Coluna do Einar Rivero

Volume financeiro da B3 cai pelo terceiro ano consecutivo: o quanto devemos nos preocupar?

13 mar 2024, 16:52 - atualizado em 13 mar 2024, 16:52
ibovespa b3 ações volume de negociações
B3: O volume financeiro médio diário anual de uma bolsa de valores é um dado observado com lupa pelos investidores estrangeiros. (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

O volume financeiro da bolsa de valores brasileira, a B3, caiu pelo terceiro ano consecutivo. Essa é a conclusão a que se chega quando observamos seu volume financeiro médio diário anual, calculado em dólares.

Em 2021, registramos o melhor momento da história da B3, com US$ 5,2 bilhões negociados em média por dia.

Já no primeiro bimestre de 2024, foram modestos US$ 3,8 bilhões movimentados diariamente. Como estamos lidando com médias diárias, é possível comparar de forma justa, equânime, os números consolidados de 2023 com os primeiros dois meses deste ano.

(Fonte: Einar Rivero)

A importância do volume financeiro da bolsa

O volume financeiro médio diário anual de uma bolsa de valores é um dado observado com lupa pelos investidores estrangeiros.

Há três grandes razões para isso. Em primeiro lugar, ele sinaliza quantos compradores e vendedores estão atuantes no mercado, o que indica o quão fácil será comprar ou vender ativos. Um volume financeiro diário elevado reduz o risco de não se executar uma ordem no preço desejado, garantindo mais previsibilidade aos investimentos.

Em segundo lugar, uma bolsa com alto volume financeiro geralmente oferece uma variedade maior de ativos para o investidor estrangeiro, permitindo-lhe diversificar sua carteira e reduzir riscos.

Por fim, um volume financeiro consistente ao longo do tempo costuma indicar estabilidade do mercado de capitais e da economia do país no geral, aspecto fundamental para atrair quem procura ambientes seguros e previsíveis.

Ações com maior liquidez

O volume financeiro médio diário anual é um bom termômetro, portanto, do apetite do investidor estrangeiro, mas não o único. A quantidade de ações com alto nível de liquidez é outro indicador que nos ajuda a pintar esse quadro.

Quando olhamos para ações com volume diário médio acima de US$ 1 milhão, também detectamos um recuo: eram 203 ações nessa faixa em 2021, ante 171 em 2024.

Há que se destacar, porém, duas faixas de liquidez. A primeira é a das ações com volume diário médio entre US$ 5 milhões e US$ 10 milhões, pois ela representa, neste ano, a categoria mais numerosa de papéis com alta liquidez: 113 ativos (ante 134 em 2021, ou seja, uma queda moderada).

A segunda é a das ações com US$ 10 milhões a US$ 50 milhões de volume diário médio: são 71 papeis, o melhor número desde 2010.

As demais faixas de liquidez acompanham o movimento de recuo da B3. Dentre as mais líquidas, aquelas com volume diário médio entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões totalizam nove ações, a menor quantidade desde 2019. Já as ações com liquidez acima dos US$ 100 milhões por dia são somente seis.

(Fonte: Einar Rivero)

A título de comparação, dentre as ações listadas no índice S&P 500, oito registraram no primeiro bimestre deste ano um volume financeiro médio diário superior ao de toda a bolsa de valores brasileira.

A ação mais líquida em 2024 é a da Nvidia, com US$ 33,6 bilhões em média por dia, o que equivale a 8,8 vezes o volume do mercado à vista da B3. Mesmo a ação com menor volume financeiro do S&P 500 movimenta por dia em média impressionantes US$ 20,8 milhões.

Bolsa de valores: Onde estamos e para onde vamos

O declínio contínuo no volume financeiro médio diário anual da B3, sobretudo quando calculado em dólares, levanta preocupações. Trata-se de um indicador que reflete não apenas a liquidez e eficiência do mercado, mas também sua atratividade para investimentos estrangeiros.

Um volume de negociações (relativamente) baixo impacta negativamente a capacidade do investidor de executar uma estratégia com sucesso, além de potencialmente reduzir a diversificação de seu portfólio.

A análise das ações com alto nível de liquidez também revela uma tendência preocupante. O número de papéis com volume diário significativo vem diminuindo. O contraste com a liquidez do mercado internacional, exemplificado pelas ações do S&P 500, definitivamente coloca o Brasil sob uma luz desfavorável.

O cenário parece sombrio, mas exatamente por isso é fundamental analisarmos o movimento do mercado de forma complexa, para que enxerguemos o famigerado “outro lado” da história.

Comecemos questionando por que o volume financeiro da B3 caiu nos últimos anos. Não há resposta única, mas o patamar elevado da taxa de juros certamente faz parte dessa explicação: em 2022 e 2023, o CDI entregou uma rentabilidade superior a 12%, tornando-se carro chefe dos investimentos no período. O cálculo é simples: com juros altos, o investidor prefere evitar o risco da bolsa e aloca seus recursos na renda fixa.

Acontece que a taxa de juros agora está em queda. Isso tende a “expulsar” os investidores do CDI, já que, para alcançar níveis satisfatórios de rentabilidade, será cada vez mais necessário assumir algum grau de risco na bolsa.

Isso significa que o volume financeiro da B3 deve melhorar ao longo do ano – mantidas, é claro, as condições políticas nacionais e internacionais. É fundamental que esse movimento aconteça, pois ele modula o apetite dos investidores estrangeiros pelo mercado de capitais brasileiro. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

Einar Rivero é CEO da Elos Ayta Consultoria e especialista de dados financeiros de mercado. Formado em Engenharia, tornou-se referência para o mercado financeiro por trazer levantamentos e insights inéditos a partir do cruzamento de dados econômicos. Durante 25 anos, atuou como líder e gerente de relacionamento institucional de plataformas de informação financeira, como TradeMap e Economatica.
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Einar Rivero é CEO da Elos Ayta Consultoria e especialista de dados financeiros de mercado. Formado em Engenharia, tornou-se referência para o mercado financeiro por trazer levantamentos e insights inéditos a partir do cruzamento de dados econômicos. Durante 25 anos, atuou como líder e gerente de relacionamento institucional de plataformas de informação financeira, como TradeMap e Economatica.
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