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Venezuela e o calote: a nova briga bolivariana contra o capitalismo

03 nov 2017, 2:38 - atualizado em 05 nov 2017, 13:52

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A Venezuela declarou, nesta quinta-feira (2), que irá renegociar a sua dívida externa. O anúncio não soa como inesperado, mas o impacto sobre os mercados emergentes não pode ser desconsiderado. Em uma análise publicada após Nicolás Maduro “surpreender” os credores ao vivo na TV estatal, a consultoria Capital Economics levantou três principais pontos para serem considerados.

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Antes, vale a pena ressaltar o anúncio e as frases de impacto ditas pelo presidente venezuelano. Lembrando que o Estados Unidos anunciou no final de agosto sanções à Venezuela e que a manobra do país sul-americano tem muito a ver com a decisão de renegociar a dívida externa. O decreto proibiu as negociações sobre novas dívidas.

Em um discurso transmitido pelo canal de TV estatal VTC Canal 8, Maduro declarou que irá renegociar a dívida externa do país e “iniciar uma jornada mundial de denúncia contra a perseguição financeira à Venezuela”. Ele delegou ao vice-presidente Tareck El Aissami (que também foi atingido pelas sanções), a liderança das negociações com os credores. Ao lado de Maduro na ocasião do anúncio, não titubeou:

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“Vamos chamar uma renegociação de nossa dívida externa para continuar investindo em nosso modelo social”, disse El Aissami. Jorge Arreaza, ministro das Relações Exteriores, disse logo após que a decisão protege o povo e é uma relação à perseguição e às sanções implementadas pelos EUA. “Cumpriremos os nossos compromissos com o povo e externos em novos termos de equilíbrio e respeito para a nossa soberania”, disse em sua conta no Twitter.

O tamanho da encrenca

Segundo a Capital Economics, a Venezuela tem US$ 35 bilhões em dívidas lastreadas em moeda estrangeira. Já a estatal de petróleo PDVSA tem outros US$ 30 bilhões. São US$ 65 bilhões. Além disso, o governo deve outros US$ 50 bilhões em acordos bilaterais com a China e Rússia. Não se sabe se tudo isso será renegociado (com novos prazos), principalmente o valor com os parceiros tradicionais, ou se a ideia é oferecer um percentual (haircut).

Vamos aos impactos:

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1º: “Eu já sabia”

O economista-chefe para a América Latina da Capital Economics, Neil Shearing, lembrou que um calote já tem sido parcialmente precificado no mercado. Ele calcula que o mercado de dívida já colocava na conta uma chance entre 80% a 85% de um default. “Os títulos provavelmente irão sofrer quando iniciarem as negociações (na sexta-feira), mas muito das notícias negativas já estavam no preço. O contágio para outros mercados emergentes será limitado”, esclarece.

2º: “Vai ser uma bagunça”

Nenhum calote é igual a outro, lembra Shearing. A Argentina, que passou pela mesma experiência recentemente (2011 e 2014), nos faz recordar o quão difícil é acordar os desejos dos credores – principalmente se não houver cláusulas sobre uma ação de classe no contrato.  “Um risco fundamental para o governo da Venezuela é que os credores tentarão aproveitar as remessas de petróleo como compensação, o que, por sua vez, cortaria a única fonte de moeda forte (dólar) para a economia”, ressalta Shearing.

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3º: O problema é Maduro

O economista destaca o que todos já sabem e, claro, os credores também. O principal problema do país está na má gestão da sua economia. Decisões equivocadas e infantis do ponto de vista macroeconômico – como o controle de preços que levou a hiperinflação – acabou com a capacidade de pagamento da Venezuela. “A não ser que isso mude, a renegociação da dívida será apenas uma solução temporária”, conclui Shearing.

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Fundador do Money Times | Editor
Fundador do Money Times. Antes, foi repórter de O Financista, Editor e colunista de Exame.com, repórter do Brasil Econômico, Invest News e InfoMoney.
gustavo.kahil@moneytimes.com.br
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