Azul muda ticker para AZUL54 e desaba 49% na estreia na B3; oferta de ações gera diluição massiva
A Azul (AZUL54) deu mais um passo em seu processo de reestruturação com a oferta pública de distribuição primária de ações ordinárias e preferenciais. A captação de recursos para a conversão da dívida coloca a aérea mais perto da saída da recuperação judicial nos Estados Unidos (Chapter 11), prevista para o início de 2026.
A companhia converterá senior notes emitidas no exterior em participação acionária, conforme aprovado em seu plano de recuperação. Para viabilizar a troca da dívida, a Azul emitirá um volume massivo de papéis:
- Ações ordinárias: 723.861.340.715 papéis ao preço de R$ 0,00013527 cada.
- Ações preferenciais: 723.861.340.715 papéis ao preço de R$ 0,01014509 cada.
Com esses valores, o montante total da oferta atinge R$ 7,44 bilhões. Desse total, R$ 7,34 bilhões correspondem às ações preferenciais (AZUL4), enquanto R$ 97,9 milhões referem-se às ordinárias (AZUL3).
O processo implicou na mudança das negociações das ações sob o ticker AZUL4. A companhia adotou a partir desta terça-feira (23) o código AZUL54, que corresponde a um lote padrão de 10 mil ações.
Na bolsa, o papel ficou em leilão durante toda a manhã de estreia, com preço de tela de R$ 8.100. Vale destacar que o número representa justamente as 10 mil ações. Ao dividir o preço pelo lote, o valor unitário da ação está na casa dos centavos, valendo R$ 0,81.
Por volta de 12h30, as negociações tiveram início e com queda de 49%, cotadas a R$ 4.090,00, ou seja, valendo R$ 0,40 por unidade de ação.
No caso das ações ordinárias, que começarão a ser negociadas em janeiro de 2026 e terão o código AZUL53, o lote padrão é ainda maior, de 1 milhão de ações. Esses papéis são os que devem permanecer no pregão da B3, já que a companhia pretende converter toda a base acionária em ações ordinárias (leia mais abaixo).
O Bradesco BBI aponta que, dado o preço definido para conversão, é esperada grande diluição de patrimônio para os acionistas já existentes. A casa tem recomendação de Venda para a companhia aérea e preço-alvo de R$ 0,50 — o equivalente a R$ 5.000 em AZUL54.
Do lado da Azul, ao transformar credores em acionistas, a companhia reduz o endividamento em dólar e melhora sua estrutura de capital, condições essenciais para a sustentabilidade da operação após a saída do processo de proteção contra falência nos EUA.
A situação se assemelha com a realizada pela Gol também neste ano, quando implementou um plano de capitalização que envolveu a emissão de trilhões de ações com valores simbólicos.
Reestruturação da Azul (AZUL54)
No início de dezembro, a aérea recebeu a aprovação da Justiça dos Estados Unidos para o plano de recuperação judicial. O plano prevê justamente a conversão de grande parte da dívida pré-existente em ações e permite que a captação de recursos com a venda de novos papéis.
Alguns dias depois, o conselho de administração da Azul convocou uma assembleia geral extraordinária e uma assembleia especial em 12 de janeiro de 2026 para deliberar sobre o fim de suas ações preferenciais e transformar todo o capital da companhia em ações ordinárias, movimento que também faz parte do plano de recuperação judicial.
A proposta da companhia prevê que cada ação preferencial (AZUL4) seja convertida em 75 ações ordinárias (AZUL3). Segundo o comunicado ao mercado, a proporção foi estabelecida pela administração com base na relação econômica existente entre as ações preferenciais e as ações ordinárias.
Vale lembrar que a principal diferença entre os dois tipos é que a preferencial concede direito de preferência no recebimento de dividendos, enquanto a ordinária dá direito a voto em assembleias. Com a proposta, a Azul visa ter seu capital completamente composto por ações ordinárias.
Para que se concretize, a proposta precisa da aprovação de dois grupos, que deverão se posicionar nas assembleias marcadas para o mesmo dia. Aqueles que detêm ações preferenciais devem aprovar a conversão, enquanto os acionistas ordinários precisam confirmar a decisão.