CEOs de Wall Street alertam: Tombo no mercado pode estar próximo; ‘múltiplos saturados’
Presidentes-executivos de gigantes de Wall Street, como Morgan Stanley (MS) e Goldman Sachs (GS), alertaram nesta terça-feira (13) que os mercados de ações podem estar caminhando para uma queda, refletindo a crescente preocupação com as avaliações elevadas das empresas.
Os receios de uma bolha de mercado surgem no momento em que o S&P 500 continua sua ascensão meteórica, batendo recordes históricos e evocando memórias do boom da internet no fim dos anos 1990.
“Devemos acolher a possibilidade de haver reduções de 10% a 15% que não sejam impulsionadas por algum tipo de colapso macroeconômico”, disse Ted Pick, CEO do Morgan Stanley, durante a Cúpula Global de Investimentos de Líderes Financeiros, em Hong Kong.
Até agora, os mercados têm ignorado em grande parte as preocupações com a inflação, as taxas de juros elevadas, a incerteza política decorrente das mudanças no comércio global e a paralisação do governo dos EUA, que já dura cinco semanas.
“Quando esses ciclos acontecem, as coisas podem se manter por um tempo. Mas existem fatores que mudam o sentimento do mercado e provocam quedas — e nenhum de nós é inteligente o suficiente para prevê-los até que de fato ocorram”, afirmou David Solomon, CEO do Goldman Sachs, no mesmo evento.
Bolsas dos EUA caem e o ‘medidor do medo’ sobe
Os principais índices de Wall Street caíam nesta terça-feira, enquanto o VIX — índice de volatilidade da bolsa norte-americana, conhecido como medidor do medo — pairava próximo da máxima em duas semanas.
“Os múltiplos do setor de tecnologia estão saturados”, disse Solomon, acrescentando, porém, que o mesmo não se aplica ao mercado em geral.
As observações refletem um sentimento crescente entre executivos veteranos de Wall Street, atentos às distorções nas avaliações.
No mês passado, Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase (JPM), também havia alertado para o risco elevado de uma correção significativa no mercado de ações dos EUA nos próximos seis meses a dois anos.
“Estou muito mais preocupado com isso do que com os outros”, disse Dimon, segundo a BBC, apontando tensões geopolíticas, gastos fiscais elevados e a remilitarização global como fatores que aumentam a incerteza.
No início desta semana, codiretores de investimento da Bridgewater Associates, maior fundo de hedge do mundo, também afirmaram que os investidores estão ignorando riscos crescentes.
Boom ou bolha da IA?
O entusiasmo em torno da inteligência artificial (IA) tem levado a comparações com a bolha das empresas ponto-com, à medida que investidores despejam bilhões em companhias de tecnologia em meio a avaliações altíssimas e expectativas de crescimento acelerado.
“Às vezes, vemos bolhas”, escreveu Michael Burry — gestor conhecido por prever o colapso do mercado imobiliário antes da crise de 2008 — na rede social X (ex-Twitter), junto com uma foto de seu personagem no filme A Grande Aposta.
Em setembro, o Citigroup (C) estimou que os gastos com infraestrutura de IA por parte das big techs podem ultrapassar US$ 2,8 trilhões até 2029, acima dos US$ 2,3 trilhões projetados anteriormente.
O frenesi corporativo também é visível em novos acordos bilionários: nesta segunda-feira, a OpenAI assinou um contrato de sete anos com a Amazon (AMZN), no valor de US$ 38 bilhões, para o fornecimento de serviços de nuvem.
A bolha das ponto-com no fim dos anos 1990 foi impulsionada por investimentos especulativos em companhias baseadas na internet, elevando as avaliações de forma insustentável até o colapso em 2000, que eliminou trilhões de dólares em valor de mercado.
Mesmo assim, analistas afirmam que o boom atual da IA é diferente, já que as empresas líderes — como Nvidia (NVDA), Microsoft (MSFT) e Alphabet (GOOG) — possuem lucros sólidos e negócios sustentáveis.
No mês passado, a Nvidia fez história ao se tornar a primeira empresa a atingir valor de mercado de US$ 5 trilhões.