Petróleo

‘Ajudinha’ do petróleo para Haddad segurar preço de combustíveis tem dias contados

01 mar 2023, 19:48 - atualizado em 02 mar 2023, 11:20
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Petrobras teve margem para reduzir preços de acordo com PPI. Mas cenário dura? (Imagem: Pixabay/genephoto365)

Com vigência a partir de hoje, a reoneração do PIS/Confins sobre a gasolina continua dando o que falar. A medida, defendida com unhas e dentes por Fernando Haddad, visa recompor cerca de R$ 28,9 bilhões aos cofres do governo.

Para chegar ao resultado da reunião de ontem, o ministro da Fazenda teve de sobrepujar a ala política do governo, que defendia o adiamento dos tributos como forma de evitar uma crise prematura de popularidade, associada aos efeitos inflacionários de curto prazo da medida.

Como chegou a colocar o economista André Braz, da FGV-Ibre, a reincidência de R$ 0,47 do PIS/Cofins para o litro da gasolina seria capaz de elevar em 0,32 ponto-percentual o IPCA de março.

Restou à Petrobras (PETR4) dar a contribuição que a Fazenda precisava para fechar a conta da reoneração sem causar a insatisfação do consumidor. A estatal abaixou em R$ 0,13 o preço da gasolina e em R$ 0,08 o preço do diesel para as distribuidoras.

Isso só foi possível, contudo, porque a companhia contava com um ‘colchão’, isto é, uma diferença entre os preços praticados no mercado interno e no exterior. Assim, mesmo sem ferir o PPI (Preço de Paridade Internacional), a empresa pôde dar uma força a Haddad.

Pedro Rodrigues, sócio e analista do Centro Brasileiro de Infraesturura e Energia (CBIE), entende que a decisão da petroleira é correta, uma vez que “a defasagem de preços [com relação ao mercado internacional] permitia essa redução, especialmente, os R$ 0,13 da gasolina”.

Como a China pode atrapalhar Haddad

Faz três meses que os mercados internacionais de petróleo permanecem em um movimento lateralizado. O Brent, por exemplo, que é a referência utilizada pela Petrobras para estabelecer a sua política de preço, oscila em torno dos US$ 83-84 por barril.

O impasse sobre rumo dos mercados da commodity é resultado da disputa de duas forças antagônicas. De um lado, há a pressão de baixa causada por temores de uma recessão econômica, com implicações diretas para a demanda de combustíveis, à esteira do aumento dos juros na Europa e nos EUA; por outro, a tese ‘bullish’ que aposta em um novo ‘boom’ de preços sustentado pela reabertura econômica da China, o principal importador de energia do mundo.

Mas, para o ‘infortúnio’ do governo, esse vai-não-vai do petróleo que tem deixado os preço do barril no banho maria pode estar com dias contados.

De acordo com Rodrigues, os mercados deixaram claro que apenas aguardam sinais mais claros da reabertura da China para que os preços do petróleo voltem a subir com mais força. Também concorre para isso um ambiente mais restritivo do lado da oferta (queda de Capex de países produtores, cortes da Opep+ e guerra da Ucrânia).

Ainda segundo ele, os juros nas economias desenvolvidas já se encontram em patamares elevados, diminuindo a margem para manobras drásticas o suficiente para derrubar os mercados da commodity. Rodrigues entende ser pouco provável que se suceda um  choque de juros, como aquele havido na década de 1980 nos Estados Unidos, quando o ex-presidente do Federal Reserve Paul Volcker elevou os juros para a casa dos dois dígitos.

Assim, “o cenário que deve prevalecer é o de aceleração da demanda chinesa. E o preço do petróleo tende a subir com isso. Hoje já estamos vendo empresas trabalhando com preço na casa dos 100 dólares para o segundo semestre deste ano“, completa o sócio do CBIE.

A avaliação de Guimarães coaduna com a perspectiva montada pela própria Agência Internacional de Energia (IEA), que credita à China a capacidade de aumentar em quase 50% a demanda global por petróleo, mesmo se o tamanho e a velocidade de sua reabertura permanecem incertas.

Nesse sentido, dados de atividade econômica liberados hoje foram mais um passo em direção um reaquecimento robusto para o país. O índice de gerentes de compra (PMI, na sigla em inglês) da manufatura pulou para 52.6 pontos, o maior nível em uma década, sendo decisivo para o fechamento positivo do petróleo nesta quarta-feira.

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PPI na mira do governo

Nesse contexto, o temor que paira sobre os mercados é que a tolerância do governo Lula com o PPI dure somente até que a economia da China esquente para valer. E que a chegada do novo conselho de administração da empresa, em abril, possa ser utilizada como janela para revisão da política de preços.

Além do próprio presidente da República, o presidente da estatal Jean Paul-Prates e a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente do PT, já criticaram o atual modelo, que busca impor um equilíbrio de mercado entre o preço praticado fora e dentro do Brasil.

Em entrevista concedida anteriormente ao Money Times, Pedro Rodrigues já havia deixado sua crítica ao assédio de políticos do governo sobre o tema.

Segundo ele, “o PPI é a única política que funciona, porque o Brasil é um país importador de derivados. Formas de abrasileirar o preço, vendendo por região, ou via políticas governamentais devem gerar artificialidades nos mercados, podendo causar riscos de desabastecimento”.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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