Trump demite diretora Lisa Cook e abre crise de credibilidade no Federal Reserve

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tomou nesta segunda-feira (25) a medida sem precedentes de demitir Lisa Cook do cargo de diretora do Federal Reserve por causa de alegações de impropriedade em empréstimos hipotecários.
O presidente pediu que Cook renunciasse em 20 de agosto, depois que o diretor da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos EUA, William Pulte, nomeado por Trump, acusou-a de reivindicar duas de suas hipotecas como residências principais. O Departamento de Justiça dos EUA disse que estava investigando o assunto.
“Determinei que há causa suficiente para removê-la de seu cargo”, disse Trump em uma carta a Cook publicada em sua plataforma de rede social.
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Trump disse que havia provas suficientes de que Cook havia feito declarações falsas em pedidos de hipoteca. “No mínimo, a conduta em questão demonstra o tipo de negligência grave em transações financeiras que questiona sua competência e confiabilidade como reguladora financeira.”
Cook havia se mostrado determinada a continuar no cargo.
“Não tenho intenção de ser intimidada a deixar meu cargo por causa de algumas questões levantadas em um tuíte”, disse ela em 20 de agosto. “Pretendo levar a sério qualquer pergunta sobre meu histórico financeiro como membro do Federal Reserve e, portanto, estou reunindo informações precisas para responder a qualquer pergunta legítima e fornecer os fatos.”
Cook, que foi a primeira mulher afro-americana a ocupar o cargo de diretora do Federal Reserve e nomeada por Joe Biden em 2022, contraiu as hipotecas em questão em 2021, quando era acadêmica. Um formulário oficial de divulgação financeira para 2024 lista três hipotecas detidas por Cook, com duas listadas como residências pessoais.
Pulte alega que Cook cometeu fraude hipotecária ao listar duas de suas hipotecas como sua residência principal, mas não forneceu nenhuma evidência pública para apoiar sua alegação. Os empréstimos para residências principais podem ter taxas de empréstimo mais baixas.
Em uma entrevista à Bloomberg Television em 21 de agosto, Pulte disse que a suposta fraude de Cook é “evidente” e facilmente constatada em documentos disponíveis ao público. Pulte também disse que as questões foram descobertas como parte de investigações regulares e não por meio de uma caça às bruxas política contra aqueles que se opõem ao governo Trump.
As alegações de Pulte contra Cook coincidem com um amplo esforço do governo Trump contra os programas de diversidade, equidade e inclusão no governo dos EUA, um processo que levou à saída de algumas mulheres e minorias proeminentes.
O governo Trump também tem como alvo outros oponentes políticos, incluindo o senador norte-americano Adam Schiff, com acusações semelhantes de fraude hipotecária.
Campanha de pressão
A demissão de Cook marca uma escalada na tentativa de Trump de remodelar a composição da liderança do Fed. Ele vem pressionando o banco central para que faça cortes agressivos nas taxas de juros em um momento em que as autoridades do Fed as mantêm estáveis em meio a preocupações constantes com a inflação.
O presidente tem ameaçado regularmente demitir o chair do Fed, Jerome Powell, que foi indicado por Trump durante seu primeiro mandato na Casa Branca e depois indicado para um segundo mandato por Biden. Trump, que não tem autoridade legal para demitir o chair do Fed, exceto “por justa causa”, tem recuado dessa ameaça à medida que Powell se aproxima do fim de seu mandato como chefe do Fed em maio próximo.
A saída de Cook do Fed –ela estava servindo em um mandato que expirava em 2038 — poderia acelerar a reformulação do Fed pelo presidente.
Recentemente, ele nomeou a diretora do Fed Michelle Bowman para ser a principal reguladora bancária do banco central, e acredita-se que esteja considerando o diretor do Fed Christopher Waller, que ele nomeou para a diretoria em 2020, para suceder Powell.
Duas outras nomeações de Biden para a diretoria do Fed ainda têm algum tempo restante em seus mandatos, enquanto Powell poderia permanecer como diretor até 2028, após o término de seu mandato como chefe do banco central.
Nos últimos anos, as questões financeiras têm sido um assunto regular para as autoridades do banco central dos EUA. Em 2021, os então presidentes do Fed de Dallas e Boston renunciaram após revelações de negociações ativas nos mercados financeiros.
Embora ambos tenham sido posteriormente inocentados de irregularidades pelo órgão de fiscalização interno do Fed, o inspetor-geral do banco central afirmou que suas negociações criaram a aparência de um conflito de interesses. Em resposta à controvérsia, o Fed reforçou suas regras de ética que regem os investimentos pessoais dos funcionários.