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Alexsandro Nishimura: IPOs, Nubank e os novos investidores

30 nov 2021, 18:02 - atualizado em 30 nov 2021, 18:02
Quatro mãos, de pessoas de diferentes etnias, seguram um cartão no Nubank
Tempo de maturação: IPOs costumam trazer novos CPFs para a Bolsa, mas apenas ter um BDR do NuBank não transforma ninguém em investidor (Imagem: Divulgação)

2021 começou bem para as ofertas públicas de ações. Em uma primeira janela, 15 empresas estrearam na B3 nos primeiros 40 dias do ano, entre elas CSN Mineração, uma das operações mais aguardadas pelo mercado há anos, e Mosaico, que ganhou as manchetes com a alta “a lá Nasdaq”, de 97% no primeiro dia de negócios. A segunda janela se abriu em abril e maio, com 13 empresas e um pouco menos de holofotes, além de mais dificuldades na colocação das ofertas. O início do segundo semestre trouxe ofertas com maior destaque e volume de captação, como Smart Fit, Armac e Raízen. Em termos de desempenho, somente 9 dos 45 IPOs deste ano registram alta desde a estreia até o dia 29 de novembro. Por outro lado, há 11 ações que perderam mais da metade do seu preço inicial, com desvalorizações que chegam a quase 80%.

Com a piora do mercado nacional nos últimos meses, os IPOs foram inviabilizados, com empresas desistindo ou postergando as operações no aguardo de um momento mais apropriado. Mas uma oferta aguardada há muito tempo prosseguiu e ganhou, como esperado, a atenção dos investidores: falta pouco para o Nubank chegar na bolsa. Tudo bem que a listagem das ações em si é na Nasdaq, mas os investidores brasileiros também poderão participar através dos BDRs listados na B3.

O IPO do Nubank já era esperado há um tempo, com expectativa que foi amplificada pela extensa legião de “fãs” da fintech que desafia os grandes bancos desde 2013 e tem a “ousadia” de buscar uma precificação acima do que valem estes gigantes. Afinal, ter o cartão roxinho é fazer parte de um clubinho, principalmente da Geração Z, afinal:

  • Não paga tarifas;
  • Dinheiro na conta rende 100% do CDI;
  • Anitta faz parte do Conselho;
  • Warren Buffett investiu na empresa.

Entre outros fatores que o fã clube da fintech que está abrindo seu capital na Nasdaq pode listar até melhor. Este sucesso do Nubank obrigou os grandes bancos a correrem atrás para atrair o público jovem, com a criação de suas próprias plataformas online e tentando de alguma forma se desvincular da imagem carregada com este público, que normalmente apresenta certo desdém aos grandes bancos.

Mas o objetivo deste artigo não é tecer qualquer tipo de recomendação sobre o IPO, isto deixo para as casas de research e analistas que estão se debruçando sobre os números e projeções para chegar a uma conclusão sobre a entrada ou não na oferta. Gostaria aqui de trazer algumas das consequências que a oferta pública de ações do Nubank pode trazer para o mercado acionário brasileiro.

Grandes ofertas públicas costumam atrair um contingente de novos investidores. Foi assim com Bovespa, BM&F, Santander, BB Seguridade, Rede D’or e recentemente Raízen. Ao final de outubro, a B3 registrava mais de 4 milhões de contas de pessoas físicas em corretoras. Em termos de CPFs, havia 3,4 milhões de investidores, o que dá um aumento de aproximadamente 700 mil somente neste ano.

O programa NuSócio, no qual os clientes da fintech podem aderir e receber um BDR pode ajudar a dar um novo impulso à entrada da pessoa física na bolsa. Mas só receber um BDR e ter uma conta na corretora não necessariamente vai criar uma nova geração de investidores. É necessário educação financeira, um tempo de maturação para estes investidores conhecerem a bolsa e uma responsabilidade da parte de todos os agentes do mercado para que este público não entre em produtos inadequados ao seu perfil. Principalmente em um momento de turbulência e volatilidade como o que vivemos atualmente.

Isto me faz lembrar lá do meu início de carreira no mercado financeiro, quando a bolsa tinha pouco mais de 500 mil investidores. Os anos de 2007 e 2008 também eram promissores, novas empresas chegavam à bolsa e o Ibovespa registrava recordes, com ápice nos 71 mil pontos. Pois a crise do subprime chegou, os IPOs minguaram, não só em quantidade mas no valor das ações recém lançadas, e os investidores se machucaram fortemente. Foram necessários quase 10 anos para voltarmos a ver o número de pessoas físicas voltar a evoluir.

