UBS alerta: Brasil precisa de ajuste fiscal rápido para recuperar confiança do mercado
O Brasil precisará de um ajuste fiscal rápido e concentrado na redução de despesas se quiser reconquistar a confiança do mercado, de acordo com relatório do UBS. Para o banco, soluções graduais e ancoradas em aumento de arrecadação já se mostraram ineficazes em outros momentos da história econômica.
As economistas Solange Srour e Débora Nogueira, do UBS, afirmam que a estratégia recorrente dos governos brasileiros — de promover ajustes lentos, ancorado em aumentos pontuais de arrecadação e em metas de resultado primário baixas — dificilmente gera resultados consistentes sobre confiança, investimento e crescimento. Segundo elas, esse tipo de abordagem deixa o país mais vulnerável à volatilidade externa.
Com a aproximação das eleições presidenciais de 2026, a discussão sobre o tamanho e o ritmo do ajuste fiscal necessário para estabilizar a dívida pública tende a voltar ao centro do debate econômico. O banco argumenta que as condições iniciais da economia brasileira em 2027 inviabilizam um ajuste gradual.
“A carga tributária já está na máxima histórica, a economia opera sem capacidade ociosa, e os juros — ainda que em trajetória de queda — estão bastante elevados em termos reais”, destacam as economistas.
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Além disso, o gasto público se expandiu nos últimos anos, com a ampliação de programas e benefícios sociais tanto em valor quanto em número de beneficiários. Já do lado da receita, o país já apresenta níveis elevados de arrecadação em relação a outras economias emergentes, o que limita o espaço para novos aumentos de impostos.
“Para que o país recupere a confiança, o choque de credibilidade precisa vir do lado das despesas, não da receita. É fundamental enfrentar os mecanismos que tornam o gasto público automaticamente crescente e inflexível”, diz o banco.
O relatório ainda destaca que ajustes graduais baseados em aumento de impostos tendem a fracassar, pois prolongam a incerteza e mantêm a percepção de fragilidade fiscal, reduzindo o apetite por investimento privado. Por outro lado, ajustes rápidos e centrados na redução de despesas permanentes são mais eficazes, não apenas para estabilizar a dívida, mas também para melhorar expectativas e impulsionar a atividade econômica.
O UBS avalia o atual cenário brasileiro como desafiador: a dívida bruta ultrapassa 78% do PIB, o déficit nominal está próximo de 8% do PIB e os juros reais seguem em torno de 10%, um dos níveis mais altos do mundo. No exterior, o contexto também é complexo — embora o enfraquecimento do dólar e a busca global por diversificação ajudem no processo de desinflação, os juros internacionais permanecem elevados e grande parte dos países lida com altos níveis de endividamento.
Lições do passado
O banco compara o caso brasileiro a experiências internacionais de ajustes graduais e arrecadatórios, como as da Itália nos anos 1990, da França no início dos anos 2010 e da Grécia após 2010, que resultaram em recessões prolongadas, deterioração da confiança e aumento da dívida pública.
“Essas experiências internacionais têm um denominador comum: a confiança dos agentes econômicos responde à qualidade e à velocidade do ajuste, não ao volume de promessas. Quando o governo demonstra disposição para cortar privilégios, rever indexações e atacar despesas obrigatórias, o setor privado antecipa a melhora das condições macroeconômicas, elevando investimento e reduzindo prêmios de risco”, ressalta o UBS.
O banco lembra ainda do exemplo brasileiro pós-2016. Após a recessão, com queda acumulada de mais de 7% no PIB em dois anos e salto da dívida de 52% para 70% do PIB, a chegada do governo Michel Temer e a sinalização de um programa fiscal, sustentado pelo teto de gastos e reformas estruturais, ajudaram a reduzir os prêmios de risco, derrubar os juros longos e restaurar a confiança dos investidores.
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