Vem corte por aí? IPCA dentro da meta corrobora com Selic mais baixa, mas ainda falta um detalhe
Após pouco mais de um ano, a inflação voltou a ficar dentro da meta perseguida pelo Banco Central. Em novembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,18%, o menor patamar para o mês desde 2018. Com isso, a inflação acumula alta de 3,92% em 2025 e, em 12 meses, chega a 4,46% — a meta é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Com os números arrefecendo, surge a pergunta que não quer calar: chegou a hora de o Comitê de Política Monetária (Copom) começar a cortar a Selic?
Para André Perfeito, economista da Garantia Capital, apesar de o indicador ter vindo sem grandes novidades, a leitura do IPCA é positiva e reforça a possibilidade de um corte de juros já no início de 2026. No entanto, ele avalia que o Banco Central tem terceirizado ao Relatório Focus a condução da política monetária.
“Ou seja, o Copom vai jogar com o manual do Sistema de Metas de Inflação debaixo do braço e simplesmente não vai cortar a taxa enquanto as projeções não entrarem de maneira clara dentro da meta”, afirma.
No Focus desta semana, a estimativa para a inflação de 2025 caiu de 4,43% para 4,40%. A previsão para o IPCA de 2026 também recuou, passando de 4,17% para 4,16%. Já as projeções para 2027 e 2028 ficaram inalteradas, em 3,80% e 3,50%, respectivamente — todas dentro da meta.
Por outro lado, a expectativa para a taxa básica de juros em 2025 foi revisada para cima, de 12% para 12,25%. Para este ano e para os anos seguintes, as estimativas seguem estáveis, em 15%, 10,50% e 9,50%.
É aqui que “a porca torce o rabo”, avalia o economista. Para ele, embora os indicadores de inflação e atividade mostrem que a economia desacelera na direção correta, o mercado financeiro dificilmente revisará as projeções de Selic enquanto não resolver suas próprias equações — o que depende do fiscal.
“Fiscal é eleições, e eleições não fazem parte do mandato do Copom. Se o Banco Central corta os juros no começo do ano, como o mercado espera, pode acabar numa situação ruim caso o mercado mude de ideia a depender do pleito de 2026″, explica.
As projeções do mercado para o início do afrouxamento monetário se dividem entre as reuniões de janeiro e março. A reunião do Copom desta quarta-feira (10) deve ajudar a calibrar as apostas para o ano que vem.
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Desinflação de grupos importantes
Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, destaca que a inflação permanece em um quadro benigno, com a queda no acumulado em 12 meses influenciada tanto pela base elevada de dezembro de 2024 quanto pela continuidade da desinflação em grupos relevantes.
“A composição do índice reforçou uma leitura qualitativa favorável. A inflação de serviços permaneceu controlada, com exceção do item hospedagem, que subiu de forma atípica por conta da realização da COP 30 em Belém — um choque temporário, sem implicações estruturais para a trajetória prospectiva”, afirma.
Entre os grupos, o destaque de alta ficou com habitação, impulsionado pela correção das tarifas de energia elétrica, enquanto despesas pessoais também contribuíram positivamente. Por outro lado, houve alívio em artigos de residência (-1%), e a alimentação no domicílio registrou a sexta deflação consecutiva, suavizando a pressão inflacionária do mês.
Setorialmente, o comportamento dos bens industriais seguiu favorável, com deflação em eletrodomésticos e estabilidade em itens mais sensíveis ao câmbio. Já os serviços subjacentes continuam perdendo tração, refletindo a combinação de política monetária ainda restritiva, reacomodação plena da oferta de serviços pós-pandemia e desaceleração do mercado de trabalho.