Há uma bolha em IA? BTG Pactual destrincha o mercado e apresenta 16 argumentos para entender o cenário
A inteligência artificial (IA) pode até ter inflado valuations e provocado debates sobre uma possível bolha, mas, para o BTG Pactual, o movimento atual nada lembra a euforia descontrolada da virada dos anos 2000.
Em um relatório divulgado nesta semana, o banco lista 16 motivos pelos quais considera a IA um tema de longo prazo, descartando a ideia de uma bolha no setor.
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O analista Vitor Melo destaca a produtividade estrutural, caixa robusto das big techs, múltiplos ainda moderados e um ciclo de investimentos financiado internamente.
O banco afirma que os ganhos de produtividade atribuídos à IA convergem globalmente para cerca de 1,3 ponto percentual ao ano, o equivalente a mais de US$ 1,5 trilhão de produção adicional.
Esse efeito se soma a um ciclo maciço de investimento de capital (Capex), que deve alcançar US$ 1,2 trilhão ao ano em infraestrutura até 2029.
O retorno sobre esse investimento — estimado em 20% — exigirá cerca de US$ 1,68 trilhão de produção anual, algo equivalente a 5% da folha global de trabalhadores qualificados, ou 5% do Ebit corporativo mundial.
Margens fortes, caixa alto e múltiplos mais baixos que na bolha .com
O BTG contrapõe a atual onda de IA aos anos 1999–2000. Hoje, as 10 maiores empresas do S&P 500 têm margem operacional média de 39%, contra 25% no auge da “bolha .com”. A margem líquida, que era de 17%, agora é de 32%.
Além disso, a geração de caixa livre permanece elevada: a mediana do S&P 500 exibe Fluxo de Caixa Livre (FCF) yield de 3,5%, quase três vezes o nível registrado em 2000-2001.
Enquanto isso, o Nasdaq-100 negocia a 29–30 vezes o lucro futuro, bem abaixo das 44 vezes no pico da bolha e muito distante das 90 vezes atingidas em 2000.
As big techs também operam com balanços mais saudáveis — alavancagem média de –0,3x dívida líquida/Ebitda, ou seja, caixa líquido, comparado a +0,6x na virada dos anos 2000.
Outro ponto-chave é o financiamento do próprio ciclo de IA: apenas 46% da geração de caixa está sendo reinvestida em Capex — abaixo dos 75% no auge da bolha e até da média histórica de 52%.
Demanda segue acelerando
Mesmo após o pico de 2023–2024, a demanda por computação em nuvem voltou a acelerar. Google Cloud, AWS e Azure cresceram de 20% a 40% ano contra ano, e Google e Microsoft reportaram incremento de 46% a 50% nas carteiras de pedidos ligados a IA.
Um fator técnico reforça a tese de longevidade: a vida útil das GPUs segue muito acima do que se imaginava. Chips como o NVIDIA A100, lançado em 2020, continuam amplamente utilizados, e as big techs estimam até 6 anos de uso lucrativo, com posterior realocação para inferência e workloads menos intensas.
O relatório do BTG destaca o recém-lançado Gemini 3, do Google, como evidência de que as “leis de escala” seguem intactas.
A cada avanço de poder computacional, surgem novas capacidades — e também novos desafios, como alucinações e incidentes de segurança, que devem exigir ainda mais investimentos.
Sentimento fraco, poucos IPOs e nada de euforia especulativa
O BTG argumenta que a atual onda não tem características clássicas de bolha. Entre os sinais:
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Apenas 56 IPOs nos EUA nos últimos 12 meses — contra 511 no pico da bolha .com.
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O índice de “medo e ganância” da CNN está em pessimismo extremo.
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O levantamento do Bank of America mostra que 54% dos gestores acreditam que estamos em uma bolha — justamente o tipo de consenso defensivo que reduz a probabilidade de um estouro clássico.
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O índice AAII Bull/Bear permanece em território negativo.
Mesmo com a construção acelerada de data centers, o capex atual ligado à IA representa apenas 1,3% do PIB dos EUA — bem abaixo dos ciclos ferroviário (6%), de eletrificação (4%) e militar-industrial da Guerra Fria (3%). Ou seja: a indústria ainda está no terço inicial do caminho.
Governos entram no jogo com IA soberana
O relatório também destaca a corrida global por infraestrutura de computação soberana — Índia, Arábia Saudita, Japão, Reino Unido, França e Emirados Árabes Unidos já anunciaram projetos bilionários para treinar modelos e hospedar workloads sensíveis localmente.
São clusters que chegam a dezenas de milhares de GPUs, exascale computing e data centers multigigawatts, reforçando que a IA passou a ocupar espaço permanente dentro de estratégias nacionais.
“No longo prazo, vemos a IA como o principal motor de produtividade global nas próximas décadas”, afirma o relatório.
Com demografia adversa e escassez de mão de obra qualificada, a IA se torna o único vetor capaz de sustentar crescimento sem expansão proporcional da força de trabalho, considera o banco.
Os 16 pontos que mostram por que a IA não é uma bolha, segundo o BTG
- Ganhos de produtividade: Modelos acadêmicos convergem para impacto médio de 1,3 p.p./ano no crescimento global.
- ROI elevado do capex em IA: Investimentos anuais de US$ 1,2 trilhão geram retorno estimado de 20% e podem adicionar até US$ 3,4 trilhões em receitas.
- Margens muito superiores a 1999: Top 10 do S&P 500 têm 39% de margem operacional, ante 25% na bolha da internet.
- Forte geração de caixa: Mediana do S&P exibe FCF yield de 3,5%, quase 3x 2000–2001.
- Múltiplos abaixo das bolhas anteriores: Nasdaq-100 negocia a 29–30x lucro, bem abaixo das 44–90x da era .com.
- Líderes mais baratos que no ano 2000: As “7 Magníficas” negociam a ~30x, contra ~52x dos “Quatro Cavaleiros” da bolha.
- Capex financiado internamente: Empresas destinam 46% do caixa ao capex, contra 75% em 2001.
- Menor alavancagem: As líderes têm –0,3x de dívida líquida/Ebitda — caixa líquido, não dívida.
- Hyperscalers com demanda robusta: Google e Microsoft reportam 46%–50% de crescimento em novas encomendas.
- Tecnologia ainda em rápida evolução: Avanços como Gemini 3 mostram leis de escala intactas e ganhos acelerados de capacidade.
- Mercado de IPOs fraco: Apenas 56 IPOs em 12 meses, contra 511 no auge da bolha .com.
- Sentimento negativo: Índice da CNN segue em pessimismo extremo, longe de euforia especulativa.
- “Bolha” já virou consenso: 54% dos gestores do BofA dizem que IA é uma bolha — postura defensiva, não eufórica.
- AAII Bearish: Índice Bull/Bear segue negativo, indicando investidor cauteloso.
- Capex/PIB moderado: Capex de IA representa 1,3% do PIB, contra 6% (ferrovias) e 4% (eletricidade).
- Juros em queda: Cortes do Fed sustentam múltiplos, ao contrário de 2000–2001, quando vieram tarde demais.
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