Outro segmento que deveremos ter evolução deve ser o de BDRs, que no ano passado já ganhou um grande impulso com a abertura para a pessoa física. Como a oferta está ocorrendo nos EUA, no Brasil os investidores estão recebendo estes certificados de ações que são negociadas lá fora. Logo, mais pessoas devem passar a conhecer este produto financeiro que dá a “oportunidade de você ser sócio de grandes empresas estrangeiras sem a necessidade de abrir conta no exterior”.

A oportunidade de investir em empresas como Apple, Google, Tesla, entre tantas outras do nosso cotidiano, é excelente. Mas o investidor precisa entender as diferenças entre ter um BDR e a própria ação. Mais do que isso, até mesmo para quem já investe em ações, entender que estas empresas possuem características diferentes das que são negociadas na B3, são expostas a uma conjuntura ainda mais complexa, pois costumam ser players globais, além de terem suas cotações por aqui também influenciadas pelo câmbio.

Agora, porque abrir capital em Nova York e não na B3?

Ter ações listadas nos EUA tem sido uma tendência e muitas empresas brasileiras estão se preparando para se inserirem no coração financeiro do mundo. Parece poético, mas é uma forma de dizer que a terá a possibilidade de buscar capital com um número maior de investidores, muitos deles estratégicos, além de reafirmar a internacionalização do negócio. É bom lembrar que a característica do negócio de uma fintech exige grande disponibilidade de recursos, normalmente operando por anos com desembolso de caixa. Um dos motivos do IPO acontecer nos EUA é pelo costume dos americanos investirem em empresas que ainda não dão lucro, mas provavelmente irão gerar no futuro sem uma garantia imediata.

Por fim, gostaria de trazer aqui alguns dados sobre os desempenhos de ações de empresas brasileiras que foram listadas nos últimos anos em Nova York. Algumas delas já têm BDRs negociados na B3 e possuem histórias interessantes neste curto período de relacionamento com o mercado. Pelo menos 10 empresas brasileiras abriram seu capital nos EUA desde 2018, com destaque para PagSeguro, Stone, XP Inc, Vinci Partners e Zenvia.

As três primeiras tiveram fortes altas no dia de estreia, enquanto as duas últimas tiveram quedas. Uma coisa em comum entre todas: hoje são negociadas a valores menores do que no IPO, algumas delas com fortes desvalorizações recentes, caso da Stone, que atingiu sua mínima histórica em 29 de novembro, refletindo a desconfiança de analistas e queda no lucro. Isto pode mostrar que um mercado mais amplo e desenvolvido traz benefícios, visibilidade, sabe esperar, mas também cobra resultados.

Vejamos como será a continuação da história do Nubank e a confirmação, ou não, de algumas das divagações aqui apresentadas, como a chegada de novos investidores na bolsa, descoberta dos BDRs e amadurecimento dos investidores brasileiros.

Alexsandro Nishimura é economista, Head de Conteúdo e sócio da BRA, escritório credenciado da XP Investimentos. É formado pela UFF e possui MBA em Finanças pelo IBMEC. É planejador financeiro certificado (CFP®️) e responsável pela produção e distribuição de conteúdo aos clientes da BRA. Atua no mercado financeiro desde 2005, dedicado à produção de conteúdo para investidores pessoa física. Iniciou carreira na área de consultoria, na Lopes Filho & Associados, onde atuou como analista de investimentos, montagem de carteiras recomendadas e análise de fundos de investimentos imobiliários. Foi Head de Conteúdo da MyCAP Investimentos, operação brasileira dedicada à pessoa física da maior corretora do mundo, a TP ICAP, em que era o responsável pelos departamentos de Research e Marketing.

Head de Conteúdo e Sócio da BRA
Head de Conteúdo e Sócio da BRA Economista, Head de Conteúdo e sócio da BRA, escritório credenciado da XP Investimentos. É formado pela UFF e possui MBA em Finanças pelo IBMEC. É planejador financeiro certificado (CFP®️) e responsável pela produção e distribuição de conteúdo aos clientes da BRA. Atua no mercado financeiro desde 2005, dedicado à produção de conteúdo para investidores pessoa física. Iniciou carreira na área de consultoria, na Lopes Filho & Associados, onde atuou como analista de investimentos, montagem de carteiras recomendadas e análise de fundos de investimentos imobiliários. Foi Head de Conteúdo da MyCAP Investimentos, operação brasileira dedicada à pessoa física da maior corretora do mundo, a TP ICAP, em que era o responsável pelos departamentos de Research e Marketing.
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