A balança comercial e o novo ‘tarifaço’ do governo Trump

A taxação de 50% sobre importação de produtos brasileiros nos EUA, anunciada em 9 de julho, causou espanto em todo o mundo e desperta enorme preocupação do governo e do empresariado nacional, particularmente nos setores com volumes de exportação relevantes para o mercado norte-americano, como o agronegócio, mineração e metais, além de segmentos com maior valor agregado, como aeronaves.
Este cenário seria considerado improvável em qualquer planejamento para 2025, dado o caráter inusitado que o provocou, misturando elementos econômicos, políticos e jurídicos de forma bastante questionável e, por vezes, equivocada. Assim, ainda deve haver negociações e mudanças nas tarifas anunciadas antes que entrem em vigor, em 1º de agosto.
Como pano de fundo, observando a realidade da balança para o Brasil, no mês de junho, as exportações totalizaram US$ 29,1 bilhões e as importações, US$ 23,3 bilhões, resultando num saldo positivo de US$ 5,9 bilhões, segundo divulgação pela SECEX (Secretaria de Comércio Exterior), órgão do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
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Este é o superávit mais baixo para os meses de junho em seis anos, já que o menor patamar recente no período se deu em 2019, quando ficou em US$ 4,4 bilhões. O valor também ficou abaixo das expectativas do mercado financeiro, que esperava um superávit em torno de US$ 6,5 bilhões no mês. Entre as principais razões para tal resultado, destacam-se a queda no preço de diversas commodities (como soja, petróleo e minério de ferro, bens primários com cotação internacional), e pelo maior consumo de importados.
Nas exportações do mês de junho, as de soja caíram 12,5% em relação ao mesmo mês do ano passado, em função da queda de 9,0% dos preços médios e do recuo de 3,9% no volume vendido. Por sua vez, o milho registrou queda de 56,6%, apesar da alta de 29,7% no preço médio.
As exportações de petróleo recuaram 2,1%, motivadas pela redução de 15,2% nos preços e aumento de 15,5% em volume. As de minério de ferro recuaram 8,6%, com preços caindo 16,7% e as quantidades subindo 9,8%.
A alta no preço do café ajudou a sustentar a balança, assim como a da carne bovina. As vendas de veículos, ouro e produtos semiacabados de aço também subiram, compensando a diminuição na exportação dos demais produtos.
Do lado das importações, dentre os itens com crescimento em relação a 2024, destacam-se aquisições de motores e máquinas não elétricos, compostos inorgânicos, aeronaves e componentes de aeronaves e inseticidas.
Em particular, o comércio com os Estados Unidos registrou um déficit de US$ 595 milhões em junho, sendo que as exportações brasileiras aos EUA somaram US$ 3,36 bilhões (alta de 2,4%), enquanto as importações brasileiras de produtos americanos somaram US$ 3,95 bilhões (alta de 18,5%).
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Dentre os itens exportados para o EUA, aço, alumínio e derivados foram os que mais sofreram com o tarifaço anterior. As taxas aplicadas a estes produtos, que eram de 25% desde 12 de março, passaram a ser de 50% em 4 de junho. Como o Brasil é o segundo exportador de aço aos EUA (atrás apenas do Canadá), com volume de 4,1 milhões de toneladas em 2024, espera-se uma redução de exportações, sendo parcialmente substituídas por produção siderúrgica norte-americana.
No acumulado de seis meses no ano, as exportações somam US$ 165,8 bilhões (aumento de 1% em relação ao mesmo período em 2024) e as importações, US$ 135,8 bilhões (10% acima do ano passado), com saldo positivo de US$ 30,1 bilhões (queda de 27,6% em relação ao ano passado).
Diante deste cenário, a Secex revisou para baixo a previsão de superávit comercial em 2025, divulgando uma expectativa de US$ 50,4 bilhões no ano, considerando que as exportações brasileiras somem US$ 341,9 bilhões (1,5% acima de 2024) e que as importações cheguem a US$ 291,5 bilhões, alta de 10,9% na comparação com o ano passado.
Para compor tais projeções, assume-se que a demanda mundial venha enfraquecendo, derrubando preços de commodities, ao mesmo tempo em que a economia brasileira continua demandando insumos e bens de capital importados em níveis crescentes.
Em suma, ainda não foi apurada uma mudança drástica no perfil da balança comercial brasileira nos últimos meses, apesar de uma deterioração do superávit. As causas vão além do tarifaço dos EUA, incluindo particularmente a desaceleração da demanda de commodities exportadas pelo Brasil, como soja e minério de ferro. Ainda assim, esforços intensivos de negociações do Brasil com seus principais parceiros comerciais continuam essenciais e urgentes para evitar perdas com incertezas e desequilíbrios nas tarifas de comércio internacional.
Embora o novo tarifaço dos EUA pareça insustentável, considerando o histórico de relacionamentos, acordos e transações envolvendo os dois países, o ponto de equilíbrio a curto prazo ainda é incerto, daí a prioridade e urgência na busca por definições mais ponderadas e acordos que estabilizem a ordem nas relações entre Brasil e EUA, com maior racionalidade técnica e respeito institucional.