Trump quer alguém alinhado no Fed — e isso pode bagunçar a leitura do mercado, diz estrategista-chefe da RB
A tensão entre Donald Trump e o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, voltou a ocupar o centro do debate econômico — e pode ter impactos profundos na condução da política monetária dos Estados Unidos.
Rumores recentes de que Powell estaria cogitando renunciar à presidência do Fed acenderam um sinal de alerta entre investidores globais, segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
“Me parece que a relação entre os dois é bem ruim, e isso gera desconfiança sobre os cortes de juros que podem vir”, afirmou Cruz, em entrevista ao Giro do Mercado, nesta terça-feira (15).
Para ele, a eventual nomeação de um sucessor por Trump — o nome mais citado nos bastidores é Kevin Warsh — pode minar a percepção de independência do banco central americano e, com isso, prejudicar a previsibilidade dos mercados.
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“Trump quer alguém alinhado, e isso pode comprometer a leitura futura da política monetária americana. Vai ficar a dúvida: será que ele está reduzindo os juros porque realmente acredita que a inflação está controlada, ou porque foi um pedido que veio de cima?”, questiona o executivo.
Esse ruído político pode manter a curva longa de juros pressionada, mesmo com cortes de curto prazo. “A inflação futura pode ser reprecificada para cima, e isso gera distorções na economia”, complementa.
Inflação ainda resiste: moradia segue como “calcanhar de Aquiles”
Apesar da queda no rendimento médio do trabalhador americano em junho, a inflação ainda está longe da meta de 2% perseguida pelo Fed. Cruz lembra que a taxa anual segue em 2,7%, com destaque para o componente de moradia, que continua subindo, mesmo após sucessivos aumentos nos juros.
“É impressionante como os preços de moradia continuam pressionando a inflação. Mesmo com a taxa básica em patamares altos, esse item não cede. É o grande calcanhar de Aquiles do Banco Central americano”, destaca o estrategista.
Do lado positivo, a desaceleração dos salários pode ser vista como um ponto a favor da política monetária. “Para o trabalhador é ruim, claro. Mas para o Fed é um dado que ajuda a justificar um corte de juros mais à frente”, explica.
Ainda assim, o cenário continua incerto. Alguns dirigentes do Fed defendem dois cortes ainda em 2024, enquanto outros falam apenas em uma redução de juros em 2025. A divisão interna também reforça a cautela do mercado.