Silvio Santos: o império e o rombo de R$ 4,3 bilhões que quase destruiu tudo
Se estivesse vivo, Silvio Santos completaria 95 anos nesta sexta-feira (12). A data lembra não apenas o apresentador carismático, mas também o empresário que deixou sua marca em setores tão distintos quanto televisão, varejo, cosméticos e serviços financeiros.
A história empresarial do “Homem do Baú” é uma mistura de ousadia, timing e uma capacidade incomum de transformar produtos aparentemente comuns em fenômenos de massa. Mas foi também marcada pelo episódio que se tornaria a maior crise financeira já enfrentada pelo Grupo Silvio Santos.
O SBT e o surgimento de um império de mídia
O Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) foi o alicerce de tudo. Criado em 1981, o canal rapidamente assumiu papel de protagonista no disputado pelo mercado de TV aberta.
Do auditório ao telejornal, a emissora cresceu apoiada em uma programação popular, eficiente e profundamente conectada ao gosto brasileiro — sempre embalado pelo carisma do próprio dono.
À medida que o SBT se consolidava, outras frentes de negócios começaram a orbitar o conglomerado. Cada marca carregava a assinatura do apresentador que conhecia como poucos o consumidor comum.
Tele Sena: o fenômeno de bilheteria que virou hábito nacional
Lançada em 1991, a Tele Sena transformou-se em um dos títulos de capitalização mais vendidos do país.
Com sorteios constantes, campanhas agressivas e presença semanal na tela do SBT, o produto virou parte da cultura popular e uma das principais fontes de receita do grupo.
Jequiti: o poder da TV aplicado aos cosméticos
Em 2006, Silvio Santos decidiu ingressar no mercado de beleza com a Jequiti Cosméticos.
A estratégia foi simples e eficiente: venda direta combinada à visibilidade massiva na televisão.
O resultado foi uma das marcas mais reconhecidas do setor, puxada por celebridades, perfumes exclusivos e uma estrutura de distribuição capilarizada.
Diversificação, imóveis e entretenimento
Ao longo das décadas, o Grupo Silvio Santos expandiu-se para áreas como hotelaria, imóveis, capitalização e produção audiovisual.
A construção desse ecossistema empresarial ajudou a transformar o apresentador em uma das figuras mais influentes da economia e da cultura brasileira.
Mas nenhum império está imune a riscos. E o de Silvio esbarrou em um deles, talvez grande demais para caber no Baú.
O grande erro: o rombo do Banco Panamericano
Se Tele Sena, Jequiti e SBT eram máquinas de receita, o Banco Panamericano tornou-se o oposto: o maior pesadelo empresarial de Silvio.
Em 2010, uma auditoria do Banco Central revelou um rombo bilionário, de cerca de R$ 4,3 bilhões, fruto de operações contábeis irregulares. O banco mantinha em seu balanço carteiras de crédito que já haviam sido vendidas, inflando artificialmente seus ativos.
A descoberta não apenas abalou o sistema financeiro como colocou em risco todo o Grupo Silvio Santos. Para evitar a quebra, o empresário ofereceu seu próprio patrimônio como garantia em negociações para viabilizar um empréstimo emergencial.
Foi um movimento raro no mundo corporativo, e um dos momentos mais dramáticos de sua trajetória.
O desfecho veio em 2011, quando o controle do Panamericano foi vendido ao BTG Pactual, marcando o fim do capítulo mais turbulento do grupo. Anos depois, executivos do banco foram condenados por fraude e gestão temerária.
O episódio se consolidou como o maior erro empresarial de Silvio Santos e o único que quase lhe custou tudo.
Mas, mesmo com o golpe sofrido no setor financeiro, o conglomerado de Silvio Santos resistiu. O SBT manteve-se como um dos principais veículos de comunicação do país; a Tele Sena segue entre os títulos de capitalização mais populares; e a Jequiti continua relevante no mercado de beleza.