O desabafo de Campos Neto após Selic subir a 15%

O ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não se segurou e quebrou o silêncio após a autoridade monetária elevar os juros em 0,25 ponto percentual na noite da última quarta-feira. No patamar de 15%, trata-se da maior taxa em 20 anos.
“Eu poderia falar: ‘Viu? Me criticaram tanto e agora a taxa está maior’. Mas minha honestidade intelectual não me deixa embarcar nessa. Eu teria feito a mesma coisa”, disse ao blog da jornalista Andréia Sadi, do G1.
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De acordo com ele, a medida era necessária.
“Acho que o ganho de credibilidade frente ao custo monetário era claramente favorável a este último ajuste, dada a necessidade de reverter as expectativas desancoradas”.
Durante o seu mandato, que começou em 2019 e acabou no começo do ano, Campos Neto elevou a Selic de 2% para 13,75%, em um dos maiores ciclos de alta dos juros da história recente do Brasil.
Provocada pela pandemia da Covid-19, a autoridade foi obrigada a baixar a taxa para logo em seguida trazê-la para um patamar restritivo.
Após a eleição de 2022, virou alvo do presidente Lula, o que o acusava de ‘falar’ demais. O petista também criticava os juros elevados.
Em maio, o ex-BC foi contratado pelo Nubank para assumir a sua estrutura de liderança como vice-chairman.
Juros altos por muito tempo
A elevação da taxa Selic para 15% pelo Copom veio acompanhada de um sinal forte ao mercado: os juros vão continuar altos por mais tempo. A avaliação é do UBS BB, que destacou a inclusão da palavra “muito” no comunicado do Banco Central como um recado direto para conter apostas em cortes no curto prazo.
“Quando o Comitê fala em manter os juros por um período muito prolongado, está deixando claro que não quer ver cortes precificados ainda em 2025”, escreveu a equipe do UBS em relatório recente.
Para o banco, a decisão surpreendeu parte do mercado, que estava dividido entre a manutenção e uma alta de 25 pontos-base, com precificação de cerca de 65% de chance para a elevação.