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A crise de crédito impactará os fiagros?

17 mar 2023, 19:48 - atualizado em 17 mar 2023, 19:50
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Para se ter uma ideia, os Fiagros encerraram o ano de 2022 com um crescimento de 544%, atingindo um patrimônio de R$ 10,34 bilhões

O mercado de crédito desacelerou e vai deixar marcas na economia brasileira este ano. A inadimplência das empresas, pós-caso Americanas (AMER3), é uma das principais preocupações no momento.

Tal cenário, marcado pela elevada taxa de juros real, que dificulta a gestão do fluxo de caixa das empresas, leva a uma maior seletividade das instituições, tendo como consequência, a contração da oferta de crédito.

O alerta atinge a todos os segmentos econômicos e, no caso dos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros), as preocupações não são diferentes. Isto não significa que a indústria não continuará crescendo em larga escala como aconteceu nos últimos meses.

Para se ter uma ideia, os Fiagros encerraram o ano de 2022 com um crescimento de 544%, atingindo um patrimônio de R$ 10,34 bilhões. Em termos de captação líquida (diferença entre aportes e saques), o segmento obteve saldo positivo de R$ 3,2 bilhões em 2022.

A expectativa é de que os aportes continuem e os Fiagros dobrem de tamanho este ano. A diferença é que a gestão de risco ganhará mais peso na estratégia dos fundos, que ficarão mais criteriosos ao fazer o processo de avaliação dos ativos que comporão o portfólio.

Em qualquer cenário, o questionamento principal sempre é: qual o retorno alvo do ativo versus seu risco?

É claro que tais investimentos precisam ofertar um retorno alvo razoavelmente acima do CDI, pois a proposta é justamente que o financiador tome mais risco para direcionar determinado recurso.

Mas, não adianta apenas ampliar o spread e cobrar pelo risco, é preciso que ele seja razoavelmente controlado. E é aí que entra a expertise de análise do gestor, a qual se tornará ainda mais apurada.

Apesar de os Fiagros estarem focados em um setor mais resiliente a crises e que tem apresentado crescimento robusto nos últimos anos, não se pode generalizar que todas as empresas do agronegócio exibam baixo risco e conseguirão honrar seus compromissos no longo prazo.

A análise não pode ser, de modo algum, leviana. Pelo contrário, passa por um processo aprofundado que dura dias, semanas ou meses.

Quando o objetivo é adquirir o papel para compor a carteira e segurá-lo até o fim, o gestor precisa investir muito tempo, pois é o processo decisório que fará a diferença na rentabilidade e risco do fundo.

Enquanto o objetivo é dar um retorno acima do CDI no médio-longo prazo, é preciso observar o risco do emissor para que evitar que haja o aumento do risco da carteira.

Isso só é possível com uma profunda análise da capacidade de pagamento. E, mesmo que haja a confiança de que determinada companhia possa honrar seus compromissos, é preciso se preparar para o pior cenário e, no pior cenário, devemos estar cercado de boas garantias e, acima de tudo, garantias bem formalizadas.

O agronegócio é complexo e intensivo em capital. A necessidade de recursos deste segmento da economia é crescente, à medida que, a cada ano aumenta o volume de produção juntamente com a necessidade de mais tecnologia, sem esquecer da alta dos preços dos insumos.

Ao mesmo tempo, o volume de oferta de crédito bancário, não acompanham o movimento com a mesma intensidade. Cálculos do mercado demonstram que necessidade de financiamento privado do setor passou de R$ 400 bilhões para mais de R$ 700 bilhões em menos de dois anos.

Este movimento que envolve o crescimento do setor com maior busca de capital, ampliação do volume de financiamentos via mercado de capitais, aumento do interesse dos investidores, enfim, a sustentabilidade dos Fiagros, depende de uma política de riscos apurada de gestão de risco.

Com rentabilidade adequada, controle de riscos, transparência na tomada de decisões, os Fiagros assumem o protagonismo como alternativa de investimentos no movimento de diversificação das pessoas físicas e manter este papel depende da decisão do gestor.

Sócio e gestor da MAV Capital
Formado em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo, André Ito tem mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro. Além de sócio responsável pelo time de Structured Finance e DCM na XP Investimentos ele também atuou em Investment Banking no BTG Pactual e como superintendente comercial dos bancos Pine e Pan. Além disso foi sócio responsável pelo Corporate Desk do Banco BBM.
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Formado em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo, André Ito tem mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro. Além de sócio responsável pelo time de Structured Finance e DCM na XP Investimentos ele também atuou em Investment Banking no BTG Pactual e como superintendente comercial dos bancos Pine e Pan. Além disso foi sócio responsável pelo Corporate Desk do Banco BBM.
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