Comprar ou vender?

Vale (VALE3) não se anima com guinada recente do minério de ferro; ação merece o benefício da dúvida?

21 ago 2023, 19:39 - atualizado em 21 ago 2023, 19:42
Vale, ação
Vale está empacada no patamar dos R$ 61 há seis pregões (Imagem: Reuters/Washington Alves)

As ações da Vale (VALE3) têm andado de lado nos últimos dias, apesar do impulso renovado que o minério de ferro ganhou com estímulos recentes implementados pelo governo da China na tentativa de reaquecer a segunda maior economia do mundo.

Em dia com os contratos futuros da commodity ampliando a alta nas Bolsas asiáticas para máximas em três semanas, a Vale continuou emperrada nos R$ 61, patamar que vem mantendo nos últimos seis pregões. No ano, a companhia acumula uma queda aproximada de 28% na Bolsa e figura entre os destaques negativos do Ibovespa.

A China anunciou hoje um novo corte nos juros, com redução da taxa de um ano em meio a esforços para estimular a demanda por crédito no país. O banco central chinês manteve, por outro lado, a taxa de cinco anos inalterada.

A taxa de empréstimo primária de um ano (LPR) caiu para 3,45%, enquanto a LPR de cinco anos permaneceu em 4,20%.

Segundo a Reuters, analistas avaliam a decisão de manter os juros de cinco anos como um movimento de cautela por parte do governo chinês com a queda acelerada do iuan.

Riscos de queda persistem

Na opinião do Goldman Sachs, embora o desempenho da commodity esteja se mostrando mais resiliente que o esperado neste ano, riscos de queda à frente persistem. Segundo os analistas, o mercado de minério de ferro está virando para uma fase de sobreoferta.

“Também permanece o risco de cortes compulsórios de aço na China, o que potencialmente poderia levar a um choque negativo de demanda para o mercado e os preços”, acrescenta a instituição, que tem recomendação “neutro” para os ADRs (American Depositary Receipts, recibos de ações de uma empresa estrangeira negociada nos Estados Unidos) VALE.

Vitorio Galindo, head de análise fundamentalista da Quantzed, avalia que a falta de sinais de uma retomada mais eficiente da economia chinesa, mesmo com o discurso de estímulos por parte do governo, é o que está pressionando o mercado.

“A gente não chegou a ter uma demanda mais forte na ponta, no setor de construção civil, para ter uma melhora em siderurgia e mineração“, diz.

No caso da Vale, o analista acredita que nem a recuperação operacional deve levantar as ações.

“Se ela aumentar a produção e reduzir os custos, será bom para ela, mas ao mesmo tempo deve jogar o minério mais para baixo. Esses gatilhos operacionais podem, na verdade, piorar o preço da ação. Seria um aumento de produção no mundo, uma sobreoferta”, destaca, em discurso que remete ao do Goldman Sachs.

Nesse sentido, Galindo não vê a Vale como uma barganha. Sem grandes avanços do minério de ferro, não há como justificar uma potencial alta das ações da mineradora, afirma.

A visão dos otimistas

Problemas enfrentados pela Vale no primeiro semestre do ano acabaram impactando o sentimento do mercado em relação à capacidade de entrega da mineradora.

Dá para ter mais confiança de que o pior momento operacional da Vale passou, diz especialista (Imagem: REUTERS/Yusuf Ahmad)

Felipe Leão, especial da Valor Investimentos, comenta que o aspecto operacional central da tese da companhia que poderia levantar as ações vai de encontro com o fato de a Vale conseguir convencer o mercado de que sua produção ficará dentro do guidance proposto até 2026.

Leão destaca, no entanto, que a Vale vem trabalhando para entregar algumas linhas acima do esperado.

“Tem alguns projetos de expansão em algumas minas, algumas ambições de crescimento que parecem mais alcançáveis. Há boas notícias, principalmente vindo do Sistema Norte, com prêmios mais altos e custos gerais até um pouco mais baixos.”

Leão defende que dá para ter mais confiança de que o pior momento operacional da Vale passou.

“A Vale continua sendo um dos principais nomes para qualquer montagem de carteira. Existem até uns números que ela ainda pode entregar bem neste próximo semestre”, completa.

O BTG Pactual reiterou em relatório recente a compra das ações da Vale, com preço-alvo de R$ 94. O banco defende que a empresa continua sendo um dos nomes favoritos para se expor à retomada da economia chinesa e enxerga como positiva a entrada da Cosan (CSAN3) no conselho da empresa.

A monetização de metais básicos como gatilho para geração de valor a investidores de longo prazo também torna a tese atrativa.

“Em nossas estimativas revisadas, a Vale é negociada a ~4 vezes EV/Ebitda (valor da empresa sobre Ebitda) para 2023 e um yield (rendimento) de fluxo de caixa implícito de 9%. Acreditamos que a empresa pode retornar cerca de 10-12% de yield aos acionistas na forma de dividendos/recompra”, completa o time de análise do banco.

Em nota enviada neste mês ao Money Times, a Vale diz que continua mantendo uma visão positiva da economia da China.

“Mesmo no ano muito difícil de 2022, a economia da China mostrou uma resiliência notável, com o PIB expandindo 3% para um recorde de mais de 121 trilhões de RMB. A Vale acredita que a demanda de aço da China ainda é resiliente e se mantém em níveis elevados, apoiada por fundamentos sólidos no longo prazo. O progresso contínuo da urbanização, o desenvolvimento dos setores industriais e os investimentos em descarbonização trarão novas oportunidades para a demanda chinesa de aço e minério de ferro. As comparações entre países sugerem que a demanda chinesa pode se estabilizar e permanecer em níveis semelhantes nos próximos anos.”

Editora-assistente
Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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