Soluções sob medida: O papel estratégico dos FIDCs no Brasil

“O capital é impaciente. Procura atalhos para encontrar quem produza valor.”
— John Maynard Keynes (livre adaptação)
Nos últimos anos, a indústria de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) passou por uma transformação significativa no Brasil.
Em um país historicamente marcado pela concentração do crédito bancário, os FIDCs se consolidaram como uma alternativa robusta, versátil e sofisticada para o financiamento de empresas — de diversos setores e portes — quanto de pessoas físicas.
Segundo relatório da ANBIMA, os FIDCs foram a classe de fundos com maior crescimento de patrimônio líquido no período recente — desde dezembro de 2020, seu volume se multiplicou por 3,5 vezes.
Para efeito de comparação, os Fundos de Investimento em Participações (FIPs) cresceram 2,4 vezes, enquanto os Fundos Imobiliários (FIIs) duplicaram de tamanho.
Já outras classes, como Ações e Multimercados, permaneceram praticamente estáveis em termos de patrimônio nesse período.
Na minha visão, compreender o papel dos FIDCs no sistema financeiro é enxergá-los como instrumentos de securitização de direitos creditórios — sendo o FIDC o veículo estruturado eleito pelos participantes do mercado para viabilizar e catalisar esse processo.
Trata-se da prática de transformar ativos ilíquidos — como recebíveis, duplicatas, contratos ou empréstimos — em instrumentos de investimento negociáveis no mercado por meio de um veículo de investimento.
Em economias desenvolvidas, essa é uma prática amplamente difundida. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 30% do mercado de crédito privado é formado por ativos securitizados.
No Brasil, mesmo após anos de crescimento, os FIDCs representam apenas cerca de 6-7% do crédito privado nacional. A disparidade ilustra não só o espaço para crescimento, mas a relevância que os FIDCs ainda podem alcançar.
Concentração Bancária e o Crédito às Pequenas e Médias Empresas
Um dos principais fatores que impulsionaram o crescimento dos FIDCs no Brasil é a alta concentração bancária.
As cinco maiores instituições financeiras concentram cerca de 70% do crédito no país. Essa realidade deixa as pequenas e médias empresas — que são responsáveis por uma parte significativa da geração de empregos e dinamismo econômico — sem acesso a financiamentos adequados. Os bancos, por vezes, enxergam essas empresas como arriscadas demais ou pouco rentáveis.
É nesse vácuo que os FIDCs se inserem com vantagem.
Permitindo a antecipação de recebíveis, financiamento de fornecedores, crédito consignado e outras modalidades, os FIDCs oferecem soluções sob medida para necessidades reais do mercado produtivo.
A pulverização das operações, especialmente nos fundos multicedente-multisacado, cria uma carteira diversificada e menos dependente de grandes grupos econômicos.
Um Veículo em Constante Aperfeiçoamento
A maturidade do mercado de FIDCs é evidenciada pela evolução regulatória que o setor vem passando. Desde a Resolução CMN 2.907, de 2001, passando pela Instrução CVM 356 e chegando à Resolução CVM nº 175, de 2022, o arcabouço legal tem avançado na direção de maior transparência, governança e proteção ao investidor.
A nova regulação trouxe protagonismo ao gestor, estabeleceu critérios rigorosos para fundos acessíveis ao público em geral e incorporou conceitos modernos como subclasses e séries de cotas.
Além disso, os FIDCs contam com um atrativo tributário importante: a isenção de come-cotas. Isso significa que, diferentemente dos fundos tradicionais de renda fixa, nos FIDCs o investidor não sofre antecipação semestral de imposto.
Tal característica favorece a capitalização composta e eleva a atratividade do produto em um cenário de juros elevados e inflação pressionada.
Crescimento Sustentável Requer Gestão Especializada
Com todo esse potencial, a tendência é que o mercado de FIDCs continue crescendo nos próximos anos. No entanto, essa expansão não pode vir à custa da solidez.
A flexibilidade que os FIDCs oferecem — em estrutura, garantias, critérios de elegibilidade e remuneração — exige também um alto grau de controle, experiência e presença ativa por parte das gestoras.
Estruturas mal desenhadas, desequilíbrios econômico-financeiros e fraudes já deixaram lições importantes ao setor.
O risco do crescimento desenfreado é gerar um “gap” entre o volume financeiro movimentado e a capacidade de governança e monitoramento das operações.
Por isso, o investidor deve buscar gestoras especializadas, com histórico comprovado, time técnico robusto e atuação ativa nas operações.
Nesse sentido, a BRZ Investimentos atua no mercado de FIDCs desde 2008, quando a indústria ainda era incipiente.
Somos uma gestora independente fundada em 2005, com aproximadamente R$ 3,3 bilhões sob gestão e um portfólio de FIDCs que ultrapassa R$ 1 bilhão. Ao longo de quase duas décadas, estruturamos e gerimos fundos nos mais variados segmentos: consignado público, financiamento estudantil, agro, crédito corporativo e fomento mercantil.
Essa trajetória reflete nosso compromisso com a qualidade das operações, a robustez dos documentos, o alinhamento entre gestor, originador e cotistas, e a geração de valor para todos os envolvidos.
Seguimos acreditando que os FIDCs continuarão sendo protagonistas na democratização do crédito no Brasil — e seguimos preparados para liderar essa transformação com responsabilidade e excelência.