Governança Corporativa

Vale (VALE3): 6 motivos por que é quase impossível Lula eleger Mantega como CEO

05 ago 2023, 16:08 - atualizado em 05 ago 2023, 16:08
Guido Mantega ceo vale vale3 lula mineradora eduardo bartolomeo
Vacinada: estatuto blinda Vale (VALE3) de interferências de Brasília, como a pressão de Lula para que Mantega comande a empresa (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não teria desistido de emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega como CEO da Vale (VALE3), cargo ocupado hoje por Eduardo Bartolomeo. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, o esforço de Lula para que Mantega comande a mineradora seria um gesto de gratidão a quem não o abandonou nos difíceis anos da Lava Jato e da prisão.

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Mas, de acordo com o Estadão, é bastante improvável que ele tenha sucesso. O jornal lembra que a Vale de 2023 é muito diferente da que Lula conheceu em seus dois primeiros mandatos, quando entrou em rota de colisão com o então CEO da companhia, Roger Agnelli, que perdeu a cadeira para Murilo Ferreira em 2011 por pressão do Palácio do Planalto.

Veja os 6 motivos que protegem a Vale contra a investida de Lula para emplacar Mantega no cargo de CEO.

1. Consultoria internacional recruta candidatos

O estatuto da Vale determina que o conselho de administração deve contratar uma consultoria internacional para avaliar potenciais candidatos ao cargo de CEO.

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2. Lista tríplice

Mesmo que Lula consiga que Mantega seja entrevistado por essa consultoria, o ex-ministro ainda precisaria convencer os consultores que tem condições de figurar na lista tríplice entregue ao conselho de administração ao fim do processo de seleção. O conselho elegerá o novo CEO, a partir dos três nomes endossados pelos consultores.

3. Conselho de administração da VALE3 está mais independente

O Estadão lembra que a Vale se transformou em uma corporation, isto é, uma empresa listada em Bolsa, mas com capital pulverizado. Portanto, não há um controlador, e isso permite que o conselho de administração seja bem mais imune a pressões políticas. O conselho é composto por 13 pessoas, das quais, 8 são independentes (sendo três estrangeiros). O jornal explica que esse grupo de independentes se relaciona com o presidente do conselho por meio de um representante, o que ajuda a blindá-lo das ingerências de Brasília.

4. Acionistas relevantes estão pulverizados

Segundo o Estadão, os cinco membros “não-independentes” do conselho são indicados por acionistas relevantes, mas cuja participação individual equivale a menos de 10% do capital. O canal mais direto de Lula com a cúpula da VALE3 seria os dois assentos em poder da Previ, o fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil, e que detém 8,72% das ações. Mas mesmo essa posição seria neutralizada pela japonesa Mitsui (6,31% das ações) e pela Bradespar, a holding do Bradesco.

5. Golden share do governo na Vale tem poder limitado

Quando a Vale foi privatizada, em 1997, o governo federal manteve 12 golden shares, isto é, ações com direito a veto em determinados assuntos. O Estadão explica, porém, que seu alcance é restrito a temas como venda e encerramento das atividades de jazidas, ferrovias e portos; mudança da sede e do objetivo social etc. Nenhuma delas dá direito a Lula de vetar um novo CEO ou de colocar um companheiro na cadeira.

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6. BNDES não está mais na empresa

O grande trunfo de Lula, nos dois primeiros mandatos, era a forte presença do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no quadro de acionistas da Vale. Foi isso que permitiu, por exemplo, derrubar Agnelli e eleger Murilo Ferreira 12 anos atrás. Mas, nos últimos anos, o BNDES vendeu suas ações e não tem nenhuma influência sobre a gestão da mineradora.

 

 

 

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Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
marcio.juliboni@moneytimes.com.br
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.