123 Milhas: Com o pedido de Recuperação Judicial, como ficam os ‘milheiros’?
Um dos grandes motores para fazer girar a roda da 123Milhas, como seu próprio nome sugere, são as milhas. Por isso, os “milheiros” – pessoas que compram e vendem esses ativos – fazem parte da extensa lista de credores da empresa.
Divulgada nesta quinta-feira (31), a lista apresenta tanto o nome de clientes que compraram as passagens não emitidas, quanto fornecedores de milhas, funcionários da empresa e grandes companhias como Google, Facebook e bancos.
A Hotmilhas, que no processo foi inserida como Art Viagens, é a plataforma da empresa que negocia milhas no mercado.
O que são as milhas?
O programa de milhas é uma forma que as companhias áreas encontraram para fidelizar os seus clientes.
Quando o cliente voa com eles, é oferecido um benefício para que ele volte a comprar passagens com a mesma empresa por meio destas milhas.
Quanto mais milhas acumuladas, menos dinheiro é preciso gastar para comprar uma nova passagem.
As companhias aéreas também possuem parcerias com cartões de crédito para auxiliar no acumulo de milhas, oferecendo mais vantagens para os seus clientes.
Cada empresa possui um determinado programa de milhas e os clientes podem acumular de diversas formas.
Outra alternativa para juntar milhas é realizar a compra pela própria companhia área. Assim, em um futuro próximo, a passagem pode ficar mais barata.
Isso porque as companhias fazem também algumas promoções para vender essas milhas no mercado e desta forma garantem mais viajantes.
Essas promoções aconteceram principalmente durante a pandemia, o que explica parte dos prejuízos da 123Milhas.
Como funciona o modelo de negócios da 123Milhas?
O modelo de negócio da 123Milhas, de acordo com especialista em educação financeira em milhas, Rodrigo Góes, é baseado na compra de milhas disponíveis no mercado – conseguindo assim baratear passagens aéreas e oferecendo posteriormente para os clientes.
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A agência, por meio da sua plataforma de negociação de milhas, a Hotmilhas, também compra as milhas de pessoas que acabam acumulando esses benefícios e não utilizam. Assim, compra esse ativo ainda mais barato do que o oferecido pelas companhias aéreas e emite passagens desta forma.
Segundo Góes, para o modelo de negócio da 123Milhas funcionar, eles tinham parcerias com algumas companhias aéreas para conseguir realizar a emissão de passagens de forma mais barata. Isso se comprova em um trecho do pedido de recuperação judicial que cita a Azul Linhas Aéreas.
“A resilição de contratos firmados com companhias aéreas que eram consideras parceiras das Requerentes também inviabilizou o cumprimento de suas obrigações”, disse.
“A título de exemplo, destaca-se que, por meio de instrumento celebrado com a companhia Azul Linhas Aéreas, a 123 Milhas conseguia realizar pesquisas de passagens com pontos, o que lhe permitia adquirir passagens com preços mais vantajosos, o que atualmente não é mais possível, em virtude da resilição do contrato em comento”.
Contudo, com a demanda por passagens aéreas após o fim da pandemia, o preço começou a subir mais do que o projetado pela agência de viagens, desencadeado não só uma crise financeira como a finalização de diversos contratos de parceria, como é citado no processo. A empresa admitiu débitos de mais de R$ 2,3 bilhões.
Para o advogado especializado em direito do consumidor José Alfredo Leon, o modelo de negócios sustentado pela 123Milhas, principalmente no modelo de viagens flexíveis, no qual o cliente deve pagar pelo produto mesmo sem saber se irá receber, é danoso. “É necessário uma regulamentação de empresas como esta. É uma situação muito triste para o consumidor o que está acontecendo”, diz.
Como a recuperação judicial afeta os ‘milheiros’?
Aos que estão na lista de credores, o advogado afirma que pode demorar muito tempo para que recebam o dinheiro de volta.
Em um processo de recuperação judicial, existe uma sequência de pagamentos a serem seguidos.
Primeiro são os trabalhadores daquela empresa, posteriormente os tributos são pagos ao governo, depois os credores privilegiados (que normalmente são os que aportaram maior valor) são pagos e só depois os clientes finais – aqueles que compram suas passagens no modelo flexível oferecido pela companhia.
A repercussão da RJ não só deve lesar os que venderam suas milhas à empresa, como também todo este mercado. Góes destaca que mesmo a venda de milhas não sendo proibida, as companhias aéreas são contrárias à prática e as regras de utilização poderão ficar mais severas.
O especialista em milhas lembra que os pagamentos das compras de milhas de seus alunos já sofreram alteração no passado com a empresa que solicitou um prazo maior para o cumprimento da dívida e que posteriormente realizou os devidos depósitos. Contudo, vê situação de agora com mais cautela.
A Hotmilhas, que também foi colocada no processo, é atualmente uma das maiores plataformas para negociação de milhas no país, mas existem outras menores realizando o serviço.
O Money Times solicitou posicionamento da 123Milhas, Hotmilhas e Maxmilhas, mas não obteve teve retorno até a publicação desta matéria.