Tarifas de Trump podem levar inflação dos EUA a 4% e estagnar o PIB, diz Kanczuk, do ASA

As tarifas anunciadas por Donald Trump podem levar os Estados Unidos (EUA) a uma inflação de 4% e a um crescimento econômico próximo de zero. Essa é a análise do diretor de macroeconomia do ASA e ex-diretor de política econômica do Banco Central (2019 a 2021), Fabio Kanczuk.
O economista explica que as taxas comerciais elevam o preço da importação e pressionam a inflação para cima e o Produto Interno Bruto (PIB) para baixo. No entanto, ele pontua que existe uma “defasagem grande” de cerca de quatro meses.
“Ainda não deu para ver os impactos e o fato de não ver os impactos esperados faz com que o mercado fique super tranquilo. Mas nós esperamos que vai ter impacto, sim, só que tem uma defasagem grande”, disse Kanczuk em evento da instituição financeira do bilionário Alberto Safra.
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O ex-BC ainda chama a atenção para um fator adicional que pode impactar fortemente a economia: a migração. Segundo ele, as deportações nos EUA têm sido significativamente maiores do que o esperado, o que resultou em uma reversão do saldo migratório neste ano.
“As deportações têm sido muito maiores do que se imaginava, e o fluxo que está aparecendo é mais perto de menos 200 mil, ao invés de mais 700 mil. Isso impacta o mercado de trabalho de forma importante”, afirma.
A redução na entrada de imigrantes deve afetar diretamente a dinâmica do emprego no país. “A geração de empregos vai surpreender para baixo, porque tem menos oferta de empregados”, diz.
Diante desse cenário, Kanczuk não descarta a possibilidade de uma recessão da economia norte-americana. “A probabilidade de recessão nos Estados Unidos é 51% — não é um número sério, mas quer dizer que é mais provável ter recessão do que não”.
Ele pondera ainda que a estimativa está “completamente fora do consenso”, uma vez que o mercado “relaxou” as projeções.
Como fica o Fed diante desse cenário?
O diretor do ASA afirma que o Federal Reserve (Fed) deve retomar o afrouxamento monetário nos EUA em outubro deste ano, devido à fraqueza no mercado de trabalho.
“O Fed vai ter mais inflação e, por outro lado, menos crescimento e mercado de trabalho mais fraco. Eles têm um mandato duplo e pesam as duas coisas, mas, historicamente, põem um peso maior no mercado de trabalho”, diz Kanczuk.
A expectativa do economista é de que o banco central norte-americano comece o ciclo com um corte de 0,25 ponto percentual — isso reduziria a atual taxa de 4,25% a 4,50% para 4,00% a 4,25% ao ano.
A opinião da instituição financeira de Safra também não é consenso no mercado, que projeta uma primeira redução dos juros já em setembro deste ano. Segundo o CME FedWatch Tool, as chances de uma flexibilização nessa reunião são de 54,4%.