Economia

Vírus eleva incerteza sobre dados de inflação na América Latina

31 mar 2020, 10:05 - atualizado em 31 mar 2020, 10:05
Embora o problema não seja exclusivo da América Latina, as mudanças ocorrem no momento mais inoportuno (Imagem: Pixabay)

A América Latina deve enfrentar meses de maior incerteza inflacionária, pois a pandemia de coronavírus obriga governos a revisar métodos de coleta de dados.

Agências de estatística da região enfrentam o desafio de coletar preços quando muitos estabelecimentos estão fechados e pesquisadores não podem ir a campo devido às restrições de mobilidade.

A alternativa óbvia – pesquisar preços on-line – tem várias desvantagens, como a baixa penetração do comércio eletrônico nos países em desenvolvimento, o que pode distorcer dados de inflação.

“Isso pode levar a falsas leituras de preços estáveis quando, na verdade, subiram”, disse Jorge Selaive, economista-chefe do Scotiabank Chile, em entrevista à rádio Bloomberg.

Mais intuitivo

Embora o problema não seja exclusivo da América Latina, as mudanças ocorrem no momento mais inoportuno, justo quando bancos centrais precisam de todas as informações possíveis para calibrar a política monetária e instituições do setor privado revisam as previsões econômicas para explicar o impacto da pandemia.

As mudanças também coincidem com uma onda de afrouxamento monetário na região que empurrou os juros para mínimas históricas.

“A menos que haja um período em que a coleta de dados on-line seja realizada juntamente com a coleta presencial, será difícil garantir que os preços sejam comparáveis”, disse Adriana Dupita, economista para América Latina da Bloomberg Economics. “Isso deve tornar a política monetária mais teórica e intuitiva.”

Brasil e Chile estão entre os países que agora coletarão grande parte dos dados de preços on-line, segundo comunicados publicados pelos departamentos de estatística. A Argentina estuda alternativas à coleta presencial, enquanto o Peru disse que não vai medir preços de lojas fechadas temporariamente.

Inúmeras armadilhas

Obter novos dados para medir os custos dos serviços será particularmente desafiador. E há o obstáculo de garantir que os dados coletados sejam processados no prazo enquanto funcionários trabalham remotamente.

“Mudanças na maneira como os dados são coletados podem gerar mais incerteza no curto prazo”, disse a repórteres na semana passada Fabio Kanczuk, diretor de Política Econômica do Banco Central, acrescentando que ele espera alguma variação nos dados de inflação.

A INEI, agência de estatística do Peru, não vai coletar dados de preços de estabelecimentos não essenciais, como lojas de roupas e agências de viagens que estão fechadas durante a quarentena, segundo um porta-voz. A agência ainda espera publicar o relatório mensal como previsto em 1º de abril.

O banco central do Paraguai recorre a telefonemas para completar as informações coletadas pessoalmente antes do bloqueio, disse o economista-chefe da instituição, Miguel Angel Mora, em mensagem de texto. Ele acrescentou que qualquer extensão dessas restrições poderia dificultar a coleta de dados no futuro.

Uso da Internet

Agências de estatística estão cientes dos desafios e trabalham para garantir a continuidade dos dados. Técnicos no Brasil, Chile e Uruguai disseram que as pesquisas de preços já incluíam dados coletados pela Internet antes mesmo do surto de coronavírus.

O IBGE disse que vai coletar informações sobre os mesmos produtos, marcas e modelos no futuro. “Toda e qualquer opção relativa a métodos alternativos de coleta de preços será previamente testada e validada pela equipe técnica qualificada do IBGE.”

No Chile, o INE disse que a coleta virtual de preços, juntamente com pesquisas por telefone e o desenvolvimento de ferramentas “permitirão que o trabalho continue mesmo em meio a restrições no horário de funcionamento das lojas”. A INEGI, agência de estatística do México, disse que está preparada para seguir as recomendações das autoridades de saúde.

Na Colômbia, a coleta de preços não será alterada, já que as medidas do governo permitem que a maioria das lojas que vendem produtos da cesta básica permaneçam abertas.

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