Donald Trump

Trump quer uma Coca-Cola “patriótica” — e o Brasil pode sair ganhando

23 out 2025, 11:48 - atualizado em 23 out 2025, 11:48
Trump anunciou em sua rede social, a Truth Social, que havia “convencido” a Coca-Cola a fabricar uma versão de sua bebida usando açúcar de cana produzido nos EUA
Trump anunciou em sua rede social, a Truth Social, que havia “convencido” a Coca-Cola a fabricar uma versão de sua bebida usando açúcar de cana produzido nos EUA. Imagem: Inteligência Artificial

Donald Trump quer uma Coca-Cola “mais americana”. Na prática, isso significa substituir o xarope de milho de alta frutose — adoçante preferido da indústria por ser mais barato e subsidiado — por açúcar de cana cultivado nos Estados Unidos.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Mas a ideia, que parece simples no discurso, esbarra em um obstáculo que nenhum decreto presidencial resolve: os EUA não produzem cana-de-açúcar suficiente para abastecer o próprio mercado.

Enquanto o governo americano discute como elevar a produção doméstica, o Brasil mantém a posição de maior exportador de açúcar do mundo, respondendo por cerca de 40% das vendas globais, segundo dados recentes do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Se o novo plano da Coca-Cola sair do papel, é do Brasil que pode vir a matéria-prima para o “refrigerante patriótico” de Trump.

Açúcar, política e marketing

A história começou no início do ano, quando Trump afirmou em sua rede social, a Truth Social, ter “convencido” a Coca-Cola a produzir uma versão de sua bebida com açúcar de cana americano.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A companhia confirmou a iniciativa meses depois, prometendo lançar o novo produto ainda em 2025. Mas a proposta, que parecia simples, logo esbarrou em limitações práticas: a oferta de cana nos EUA é insuficiente.

Em entrevista à Bloomberg News, o diretor financeiro da Coca-Cola, John Murphy, reconheceu as restrições: “Será uma implementação comedida. Há apenas uma quantidade limitada de açúcar de cana disponível nos Estados Unidos.”

Ou seja: o refrigerante “à moda Trump” deve sair do papel, mas de forma gradual e restrita a alguns mercados regionais.

Entre o açúcar e o vidro

Murphy destacou dois gargalos principais: a oferta de açúcar e a capacidade de produção de garrafas de vidro.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Sim, vidro. A Coca-Cola quer replicar o sucesso da “Coca Mexicana”, adoçada com cana e vendida em garrafas de vidro — símbolo nostálgico de “qualidade superior”.

Trump anunciou em sua rede social, a Truth Social, que havia “convencido” a Coca-Cola a fabricar uma versão de sua bebida usando açúcar de cana produzido nos EUA
Trump anunciou em sua rede social, a Truth Social, que havia “convencido” a Coca-Cola a fabricar uma versão de sua bebida usando açúcar de cana produzido nos EUA. Imagem: Canva

“Se você observar o sucesso da Coca mexicana nos Estados Unidos, verá que é uma combinação do produto e da embalagem. Queremos oferecer essa mesma experiência, mas com açúcar americano”, afirmou Murphy à Bloomberg.

O problema é que a linha de produção de vidro é limitada e diferente da utilizada para latas, enquanto a demanda global por esse tipo de embalagem cresce. Resultado: a Coca-Cola planeja lançar o novo produto em etapas e só depois — possivelmente em 2026 — expandir a distribuição.

O dilema industrial americano

Trump defende um refrigerante “100% americano”, mas o país não tem infraestrutura agrícola nem industrial para sustentar a promessa.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Produtores de milho, que dominam a cadeia de adoçantes nos EUA, já manifestaram preocupação: substituir o xarope por cana poderia reduzir a demanda e afetar um setor protegido por subsídios há décadas.

Enquanto isso, o Brasil observa de camarote. Para que toda a produção norte-americana de Coca-Cola seja adoçada com açúcar de cana, será preciso importar. E é nesse cenário que o agronegócio brasileiro pode sair ganhando.

Não seria a primeira vez que uma decisão política em Washington impulsionasse o setor agrícola do Brasil. Hoje, o país responde por cerca de 50% das exportações globais de açúcar, com clima favorável, tecnologia consolidada e escala industrial.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Na B3, empresas como Raízen (RAIZ4) e São Martinho (SMTO3) acompanham de perto o movimento. Um aumento da demanda internacional pode pressionar os preços da commodity e beneficiar as exportadoras brasileiras.

Em contrapartida, a sobretaxa de 50% imposta por Trump ao açúcar brasileiro continua sendo um entrave para essa equação fechar.

Contexto de mercado

Enquanto Trump fala em açúcar, o negócio da Coca-Cola segue em outra direção:

  • As vendas da Coca Zero cresceram 14% globalmente no terceiro trimestre;

    CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
    CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
  • A empresa amplia sua presença em bebidas consideradas mais saudáveis, como Smartwater e BodyArmor;

  • As ações da Coca-Cola (KO) subiram mais de 3% após o último balanço, impulsionadas pelo desempenho do portfólio sem açúcar.

Ou seja, a empresa pode até seguir o jogo político de Trump — mas seu foco real está em capturar o consumidor que quer beber sem culpa.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
Repórter
Jornalista com especialização em Gestão de Mídias Digitais. Atua como repórter nos portais de notícias Money Times e Seu Dinheiro.
isabelle.miranda@seudinheiro.com
Linkedin
Jornalista com especialização em Gestão de Mídias Digitais. Atua como repórter nos portais de notícias Money Times e Seu Dinheiro.
Linkedin
As melhores ideias de investimento

Receba gratuitamente as recomendações da equipe de análise do BTG Pactual – toda semana, com curadoria do Money Picks

OBS: Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar