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A distopia de “1984” de George Orwell no mercado internacional de açúcar

12 abr 2022, 7:21 - atualizado em 12 abr 2022, 7:21
Açúcar
Assim como no romance “1984” de George Orwell o mercado de açúcar tem operado em um contexto de inversão de realidades, argumenta o colunista do Agro Times (Imagem: Reuters/Eric Gaillard)

O início do mês de abril foi um período marcante não apenas pelo começo da safra nova 2022/23 no Centro-Sul do Brasil, mas também pela formação de um cenário de preços em alta na bolsa de Nova York que destoa fortemente do cenário sazonal que se espera para os preços nesta época do ano.

Em um dos pregões da primeira semana de abril as cotações do atual driver maio/22 na bolsa de Nova York teve seu fechamento junto ao preço de US$/cents 19,84.

Este poderia ser um valor banal ou simplesmente aleatório do dia a dia das cotações não fosse a similaridade com o romance distópico “1984” do escritor britânico George Orwell.

Assim como no romance “1984” de George Orwell o mercado de açúcar tem operado em um contexto de inversão de realidades, ou inversão de cenários.

Exatamente no mês que começa a safra nova recuperada do maior produtor mundial da commodity, a principal bolsa referencial para os preços do açúcar atinge os maiores níveis de preços em meses, chegando a máxima de US$/cents 20,34.

Talvez o fechamento da quinta-feira, 07, para o driver maio/22 em US$/cents 19,84 seja muito mais que uma mensagem subliminar sobre o comportamento dos preços em Nova York de forma muito contraditória ao que seus fundamentos indicam.

Ficção e realidade

A inversão de valores em uma sociedade distópica futurista é o cenário base para o romance “1984” e pode, em parte, ser comparada ao cenário atual do açúcar em Nova York.

Quando se imaginaria uma alta tão expressiva nos preços internacionais de referência exatamente no momento em que a safra recuperada do maior produtor mundial da commodity tem seu início?

É claro que é um início muito lento quanto comparado não apenas com a safra anterior, mas também com o padrão médio de início de atividade das demais temporadas passadas.

Além disso as usinas com um mix de produção muito forte ao etanol, em sua ampla maioria nos 100%, tendem a ajudar no reforço a este cenário. Também podemos apontar a recuperação da demanda da Ásia que começa a levantar as suas medidas de restrição em alguns países como a Índia.

Outro ponto importante é a demanda do leste europeu que tem se mostrado forte com invasão russa da Ucrânia em uma guerra que não leva o nome de guerra, mas de “operação especial na Ucrânia”.

Temos aqui outra similaridade com a sociedade futurista de Orwell, na sua inversão de valores, ou de realidades, onde o “ministério da guerra” tem o nome exatamente oposto á sua função específica, sendo chamado de “ministério da paz”.

Muitas são as semelhanças com a sociedade distópica descrita por Orwell, entre elas as de um mercado em alta para o açúcar exatamente no momento em que a safra nova começa ano Centro-Sul.

No meio disto tudo, reforçando o cenário curioso de curto prazo, o petróleo em Londres recua abaixo dos US$ 100, com o seu vetor de baixa sendo amplamente ignorado pelo mercado de açúcar que até ontem trabalhava claramente alinhado aos movimentos do óleo bruto no mercado internacional.

Como a tensão no Leste Europeu afeta o mercado agro?

Head do setor de inteligência de mercado para Açúcar, Etanol e Petróleo da SAFRAS & Mercado. Atua há 15 anos no setor dentro do grupo CMA e da SAFRAS & Mercado.
Head do setor de inteligência de mercado para Açúcar, Etanol e Petróleo da SAFRAS & Mercado. Atua há 15 anos no setor dentro do grupo CMA e da SAFRAS & Mercado.
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