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Valter Outeiro: Posso apostar contra a América?

30 ago 2020, 11:00 - atualizado em 28 ago 2020, 22:02
“Vou ter que ir contra Buffett e constatar: devemos, sim, apostar contra a América, não pelas próximas décadas, mas pelos próximos anos”, afirma o colunista

Antes de iniciar a coluna de hoje, quero ressaltar que sou fã de carteirinha de Warren Buffett, para mim o maior investidor de todos os tempos.

O livro “The Warren Buffett Way” é o melhor guia para escolher quais ações comprar e quais devem ser deixadas de lado.

Passada a tietagem, vou ter que ir contra o mestre e constatar: devemos, sim, apostar contra a América, não pelas próximas décadas, mas pelos próximos anos.

Especificamente, pelos próximos cinco anos.

A procura da inflação

Discurso de Jerome Powell em Jackson Hole aponta para leniência (suavizando muito o termo, para não dizer inexistência de vigília) com a inflação abaixo da meta de 2%.

Em termos práticos: vamos imprimir o quanto for necessário até atingir a meta de inflação de 2% e permanecer com o juro básico próximo a zero por muitos anos.

Deixo de entrada gráfico do J.P. Morgan Asset Management pedindo demanda e, lembrando que, devido ao alto nível de incerteza (leia-se desemprego e medo de perder o trabalho), as pessoas recebem o auxílio e não gastam, poupam.

Demanda por serviços ainda permanece muito baixa e prejudica inflação

Mais do que isso, os EUA caminham para algo entre o Japão (sem inflação, nem crescimento, algo próximo ao “estado estacionário puro” da economia, se é que isso existe) e a “latinização” (dívida crescente, déficits gigantescos, moeda cada vez mais fraca e sem valor), tese defendida por Marink Martins, colunista do Money Times e especialista da Inversa.

Agora, uma citação de Michael Harnett, estrategista do Bank of America Merrill Lynch, sobre o risco moral:

“Os bancos centrais estão encorajando a inflação/risco moral dos preços dos ativos dentro da tentativa de utilizar o efeito-riqueza para reduzir o desemprego e pelo ‘trickle-down’ (política utilizada para conceder benefícios fiscais aos mais ricos para estimular investimento)”.

Finalizo com um gráfico do BofA ML sobre como o S&P 500 pode ter a maior disparada desde um mínimo de toda a história:

Rali pode ser utilizado como argumento de trunfo na época da eleição em novembro

Independente se está caro (e está) e do estado da economia norte-americana, a sensação de não haver alternativa fora da bolsa parece prevalecer (em todo o mundo).

Comunicação e expectativas

Voltando ao Brasil, recomendo a leitura do excelente artigo de Leonardo Nogueira Ferreira, analista do Banco Central (e por felicidade ex-colega de classe) sobre o foward guidance, comunicação da autoridade monetária com o mercado.

Você pode ler o artigo neste link: “Foward Guidance Matters: disentangling monetary policy shocks”

Uma citação de aperitivo:

“Mostra-se que o “forward guidance” é um instrumento efetivo. De fato, é tão potente quanto a política monetária, sendo, portanto, uma adição importante ao ferramental dos bancos centrais.”

Se a comunicação afeta expectativas de juros, imagina o efeito da instabilidade política sobre o animal spirit…

Para conferir todas as séries da Inversa Publicações basta clicar neste link

Um grande abraço,

Valter

Graduado em Ciências Econômicas pela USP, tendo cursado mestrado em Ciências Humanas e em Economia na UFABC, Valter Outeiro acumulou anos de vivência no mercado financeiro através de passagens nas áreas de estratégia de investimentos dentro de private banks, em multinacionais produtoras de índices de ações e em redações de jornalismo econômico.
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Graduado em Ciências Econômicas pela USP, tendo cursado mestrado em Ciências Humanas e em Economia na UFABC, Valter Outeiro acumulou anos de vivência no mercado financeiro através de passagens nas áreas de estratégia de investimentos dentro de private banks, em multinacionais produtoras de índices de ações e em redações de jornalismo econômico.
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