Taxas dos DIs sobem com piora da avaliação do risco fiscal

As taxas dos contratos de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam a sessão desta quinta-feira (2) com ganhos firmes, de 15 pontos-base em alguns vencimentos, após o mercado piorar a avaliação sobre o risco fiscal brasileiro, em meio a receios de que o governo Lula possa avançar na proposta de tarifa zero para ônibus urbanos em todo o país.
A aprovação na Câmara dos Deputados da proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil por mês, além de desconto para quem recebe até R$ 7.350, também impactou as taxas ao longo do dia.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2028 estava em 13,46%, em alta de 8 pontos-base ante o ajuste de 13,38% da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2029 marcava 13,375%, ante o ajuste de 13,254%.
Entre os contratos longos, o contrato para janeiro de 2035 tinha taxa de 13,64%, com elevação de 15 pontos-base ante 13,493%.
O que movimento os DIs hoje?
Pela manhã, as taxas chegaram a ceder no Brasil, após a Câmara aprovar na véspera o projeto sobre IR, com as devidas contrapartidas para que não haja impacto fiscal — como queria o mercado. A renúncia fiscal estimada é de R$ 25,8 bilhões, a ser compensada pela taxação em até 10% de quem ganha acima de R$ 50 mil por mês. A proposta vai agora ao Senado.
Durante a sessão desta quinta-feira (2), no entanto, cresceu entre os agentes a percepção de que a isenção do IR será convertida em capital político pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua campanha de reeleição, em 2026.
Este fator somou-se às pesquisas de opinião mais recentes, favoráveis a Lula, e aos comentários do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reafirmando a intenção de não concorrer à Presidência. Tarcísio é o candidato favorito do mercado.
Já no início da tarde, as taxas futuras aceleraram os ganhos, em meio a rumores de que o governo Lula estaria estudando a possibilidade de um programa federal para implementar a tarifa zero em transporte coletivo de passageiros em todo o Brasil.
O receio de que iniciativas como essa possam se multiplicar com a proximidade do ano eleitoral, gerando impacto fiscal, dava força às taxas no Brasil, afirmaram cinco profissionais à Reuters.
“O mercado estava mais tranquilo, sem muitas movimentações, mas no fim da manhã vimos um estresse por conta das notícias sobre a gratuidade das tarifas de ônibus”, afirmou Mariana Salomão, sócia da One Investimentos. “Isso acaba piorando a perspectiva para o fiscal.”
No pico do dia, às 12h03 (horário de Brasília), a taxa do DI para janeiro de 2035 atingiu 13,715%, em alta de 22 pontos-base ante o ajuste da véspera.
“Esse movimento de abertura na curva de juros no Brasil está muito relacionado ao agravamento do quadro fiscal do país. Contas públicas cada vez piores, governo aprovando medidas populistas visando as eleições de 2026, funcionários públicos buscando reajuste em remuneração — tudo isso tem puxado os (prêmios dos) DIs para cima”, comentou à tarde Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, citando também a questão das tarifas de ônibus.
Passado o momento de maior estresse, as taxas dos DIs perderam força, mas ainda assim encerraram a sessão regular com altas firmes.
Perto do fechamento a curva brasileira precificava em 99% a probabilidade de manutenção da Selic em 15% na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, no início de novembro.
O avanço das taxas no Brasil ocorreu apesar de no exterior os rendimentos dos Treasuries mostrarem maior acomodação, registrando baixas no fim da tarde. Às 16h34, o rendimento do Treasury de dez anos — referência global para decisões de investimento — caía 2 pontos-base, a 4,087%.