Internacional

Xi tem poucas boas opções para encerrar protestos na China

28 nov 2022, 10:13 - atualizado em 28 nov 2022, 10:13
Xi Jinping
A forma como o presidente da China, Xi Jinping, responderá aos distúrbios pode ser crucial para o futuro do país (Imagem: Reuters/Divulgação)

Os protestos contra a estratégia de Covid Zero da China representam um dos desafios mais significativos do governo do Partido Comunista desde a crise de Tiananmen, há mais de 30 anos.

A forma como o presidente da China, Xi Jinping, responderá aos distúrbios pode ser crucial para o futuro do país.

Da capital Pequim a Kashgar, no extremo oeste chinês, cidadãos frustrados com lockdowns e campanhas de testes em massa foram às ruas nos últimos dias para pedir mudanças.

Em Xangai – atingida por extenuantes controles contra a Covid por dois meses no início do ano –, uma multidão pediu a renúncia de Xi, desafiando o risco de uma longa pena de prisão. As manifestações variaram de algumas pessoas a manifestações de centenas nas ruas.

Atenuar a insatisfação apresenta a Xi talvez seu maior dilema político após uma década no poder. Abandonar rapidamente a política Covid Zero poderia levar a um aumento das mortes, prejudicando os esforços de Xi para classificar a resposta à pandemia da China como superior à do Ocidente. Reprimir os protestos, por outro lado, pode reforçar uma causa que já demonstrou apoio nacional.

Xi não tem muitos a quem culpar depois de um congresso do Partido Comunista aparentemente triunfante no mês passado, no qual garantiu um terceiro mandato no poder que rompeu precedentes, além de ter se cercado de líderes de lealdade comprovada.

Xi não apenas usou o evento para validar sua abordagem de Covid Zero, mas também nomeou como número 2 do partido o ex-assessor Li Qiang, que supervisionou o lockdown de Xangai.

“Aconteça o que acontecer, vai tirar o brilho do início do terceiro mandato de Xi”, disse Charles Parton, ex-diplomata britânico baseado na China e membro do Conselho de Geoestratégia e do Royal United Services Institute. “Se ele se mantiver firme e usar a força, e se não funcionar muito bem, vai parecer falível e destruir a confiança em si mesmo e no partido. Isso aumentará à medida que a economia continue a sofrer.”

Os preços de ativos chineses caíram nesta segunda-feira diante da sensação de caos e incerteza entre traders. O índice Hang Seng China Enterprises chegou a recuar quase 2%, com as perdas lideradas por ações de tecnologia e do setor imobiliário. O yuan onshore também perdeu terreno em relação ao dólar.

O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Zhao Lijian, se esquivou de uma pergunta sobre a raiva e a frustração generalizadas durante uma entrevista coletiva, dizendo que “o que você mencionou não reflete o que realmente aconteceu”. Zhao disse que “a China vem seguindo a dinâmica política (Covid) zero e fazendo ajustes com base nas realidades locais”.

O Partido Comunista não enfrentava demonstrações tão amplas de criticismo por parte da população desde o envio de militares para reprimir protestos democráticos liderados por estudantes na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) e outros eventos vagamente associados em todo o país em 1989. Naquela época, como agora, muitos dos manifestantes envolvidos eram pessoas de 20 a 30 anos. A geração atual era jovem demais para testemunhar a transformação econômica da China nas décadas de 1980 e 1990.

Embora poucos prevejam a renúncia de Xi como resultado dos protestos, tal crise pode afetar o início de seu mandato.

“Acredito firmemente que este será um evento histórico que mudará a vida de milhões de pessoas e o futuro do país”, disse Hebe Chen, analista de mercado da IG Markets, na Austrália. “A raiva dos cidadãos, embora duvide que mude imediatamente a notória política Covid Zero, está prestes a levantar a cortina para uma fase instável, turbulenta e de baixa produtividade na história da China.”

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