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Ainda dá para confiar no bitcoin em meio à pandemia?

16 mar 2020, 9:12 - atualizado em 23 mar 2020, 20:51
Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) finalmente declarou o coronavírus (COVID-19) como uma pandemia. Pouco depois, todos os mercados financeiros globais despencaram. Bitcoin afundou para US$ 3,8 mil, caindo 40% em apenas um dia, refutando o status do bitcoin como um ativo de refúgio (Imagem: Crypto Times)

Conforme muitos países ao redor do mundo suspenderam suas aulas e seus funcionários foram para casa, a crise do coronavírus não se tornou apenas um desafio de assistência médica, mas também o desastre econômico.

No dia 12 de março, bitcoin caiu abaixo de US$ 4 mil, atingindo sua maior queda anual conforme investidores globais correram para sacar dinheiro em todos os mercados.

O bitcoin ainda é um ativo de refúgio?

Quando ações foram liquidadas em agosto de 2019, muitos comentaristas disseram que o bitcoin se tornou um ativo de refúgio com base na correlação negativa entre o preço do bitcoin e do índice S&P 500.

No entanto, desde o nascimento do bitcoin, o mercado não passou por uma verdadeira liquidação por conta de pânico como a que vimos na semana passada. A crise do coronavírus é o primeiro teste verdadeiro de se o bitcoin pode ser usado como uma rede de proteção. Até agora, a resposta é “não”.

Ativos de refúgio são usados por investidores para suportar as complicadas condições de mercado. Esses ativos possuem propriedades comuns que os tornam únicos: aumentam em valor quando o mercado acionário está volátil.

O preço do bitcoin é negativamente afetado pelo reflexo dos riscos de mercado. Assim, ainda não é um ativo de refúgio no qual investidores confiam durante a alta volatilidade dos mercados (Imagem: Freepik/studiogstock)

Títulos de tesouro são um exemplo de investimento de refúgio. Esses títulos são lastreados pelo crédito do governo e, assim, investir em títulos do tesouro é considerado uma das opções de investimento mais seguras do mundo.

Agora, vamos comparar o desempenho de tesouros e do bitcoin durante a crise do coronavírus. No dia 11 de março de 2020, tínhamos 48 dias de negociação no ano. O índice S&P teve queda em 24 dias. Fora esses 24 dias de queda do S&P, títulos do tesouro continuaram por 22 dias.

Isso significa que, quando as ações caíram, os títulos do tesouro dos EUA só tiveram 92% de chance de subir de preço conforme investidores fugiam por segurança. Em comparação, bitcoin só subiu 10 dias dos 24 dias de queda do S&P (42%).

Embora títulos do tesouro se beneficiem da volatilidade de mercado, o preço do bitcoin é negativamente afetado pelo reflexo dos riscos de mercado. Dessa perspectiva, o bitcoin ainda não é um ativo de refúgio no qual investidores confiam durante a alta volatilidade dos mercados.

O bitcoin tende a se beneficiar desses choques do lado da demanda e tem sido usado como proteção para economias mais fracas (Imagem: Freepik)

Por que o bitcoin foi liquidado dessa vez?

Dizer que a queda recente do bitcoin foi resultado da fuga para ativos mais seguros não é satisfatório. A pergunta verdadeira é por que a crise do coronavírus é diferente de outras correções que vimos até agora.

Muitos mercados de baixa que vimos desde 2008 foram direcionados por choques do lado da demanda. Estes afetam quanto dinheiro é gasto por consumidores.

Altas taxas de desemprego, créditos de alto risco ou tarifas crescentes significam que consumidores estão menos dispostos a gastar seu dinheiro. Para contrapor esses choques, governos tornam o dinheiro mais barato e disponível para todos com políticas monetárias e fiscais.

O bitcoin tende a se beneficiar desses choques do lado da demanda e tem sido usado como proteção para economias mais fracas.

No entanto, o coronavírus não é uma perturbação do lado da demanda. Demandas de consumidores ainda estão fortes. Na verdade, muitas estão se acumulando em seus carrinhos de mercado agora.

Mas o fornecimento de bens e materiais de consumidores entrou em queda por conta dos fechamentos de fábrica na China e, agora, em outros países. Com a interrupção do fornecimento, a produção total vai cair. Isso torna única a crise do coronavírus.

Até agora, vimos investidores retirando seu dinheiro do bitcoin como resposta.

Para combater um colapso e uma possível recessão, espera-se que o Federal Reserve corte taxas de juros (Imagem: Facebook/Board of Governors of the Federal Reserve System)

Cortes de taxas podem ajudar?

Quando o mercado está em tumulto, investidores esperam que o Federal Reserve salve o dia. O órgão tem algumas ferramentas utilizadas para estimular a economia. Uma delas é o corte de taxas. Ao fazê-lo, o Fed torna mais disponível o dinheiro e mais baratos os empréstimos.

Dinheiro fácil permite que consumidores gastem mais e empresas se expandam. No entanto, políticas monetárias não são eficazes contra choques do lado da demanda como o coronavírus.

Ter mais dinheiro não ajuda os consumidores a comprarem mais máscaras ou remédios quando não há fornecimento. Taxas de empréstimo mais baratas também não ajudam empresas que estão esperando por matéria-prima e peças.

É por isso que o corte de taxas teve pouco efeito na redução da volatilidade do mercado na semana passada.

Tanto o bitcoin como as ações foram liquidadas apesar do corte emergencial de taxas.

Conforme a crise do coronavírus continuou a aumentar, é provável que vejamos mais cortes de taxas do Fed e de bancos centrais ao redor do mundo. Infelizmente, a redução na taxa de juros vai ter pouco efeito para mitigar a volatilidade de mercado.

Com menor valoração, o bitcoin poderia se beneficiar do abarrotamento excessivo do mercado de títulos do tesouro e de ouro no futuro (Imagem: Freepik/drobotdean)

E agora? O que vai acontecer com o bitcoin?

Embora a propagação do coronavírus apresenta muitas incertezas, alguns fatores poderiam ajudar no apoio ao preço do bitcoin até a poeira baixar.

Primeiro, ativos de refúgio estão ficando extremamente caros.Agora, a curva inteira dos títulos de tesouro está abaixo de 1,5%, em que o rendimento em dez anos está em 0,77%. Se o mercado continuar a passar por volatilidade, ouro e títulos do tesouro vão ficar ainda mais caros.

Como consequência, investidores terão que buscar por ativos alternativos que são mais baratos. Com essa menor valoração, bitcoin poderia se beneficiar do abarrotamento excessivo do mercado de títulos do tesouro e de ouro no futuro.

Segundo, bitcoin prospera quando pessoas perdem a fé no mercado financeiro e nos bancos centrais. Nos próximos meses, é provável que vejamos mais cortes de taxas de bancos centrais em todo o mundo.

Se falharem em apresentar resultados, poderemos ver mais investidores movimentando seu dinheiro para moedas alternativas como o bitcoin.

Por fim, o halving do bitcoin está chegando. Se observarmos a relação histórica entre o preço e o halving do bitcoin, após cada halving, o bitcoin teve um impulsionamento de preço.

A crise atual impactou a tese otimista do halving a curto prazo, mas o iminente choque de fornecimento do bitcoin continua sendo um indicador positivo no desespero atual de mercado.

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