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Trégua entre mercado e política está com os dias contados

26 out 2017, 21:10 - atualizado em 05 nov 2017, 13:52

A tese de descolamento entre economia e política está com os dias contados. As incertezas em torno do desenrolar da agenda de reformas, alimentadas pela proximidade das eleições de 2018, impedem fôlego adicional dos mercados. Na visão de analistas, pronunciam um cenário tumultuado para os ativos brasileiros no ano que vem.

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O dólar à vista subiu 1,42% nesta quinta-feira (26), cotado em R$ 3,2845, maior nível desde 6 de julho. Além do aspecto político relacionado à vitória de Michel Temer na Câmara com um placar menor do que em agosto, pesou o salto do dólar frente ao euro sob a especulação de que Janet Yellen, atual presidente do Federal Reserve (e mais inclinada a juros baixos), estaria fora da disputa para comandar a autoridade no ano que vem. No mês, o dólar comercial acumula valorização de 3,5%.

A sessão de menor apetite ao risco em mercados emergentes refletiu nos juros futuros, que já precificam um diferencial de taxas de juros de curto e longo prazo na BM&F por conta do calendário político. Nesta quinta-feira, os juros futuros subiram – alta do dólar sugere pressão inflacionária à frente. Ao fim do dia, o contrato de juros futuros para janeiro de 2019 mostrava taxa de 7,36%, enquanto aquele para janeiro de 2023 mostrava taxa de 9,82%.

Outro termômetro é o risco Brasil medido pelo contrato de swap de default de crédito (CDS, na sigla em inglês) de cinco anos. Depois de tocar em mínimas de 2017 (perto de 170 pontos) na semana passada, subiu 2,56% para 177 pontos nesta sessão. O Credit Default Swap é uma espécie de seguro contra o calote de dívidas públicas ou privadas. Quanto maior a pontuação, maior é o risco atribuído ao tomador de recursos.

Na visão de Natalia Kornela Setlak, analista do banco sueco Nordea, o câmbio está fora do lugar: “A economia está se recuperando lentamente, mas as finanças públicas permanecerão vulneráveis por mais tempo, os riscos políticos geralmente são elevados e o câmbio está muito forte em relação ao seu valor justo em torno de R$ 3,50, o que, em geral, indica que a história de apreciação do real de 2016 e 2017 é improvável que se repita em 2018.”

“A conjunção de encargo fiscal e de dívidas continuam a aumentar. Acreditamos que é hora de começar a avaliar o risco político de a reforma da Previdência não ser aprovada pelo Congresso em 2017 ou 2018”, avalia Dev Ashish, economista do Société Générale. Para ele, esta situação trará “severas consequências” para o real, inflação e juros.

A consultoria do economista Nouriel Roubini concorda com Henrique Meirelles: se a reforma da Previdência não sair agora, dificilmente passará em 2018. Indo além, caso o plano do governo de votá-la em novembro fracasse, a Roubini Global Economics vê chances de medidas paliativas elevaram o risco de populismo nas eleições de 2018.

O ministro da Fazenda declarou que outras iniciativas terão de ser adotadas caso a reforma não seja aprovada, como cortes de gastos e até a suspensão do pagamento do abono salarial do PIS/Pasep. “Isso teria um efeito imediato no crescimento e certamente seria recebido negativamente pelos mercados”, diz relatório da RGE assinado por Pedro Tuesta e obtido pelo Money Times.

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