‘Trumpulência’: Ex-Brics vê nova dinâmica dos EUA e fala em reação ‘incomum’ dos mercados

A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos traz um novo “modus operandi” ao comércio global. O economista político e ex-presidente do Banco Brics Marcos Troyjo descreveu o cenário atual como uma “trumpulência“, jogo de palavras que une turbulência, opulência e incongruência.
Desde que voltou à Casa Branca, Trump está focado em repatriar cadeias produtivas, proteger a indústria nacional e enfrentar rivais estratégicos. Em entrevista ao M0ney Minds, Troyjo disse que a abordagem gera turbulência, apesar da pujança econômica americana, e revela incongruências que penalizam empresas americanas e alteram as relações comerciais globais.
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A “trumpulência” no governo Trump
De acordo com o economista, a turbulência nos Estados Unidos vem de alguns pontos. “Você tem turbulência porque os EUA decidiram sair da Organização Mundial da Saúde (OMS) e colocar à margem a Organização Mundial do Comércio (OMC)“, exemplificou.
Além disso, Troyjo ressaltou que início de tensões entre parceiros comerciais, como Canadá, México e União Europeia, e a guerra tarifária com a China amplia ainda mais o momento de incerteza.
“Você tem aí uma situação de bastante turbulência, imprevisibilidade, insegurança e os investidores e parceiros comerciais acabam puxando o freio de mão”, explicou.
Contudo, indo contra a visão de declínio da economia norte-americana, o economista ressalta outro termo importante ao seu jogo de palavras: a opulência. Segundo Troyjo, a economia americana permanece forte.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou que os Estados Unidos finalizaram 2024 com um PIB de US$ 30 trilhões, enquanto o PIB chinês vem se distanciando nos últimos cinco anos. Além disso, no mercado de capitalização, das 10 maiores empresas do mundo, 9 são americanas. Em 2005, este valor era significativamente menor, com apenas 4 empresas.
No entanto, para o economista, essa potência significa que viradas bruscas de política têm grande potencial de disrupção.
Por fim, a incongruência surge da contradição entre a desregulamentação, corte de impostos e as medidas de comércio “justo e recíproco” com tarifas.
As empresas multinacionais americanas prosperam dispersando suas atividades produtivas globalmente em busca de custos baixos, o que vêm há ser afetado pela política tarifária imposta por Trump.
De acordo com o economista, forçar as empresas a repatriarem operações implica depreciar investimentos recentes e realizar novos esforços de caixa nos EUA. “[Isso] vai machucar lucros, a distribuição de dividendos e, portanto, vai machucar o desempenho dessa empresa em bolsas de valores”.
O dólar e a reação dos mercados
Troyjo ressaltou que a reação dos mercados também é incomum. Historicamente, incertezas levavam a um fluxo de recursos para títulos do governo americano. Contudo, como a instabilidade agora emana da própria economia americana, esse fluxo não está ocorrendo.
Sobre a posição do dólar, apesar das especulações sobre seu fim, não há substituto claro no horizonte. Para o economista, a moeda chinesa e criptomoedas não estão prontas para assumir o papel do dólar como moeda de reserva ou referência para contratos em larga escala.
A transição para uma nova moeda dominante leva muitas décadas, como mostram os 70 anos entre a economia americana superar a britânica e o dólar consolidar seu papel global. “Eu não vejo isso acontecendo com outra moeda nacional”, afirmou Troyjo.
Quanto à resposta dos parceiros comerciais dos EUA, embora ninguém se furte a negociar com a maior economia e importadora do mundo, eles estão se movimentando. Países como Europa e China, que estavam em processo de “desacoplamento”, voltaram a conversar e planejam missões comerciais.
Japão e China, adversários históricos, estão coordenando posições conjuntas para enfrentar as restrições americanas. De acordo com o economista, essa busca por alternativas fortalece a posição de negociação desses países com os EUA.