Economia

Terras raras viram trunfo estratégico da China; Brasil quer entrar no jogo

30 jun 2025, 16:31 - atualizado em 30 jun 2025, 16:31
Homem trabalha em mina de terras raras no condado de Nancheng, na província chinesa de Jiangxi 20/10/2010 REUTERS/Stringer
Homem trabalha em mina de terras raras no condado de Nancheng, na província chinesa de Jiangxi 20/10/2010 REUTERS/Stringer

O acordo firmado recentemente entre China e Estados Unidos para agilizar o fornecimento de terras raras reacendeu o alerta sobre um dos recursos mais estratégicos da nova economia global.

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As terras raras são um grupo de elementos químicos geralmente encontrados na natureza misturados a minérios, de difícil extração — por isso o nome. Essenciais para a indústria de alta tecnologia, energia renovável e defesa, esses elementos são amplamente controlados pela China, que domina a produção e o refino mundial.

No meio dessa disputa, o Brasil chama atenção por outro motivo: abriga a segunda maior reserva de terras raras do planeta e avança em projetos que podem torná-lo um dos principais fornecedores globais.

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Por que o Brasil ainda não explora todo o seu potencial?

O domínio chinês sobre a cadeia global de terras raras impõe desafios a países como o Brasil. Segundo Ysrael Marrero Vera, pesquisador do Centro de Tecnologia Mineral – CETEM/MCTI, o mercado é amplamente influenciado por subsídios estatais e preços artificialmente baixos mantidos pela China, o que torna a concorrência desafiadora para países que não operam sob as mesmas condições.

“Outro fator limitante é o longo tempo necessário para viabilizar um empreendimento mineral no Brasil, que pode levar até uma década. É um processo que inclui desde o requerimento de pesquisa até o comissionamento da mina, passando por etapas como a concessão de lavra e o licenciamento ambiental”, explicou.

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Enquanto países como Austrália e Canadá levam de três a cinco anos para colocar uma mina em operação, o Brasil ainda lida com entraves burocráticos, insegurança regulatória e prazos estendidos. Por outro lado, Marrero vê um ambiente internacional mais favorável à diversificação, motivado por tensões comerciais e questões de segurança de suprimento.

Além dos obstáculos regulatórios, o Brasil enfrenta gargalos tecnológicos. “O processamento e a separação dos elementos terras raras, especialmente os pesados, são etapas críticas e exigem domínio técnico de alto nível”, diz Marrero.

Instituições como o CETEM e o CDTN desenvolvem rotas hidrometalúrgicas e operam miniplantas piloto para testar tecnologias de purificação de óxidos como neodímio, praseodímio, disprósio e térbio. Ainda assim, o país carece de infraestrutura semi-industrial para validar essas rotas em escala próxima da realidade de mercado.

“Mesmo com competência instalada, muitas empresas brasileiras ainda preferem buscar soluções no exterior”, afirma. Ele aponta também a complexidade mineralógica das jazidas brasileiras e os custos logísticos elevados como desafios adicionais.

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Projetos ganham tração com apoio público e privado

Apesar dos desafios, o Brasil já começou a dar passos concretos na produção de terras raras. Em 2023, o governo federal lançou um edital conjunto do BNDES e da Finep, com até R$ 5 bilhões destinados a projetos em setores considerados estratégicos — incluindo a cadeia de terras raras.

Uma das iniciativas que mais avançaram nesse contexto foi a inauguração da planta piloto de ímãs permanentes em Lagoa Santa (MG), resultado da parceria entre a FIEMG e o SENAI. Os ímãs de terras raras são insumos críticos para motores elétricos e turbinas eólicas, tecnologias centrais para a transição energética global.

No setor privado, a mineradora Serra Verde, em Minaçu (GO), iniciou a produção comercial de concentrado de terras raras em janeiro de 2024. Com capacidade para cerca de 5 mil toneladas por ano e contratos internacionais firmados, o projeto foi classificado como estratégico pela Minerals Security Partnership, uma iniciativa que reúne Estados Unidos, União Europeia e aliados. A expectativa é de expansão até 2030.

Outros empreendimentos também ganham corpo. A Aclara Resources projeta iniciar a operação do projeto Carina (GO) entre 2027 e 2028, enquanto a Viridis Mining investe R$ 1,35 bilhão em Poços de Caldas (MG), com produção prevista para o mesmo período. Já o projeto Caldeira, da australiana Meteoric, tem previsão de entrada em operação já em 2026, com aporte de R$ 1,5 bilhão.

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Brasil pode se tornar alternativa à liderança chinesa?

De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), o Brasil pode se consolidar entre os três maiores produtores mundiais de terras raras com base nesses empreendimentos. A Agência Nacional de Mineração (ANM) já registrou mais de 1.400 autorizações de pesquisa, embora apenas Serra Verde esteja em operação no momento.

“O país já realiza a pesquisa geológica e a extração de concentrados, mas ainda precisa avançar no refino, na produção de metais e na fabricação de insumos de alto valor agregado”, afirma Marrero. Para ele, o fortalecimento da cadeia produtiva passa por uma articulação entre governo, setor privado e centros de pesquisa.

“Com os investimentos certos e políticas adequadas, o Brasil tem todas as condições para ocupar um espaço estratégico em um mercado dominado por poucos players”, conclui.

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gabryella.mendes@moneytimes.com.br