ser de observação e não ação, razão pela qual não alterou a SELIC na reunião de ontem, uma postura sensata como o momento requer.

Consideramos relevante o fato de o momento pontificar que o Brasil depende diretamente de si mesmo, havendo pouca influência do ambiente externo na formação de preços e tendências, para que haja melhor entendimento do que ocorre no mercado financeiro do país.

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