Política

3 finais para a crise dos servidores e as chances de cada um acontecer

18 jan 2022, 17:43 - atualizado em 18 jan 2022, 18:03
Paulo Guedes e Jair Bolsonaro
Analista diz que governo corre o risco de fazer pedalada fiscal. (Imagem: Flickr/Edu Andrade/Ascom/ME)

A pressão dos servidores por reajuste salarial tem três finais possíveis, mas um desgaste já contratado pelo governo, avaliam analistas políticos ouvidos pelo Money Times.

Na mais provável hipótese, o governo deve recuar em conceder reajuste já sinalizado para policiais federaispoliciais rodoviários federais e agentes penitenciários, dizem os especialistas.

O cientista político e professor da FGV Cláudio Couto lembra que não há espaço fiscal para um aumento dos gastos e diz que um eventual aumento de salário para apenas algumas categorias poderia impulsionar a mobilização dos servidores.

“[O movimento] pode levar a uma paralisação dos serviços e a uma instabilidade em áreas importantes, o que pode dificultar a tentativa do governo de se reeleger”, pondera. “E esse já é um governo visto como muito ruim do ponto de vista de entregar resultados”.

O analista de política da Ohmresearch Márcio Olímpio Fernandes afirma que o governo pode voltar atrás com a promessa de reajuste para as forças de segurança e culpar o Congresso pelo recuo — estratégia que não seria nova para o Executivo, avalia.

Quanto a segunda hipótese mais provável — de concessão de reajuste aos agentes de segurança e que poderia levar a uma mobilização maior — Fernandes vê um paralelo com a paralisação de 2015, que “criou um grande desgaste” para o governo Dilma.

“Nesse contexto, um movimento forte de protestos seria perigosíssimo, para o governo por conta de uma contaminação com o cenário eleitoral”, comenta.

“Por isso, as forças políticas de mais ‘pé no chão’ têm tentando demover o governo da ideia [de reajuste para algumas categorias]”.

Para o mercado financeiro, a hipótese de o governo conceder reajuste para todas as categorias também é a menos provável, por conta da falta de espaço fiscal e da fragilidade do Executivo, em baixa popularidade.

Para o analista de ações do banco Daycoval Vitor Suzaki, o reajuste para todas as categorias teria um risco grande de judicialização, com impacto “muito significativo na nossa economia, câmbio, juros e dólar”.

Couto, da FGV, diz que se o governo tentar conceder reajuste para todas as categorias “corre o risco de fazer pedalada fiscal e se comprometer do ponto de vista judicial”.

Com os três cenários, desgaste já está contratado

Em comum, as três hipóteses têm um desgaste para o governo federal, avaliam os especialistas. Segundo Fernandes, da Ohmresearch, há um grupo dentro do governo que concluiu que foi um erro prometer reajuste para algumas categorias.

“O governo talvez não tenha se aproveitado dos recursos que tem para prever a mobilização, em meio a uma situação de crise e arrocho para diversas categorias”, comenta o analista. “O governo hoje é seu próprio adversário em uma campanha que é vital, inclusive para a família do presidente”.

O Ministério da Economia e o Banco Central disseram que não devem se pronunciar sobre a paralisação.

* Colaborou Alexa Meirelles 

Editor
Jornalista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBA em finanças pela Estácio. Colaborou com Gazeta do Povo, Estadão, entre outros.
Linkedin
Jornalista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBA em finanças pela Estácio. Colaborou com Gazeta do Povo, Estadão, entre outros.
Linkedin