Ibovespa voltou a brilhar para os ‘gringos’ e pode atingir os 160 mil pontos até o final do ano, na avaliação da Bradesco Asset

Do início do ano para cá, o Ibovespa (IBOV) tem batido sucessivos recordes e acumula alta de mais de 10% — superando a derrocada do ano anterior.
Nesse período, fatores como a guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos, o ‘excepcionalismo’ norte-americano em xeque e a desaceleração da maior economia do mundo foram os principais gatilhos para o bom desempenho da bolsa brasileira.
“Com a economia norte-americana em desaceleração — tradicionalmente concentrados no mercado dos EUA — passam a olhar alternativas, entre elas o Brasil, principalmente a partir do final de abril e maio”, afirma Rodrigo Santoro Geraldes, head de equities da Bradesco Asset Management (BRAM) em entrevista ao Money Times.
Desde janeiro, os ‘gringos’ já injetaram mais de R$ 20 bilhões no mercado acionário brasileiro — e não deve parar por aí, na avaliação da BRAM.
“Acreditamos que existe um espaço ainda razoável para a entrada de fluxo estrangeiro”, afirma Santoro.
O cenário doméstico também tem favorecido o Ibovespa, com os resultados corporativos do primeiro trimestre considerados fortes e expectativas para os balanços do segundo trimestre — que devem mostrar uma resiliência da economia, na visão de Santoro. Soma-se a isso a perspectiva de fim do ciclo de altas dos juros pelo Banco Central.
“Ainda não há tanta certeza se o ciclo [de altas] chegou ao fim, apesar de ser o nosso cenário-base. Mas, sem dúvida, a partir do momento que você tem uma perspectiva de fim de ciclo, isso é muito positivo para os ativos de risco”.
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Para onde vai o Ibovespa?
Para a BRAM, o Ibovespa pode atingir os 160 mil pontos até o final de 2025 — o que representaria uma valorização de cerca de 20% em relação aos níveis atuais.
Um dos fatores que sustentam a visão otimista é o fluxo estrangeiro mais intenso nos próximos meses, com base no MSCI ACWI, um índice global que acompanha o desempenho de ações de países desenvolvidos e emergentes, entre eles o Brasil.
Hoje, o peso dos mercados emergentes está próximo de 10%. “Se somar todos os fundos por temáticas, a alocação em emerging markets está mais próxima de 5%. Se tiver 1 ponto percentual de mudança, ou seja, de 5% para 6%, a gente está estimando uma entrada de R$ 97 bilhões para o Brasil”, afirma o gestor.
A gestora também prevê um cenário de economia dos EUA mais fraca — que pode continuar a impulsionar o fluxo de capital estrangeiro para os mercados emergentes.
“É como um pêndulo: a gente não pode ter uma economia norte-americana pujante, mas também não pode ter uma grande recessão. Até porque, se a gente tiver uma grande recessão, isso afeta o mundo como um todo, trazendo um cenário de aversão ao risco (risk-off)”, afirma Santoro.
No entanto, o desempenho do Ibovespa ainda “esbarra” no cenário fiscal, que continua se deteriorando. Para Santoro, isso não tem sido um impeditivo para o investidor estrangeiro — pelo menos por enquanto.
“Para o investidor estrangeiro, isso não é um problema suficientemente grande para evitar essa migração de fluxo. Ao longo desses primeiros dois trimestres do ano, a situação fiscal doméstica se deteriorou, mas o fluxo [estrangeiro] veio. O movimento, por ser muito mais global do que local, vai ignorar esse ponto, de certa maneira”, disse Santoro.
As eleições presidenciais de 2026 também começam a entrar no radar dos investidores, embora as discussões sobre mudanças no ciclo político ainda estejam muito incipientes.
“Os investidores estrangeiros também viram a intensidade do movimento que aconteceu em outros países, como a Argentina e, mais recentemente, o Chile, antecipando o movimento de mudança de governo. Por isso, também estão atentos para não perder o timing de uma eventual mudança por aqui”, acrescentou Santoro.